Política sem Aspas, por Felipe Berenguer

Coronavírus e popularidade: o mandato Bolsonaro sob perspectiva (pt. 1) | Política sem Aspas

O artigo de hoje é fruto do que parece um momento de inflexão na estratégia de governo com relação à Covid-19. Com mais da metade do mandato já completo, Jair Bolsonaro já vai se posicionando para iniciar a corrida eleitoral de 2022, em busca da reeleição. Como já comentamos em outras ocasiões, a recente elegibilidade do ex-presidente Lula, após decisões do Supremo Tribunal Federal, acabaram por antecipar tal processo – mexendo substancialmente no xadrez político brasileiro.

Também contribuiu para a adoção de uma nova estratégia o recrudescimento da pandemia no País, com sucessivos recordes de mortes e casos diários de Covid-19 e uma média móvel de 7 dias alcançando a casa das 2.500 mortes por dia (referência mais recente). Nesta semana, atingimos 300.000 mortos pelo coronavírus desde o início da crise. Dessa forma, aumentou consideravelmente a pressão por mudanças, exercida pelos outros Poderes e entes federativos.

Antes de iniciar, gostaria de trazer algumas premissas necessárias à compreensão do texto – sem elas, a nossa análise perde sentido do ponto de vista epistemológico. É inegável tratar a Covid-19 como a maior crise sanitária do século XXI e uma das maiores da história da humanidade, assim como não é nenhum exagero tratar suas implicações para a política, a economia e gestão pública como um dos maiores desafios enfrentados por governos e seus líderes nesses 21 anos.

Na mesma esteira, o que se observa é que a maneira mais eficaz de combater o vírus, até o momento, é a imunização em massa de nações. Não existe outro método comprovado, que combata a Covid-19 e faça com que os casos e mortes decorrentes da doença diminuam, que não as diferentes vacinas testadas e aprovadas pelos respectivos órgãos de saúde de cada país.

Para não tornar a leitura extensa e cansativa, resolvi por dividir esse artigo em duas partes, a primeira sendo enviada neste sábado (26/03), com enfoque maior na coletânea de dados e outras informações quantitativas sobre a Covid-19 no Brasil, que servirão de base para a segunda coluna – essa, a ser enviada no próximo sábado (03/04) –, de caráter mais analítico e prospectivo, tangenciando o cenário eleitoral de 2022 e a avaliação atual do governo Bolsonaro.

Os números da Covid-19

Após avanços surpreendentes no campo da pesquisa científica e muito esforço em escala global, foi possível chegar a fórmulas eficazes de imunizantes contra a Covid-19. Diversos laboratórios viraram o ano em fase final, alguns já tendo concluído, de testes e passaram a disponibilizar vacinas para os governos.

Nesse contexto, o governo federal – apesar de, atualmente, negar – se mostrou relutante na compra de vacinas em 2020 e o Brasil ficou no final da fila de aquisição de doses, prejudicando o início do combate mais efusivo ao vírus. Há diversos relatos – da própria boca do presidentematérias divulgadas na imprensa – que comprovam que o Brasil, um país referência em vacinação, iniciou a aplicação dos imunizantes de maneira tardia.

Não obstante, somos, de fato, o quinto país que aplicou mais doses em termos absolutos, ficando atrás apenas dos EUA, da China, da Índia e do Reino Unido. O gráfico abaixo reúne os 10 países que mais aplicaram doses de qualquer vacina disponível – o Brasil fica embolado com outros países na faixa das 15 a 20 milhões de doses, bem distante do líder em vacinação, Estados Unidos, que já aplicou mais de 130 milhões de doses.

Levante Ideias - Países que mais Vacinaram

Em termos relativos, contudo, nosso desempenho fica aquém do esperado – levando em consideração o histórico de vacinação positivo e a capilaridade do Sistema Único de Saúde brasileiro, único sistema unificado em países com mais de 200 milhões de habitantes.

Levante Ideias - Vacinação em termos absolutos

Realizando uma rápida pesquisa, percebe-se que a) dos 10 países que mais vacinaram no mundo, atualmente, o Brasil é o penúltimo país que começou mais tardiamente a aplicação dos imunizantes, ficando atrás apenas da Indonésia (ver tabela acima). Em termos de percentual da população total vacinada, o Brasil aplicou doses equivalentes a somente 7,79% dos cerca de 212 milhões de habitantes, levemente acima da média mundial (6,47%), mas distante de países como Israel, Chile, Reino Unido, Estados Unidos, entre outros líderes na aplicação de doses na comparação relativa.

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Segundo estudo elaborado pelo doutor em economia e professor do Insper, Thomas Conti, o Brasil estaria somente na 45ª posição (ver gráfico abaixo) no ranking mundial de aplicações de vacinas por 100 habitantes, com 6,4 doses.

