O Grupo Ultra (UGPA3), controladora de empresas líderes no setor petroquímico, Ultragaz, Ipiranga e Oxiteno vem trocando a forte expansão pelo ganho de eficiência, se preparando para o cenário de maior competitividade no setor de distribuição de combustíveis. A marca Ipiranga atualmente detém cerca de 7,1 mil postos embandeirados, sendo uma das 3 maiores distribuidoras de combustíveis do país, ao lado de Raízen, controlada pela Cosan (CSAN3) atuando com as bandeiras Shell e BR Distribuidora (BRDT3).
A Ipiranga, o principal ativo do Grupo, responsável por mais de 80 por cento da receita líquida, vem reduzindo seu orçamento de investimentos desde 2017, porém o presidente da empresa, Marcelo Araújo, afirmou que os investimentos estão mais seletivos e focados em infraestrutura, o que gerará maior eficiência na operação e deve atingir uma economia nas despesas anuais de cerca de 150 milhões a 200 milhões em até 3 anos.
Neste ano de 2020, a Ipiranga previa um orçamento de investimentos de 837 milhões de reais, porém com os efeitos da pandemia, fortemente sentidos pela empresa, esse montante foi reduzido em cerca de 30 por cento.
O presidente, no entanto, garante que a parcela prevista para a infraestrutura, com visão de longo prazo, está mantida e é prioridade no momento, de modo a manter e melhorar a competitividade da empresa no mercado.
Acreditamos que a notícia tem um impacto neutro no preço das ações (UGPA3) no curto prazo. Porém, o Grupo Ultra vem buscando uma mudança em seu modelo de atuação, especialmente no seu segmento mais importante (Ipiranga), de modo a acertar o curso do “transatlântico”, que entregou retornos consistentes por muitos anos, mas que vem sofrendo com queda de rentabilidade e fechamento de postos.
A receita líquida segue firme, com queda significativa neste ano pelo efeito do isolamento, porém as margens vem sofrendo desde a mudança na política de preços da Petrobras nas refinarias em 2017, praticando preços flutuantes com variações diárias, acompanhando movimentos do mercado e respeitando a rentabilidade das refinarias.
O modelo operacional da Ipiranga, muito lucrativo nos períodos de controle e estabilidade de preços dos combustíveis, não foi capaz de se adaptar rapidamente aos preços flutuantes, corroendo as margens por muitos meses. As margens Ebitda (métrica de geração de caixa operacional), medido em relação ao volume vendido (metro cúbico), caíram de 130 reais por metro cúbico no período antes da nova política de preços no refino, para cerca de 87 reais por metro cúbico em 2018.
O valor de mercado do Grupo Ultra (UGPA3) também sofreu na mesma toada saindo de 43 bilhões de reais em junho de 2017 (máximo histórico) para 20 bilhões de reais em junho de 2020. Atualmente a empresa negocia na bolsa valendo cerca de 25 bilhões de reais, uma recuperação natural após o pior período do ano, devido à pandemia, ter ficado para trás.
Apesar dos percalços dos últimos anos, o céu parece começar a clarear para o Grupo Ultra, com a possibilidade de abertura de mercado com o fim do monopólio nas refinaria de combustível da Petrobras, dando melhor perspectiva de preços para as grandes distribuidoras. Além disso, no mês passado, o Pátria, gestora experiente no segmento de private equity, adquiriu parcela de participação relevante, sendo incluído no acordo de acionistas, dando um fôlego importante na gestão nessa busca pela eficiência.
No médio e longo prazo o Grupo Ultra pode vir a recuperar parte ou até totalmente a rentabilidade anterior, mas ainda há muita lição de casa para cumprir. As ações UGPA3 acumulam queda de 8,79 por cento contra 13,81 por cento de queda do Ibovespa.
O principal catalisador das ações do Grupo Ultra é a recuperação da eficiência operacional e aumento de margens.
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