Por mais que haja ânimo em relação às vacinas e quanto aos efeitos dos planos de estímulo, inclusive o dos Estados Unidos, o mundo neste final de ano voltou a conviver com o receio da pandemia, não só do ponto de vista sanitário, mas também pelo impacto econômico de novas restrições de atividade. Restrições que estão valendo para a virada do ano, na tentativa de evitar o agravamento da situação, com a maior proximidade até das famílias nas comemorações, e, exatamente, por essa proximidade, poderão prosseguir no começo de 2021.
Apesar dos cenários mais otimistas, em termos de retomada, traçados para 2021, fica mais difícil se confirmarem num ambiente em que a economia tenha menos condições normalidade. No caso do Brasil, os desafios ficam maiores. Já está colocada a necessidade de um sério ajuste das finanças, para que o País não mergulhe em uma crise mais séria. Só que o agravamento da pandemia, as novas restrições, reforçam a necessidade de programas sociais, de alguma intervenção do governo, para minimizar, inclusive, os danos sociais dessa situação.
Dado o imenso desequilíbrio das contas públicas, o mais razoável seria acabar, simplesmente, com o auxílio emergencial, como está previsto. Só que apenas a redução do valor já fez com que sete milhões de brasileiros retornassem à pobreza.
Pesquisa da FGV Ibre mostra que o fim do benefício pode fazer com que um quarto da população passe a viver com menos de R$ 5,50 por dia. Com responsabilidade e entendimento político, poderia ser definida uma alternativa para essa situação que, certamente, terá impacto até sobre o potencial de reação da atividade.
Poderia haver, por exemplo, a ampliação dos beneficiários do Bolsa Família. Isso, desde que houvesse cortes de outros gastos, fontes de receita. Propostas nesse sentido já estão em discussão no Congresso. Mas como contar com a viabilidade, se Legislativo e Executivo não se entendem, sequer, para aprovar o orçamento do próximo ano?
O fato é que pandemia, fim do auxílio, novas restrições de atividade e falta de entendimento político podem atrapalhar bastante a trajetória de retomada prevista para 2021.
Nos últimos dias se viu uma mobilização maior e iniciativas no sentido de agilizar as vacinações, apesar das falas do presidente quanto ao jacaré e da falta de pressa.
A equipe econômica sabe da importância de acelerar as vacinas para caminharmos para a normalidade. Guedes e Campos Neto deixaram isso muito claro. Agora é esperar que aconteça. Paralelamente, seguimos com problemas, com os quais estamos mais acostumados, como o desequilíbrio fiscal, baixo nível de investimentos, necessidade de avançar com as reformas, reduzir o custo Brasil, a burocracia, cuidar melhor do meio ambiente, das relações externas, da competitividade. O imponderável é a pandemia. Quando perde força ou pode ser melhor controlada, já vimos que o mercado respira melhor, vem dinheiro de fora, diminui a aversão ao risco, aumenta a confiança do consumidor, dos empresários, a economia reage.
A pandemia, enfim, pode impor ou ser a desculpa para desvios na rota de ajustes que esperamos para o próximo ano. E é com essa ameaça que continuamos convivendo. Mas que todas as dificuldades não atrapalhem os bons pensamentos e sentimentos deste final de ano. A resiliência também impulsiona.
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