Levante Ideias - Ranking Mundial de Vacinação

Obviamente, há de se considerar o contexto no qual o Brasil se insere para interpretar o desempenho com relação aos imunizantes. Tendo em vista que, hoje, apesar das perspectivas de melhora para 2021, a pandemia no Brasil, hoje, está em um patamar alarmante. Segundo os dados mais recentes, a atual média móvel de 7 dias de óbitos é mais que o dobro do pico observado no primeiro semestre de 2020 (ver gráfico abaixo). O recorde de óbitos foi registrado na terça (23), com 3.251 mortes decorrentes de Covid-19.

Levante Ideias - Óbitos por dia

Além disso, foi nesta semana também que o Brasil registrou pela primeira vez o maior recorde diário de novos casos detectados, passando de 100.000 em somente um dia. Das 27 unidades federativas, 20 têm apresentado alta na média móvel de casos em relação à média móvel registrada há duas semanas, enquanto 5 estão estáveis e apenas duas (Amazonas e Roraima) reportam decréscimo – os dados são do Consórcio Nacional de Secretários de Saúde (CONASS).

O recrudescimento da pandemia torna-se um desafio ainda maior quando olhamos para os dados divulgados pelo Observatório Covid-19, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). De acordo com o boletim mais recente (23/03), a taxa de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos está em níveis dramáticos, no que se configura como o pior momento para o sistema de saúde público e privado desde o início da pandemia. Das 27 Unidades Federativas (UFs), apenas Amazonas e Roraima não estão em estado crítico, com, respectivamente, 79% e 64% dos leitos ocupados. Na outra ponta, o Mato Grosso do Sul tem 106% dos leitos disponíveis ocupados (indicando o uso de leitos não habilitados para a Covid-19 na tentativa de acolher a demanda imposta), Roraima atingiu seu limite (100%) e outras 10 UFs têm taxas entre 95% e 99% de ocupação.

No gráfico abaixo, é possível observar a evolução da ocupação de leitos no Brasil desde que a Fiocruz se propôs a compilar os dados referentes ao sistema de saúde e unificá-los. A conjuntura seria outra se o ritmo de vacinação estivesse nos atuais patamares e a situação do sistema de saúde próxima aos níveis de outubro de 2020. No entanto, diante de todos os dados aqui já evidenciados, ele fica aquém do exigido, sendo insuficiente para mitigar a média móvel de 2.500 mortes diárias que deve se manter, pelo menos, na primeira quinzena de abril.

Levante Ideias - Ocupação de Leitos

Se levarmos em conta a possibilidade de atrasos no cronograma de entrega de vacinas ao País, como ocorreu na entrega da primeira dose advinda do acordo com a Covax Facility, há risco do ritmo de vacinação não avançar, em um momento em que tal movimento é urgente. O ministério da Saúde divulga que já distribuiu mais de 32 milhões de vacinas para estados e municípios, mas apenas 16 milhões de doses foram aplicadas.

Levante Ideias - Ritmo de Vacinação no Brasil

De acordo com o estudo elaborado pela equipe de Estratégia Macro da XP Investimentos (ver gráfico acima), há um conjunto de 33 milhões de brasileiros que são idosos (acima de 60 anos) e/ou são profissionais da saúde. No atual ritmo – cenário pessimista, segundo os autores – essa população prioritária só seria completamente imunizada em meados de agosto de 2021. Caso o governo consiga dobrar o atual ritmo de doses aplicadas diariamente, a previsão de vacinação da totalidade deste grupo é reduzida para o início de junho. A título de comparação, o governo dos EUA pretende imunizar todos os cidadãos americanos com mais de 16 anos até o dia da Independência (4 de julho).

Não é possível prever como serão as próximas semanas em termos de novos óbitos e novos casos, mas a situação é limítrofe. Todas as medidas tomadas por governadores e prefeitos visam reduzir os atuais números da Covid-19, na esperança de ganhar mais tempo enquanto os imunizantes vão sendo distribuídos ao redor do País.

O governo federal, como argumentamos, agiu tarde, mas finalmente parece mudar o direcionamento quanto ao combate do vírus. Nesse ínterim, entre certas negligências e muitas mortes, perdeu-se a oportunidade – inclusive, política – de dar um exemplo de gestão pública e sanitária. Agora, o gerenciamento de riscos entra em ação, até porque cada vez mais se aproxima a eleição presidencial de 2022 – e quanto mais presente estiver o coronavírus na vida dos brasileiros, maior será seu peso sobre a preferência do eleitorado. Na continuação deste artigo, no próximo sábado, vamos entender como a pandemia afetou a popularidade do presidente e o que ainda pode mudar daqui para frente.

Quer aprofundar mais seus conhecimentos em assuntos como mercado e política? Então leia minha última coluna: Os efeitos políticos da elegibilidade de Lula | Política sem Aspas.

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