Nesta última semana, foram divulgados dois relatórios relevantes para a política e economia brasileiras: a primeira pesquisa de opinião de 2020, realizada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) em parceria com a MDA Pesquisas, e os resultados de 2019 do Índice de Percepção da Corrupção, calculado pela ONG Transparência Internacional. Na coluna de hoje, vou comentar os resultados de ambos os relatórios com enfoque na avaliação do governo e, também, no hiato de percepções sobre o combate à corrupção.
Sobe a avaliação positiva do governo
A rodada de número 145 da pesquisa CNT/MDA trouxe boas notícias ao Planalto. A avaliação de governo do presidente Bolsonaro reverteu a tendência de queda apresentada nos últimos dois relatórios e melhorou neste janeiro de 2020. Segundo 35% dos entrevistados, a avaliação é positiva (ótimo + bom). Para 32% dos entrevistados, o governo é regular. Para 31% do grupo, a avaliação é negativa (ruim + péssimo).
No gráfico abaixo, divulgado pela CNT/MDA, percebe-se que a avaliação negativa diminuiu em relevantes oito pontos percentuais. Na outra ponta, a avaliação positiva subiu 6 pontos percentuais. Nesta esteira, o governo atual abre caminho para se equiparar às avaliações do governo Dilma I – quando a economia ainda segurava, ainda que artificialmente, a popularidade de seu mandato.
Fenômeno semelhante ocorreu na avaliação do desempenho pessoal do presidente, revertendo o cenário de reprovação (em agosto de 2019, 54% desaprovavam e 41% aprovavam sua performance) para de equilíbrio entre aprovação (48%) e reprovação (47%). O que explica a melhora do cenário atual nas duas frentes, de acordo com outras questões da mesma pesquisa, é a economia mais forte no segundo semestre de 2019. As expectativas com relação ao emprego e à renda mensal aumentaram, respectivamente, 6,6% e 6,0% quando comparadas à última pesquisa de opinião.
Com relação aos governos anteriores, a percepção dos entrevistados sobre a economia também é majoritariamente positiva. Enquanto 37,8% afirma que a economia continua na mesma página que governos passados, 34,1% acredita que ela melhorou. Somente 25,8% acredita que houve uma piora. Ainda, quando olhamos para os motivos pelos quais os entrevistados consideram que o país melhorou sob o mandato de Bolsonaro, a economia e o combate à corrupção se destacam – observe abaixo.
Corrupção diminuiu?
É interesse notar que praticamente metade dos entrevistados entende que a corrupção diminuiu com o advento do governo Bolsonaro. Contribui para isso, evidentemente, a presença de um ministro como Sérgio Moro – um dos grandes símbolos da luta contra a corrupção no país.
Quando analisamos, porém, os resultados do Índice de Percepção da Corrupção de 2019, o que se constata é que o Brasil continua estagnado na mesma posição de 2018. De 0 a 100, onde 0 se aplica a um país altamente corrupto e 100 a um país altamente íntegro, nosso país pontua os mesmos 35 pontos dos últimos dois anos.
Com a pontuação acima, ficamos na posição 106a – de 180 países –, igualando-nos à Argélia, Albânia, Costa do Marfim, Macedônia, Mongólia e ao Egito. O que o relatório traz, inclusive, é que a grande maioria dos países mostraram nenhuma ou pouca melhora no combate à corrupção – e o Brasil, apesar da percepção dos entrevistados da pesquisa CNT/MDA, encontra-se neste grupo.
Segundo a ONG, apenas 22 países mostraram melhoria significativa em suas posições nos últimos oito anos. Quando falamos do Brasil, sabe-se que a corrupção ainda é um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento econômico e social. Entretanto, o que o relatório pontua é que, em 2019, houve diversos retrocessos na agenda de combate à corrupção – citando, por exemplo, uma liminar do STF que prejudicou as investigações contra a lavagem de dinheiro.
Até mesmo países que lideram o IPC têm experimentado escândalos recentes de corrupção: a Islândia e a Suécia tiveram casos de empresas usando do suborno para atingir seus objetivos e o Canadá teve sua nota comprometida em função de um escândalo envolvendo propinas no setor de construção civil. Em outras palavras, não existe nenhum país no mundo que esteja 100% imune à corrupção.
Sinais trocados
Mesmo com a estagnação do Brasil no ranking, a percepção dos eleitores é de que a corrupção vem diminuindo. Há, portanto, um certo conflito de dados – nesse caso, fico do lado Transparência Internacional, que tem uma metodologia para justificar suas conclusões. É compreensível, contudo, que a população brasileira sinta que a corrupção vem diminuindo. Isso se dá por alguns motivos: o presidente eleito levanta fortemente a bandeira anticorrupção, o governo retrasado ficou marcado por uma série de escândalos e um dos principais juízes presentes na Operação Lava Jato é, hoje, parte da equipe ministerial.
Sendo realista, sabe-se que ainda há muito a se fazer nessa área, assim como na economia. E se a percepção de corrupção no Estado não diminuiu, pelo menos a economia começou a responder de modo mais robusto no fim de 2019. Nessa onda, o governo foi melhor avaliado – provando, mais uma vez, que o bolso dos cidadãos é extremamente sensível.
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