Com a entrada da reta final da corrida presidencial, devido ao registro de candidaturas e definição de alianças e chapas, cada vez mais se fala nas chances de segundo turno que cada candidato tem. Até agora, o cenário é mais favorável para Jair Bolsonaro, e a segunda vaga ficaria entre Marina, Alckmin e um possível candidato do PT. No entanto, hoje quero falar sobre um candidato forte demais para ser considerado nanico, mas não o suficiente para alcançar a Presidência da República. Álvaro Dias, do Podemos, tem incomodado muita gente de outros partidos, seja pelo “furto” de votos ou pelos seus contundentes ataques ao modus operandi de seus concorrentes.
O currículo de Álvaro
Com extensa carreira política, sendo deputado estadual, federal e governador no Estado do Paraná, Dias exerce seu quarto mandato consecutivo no Senado e tem o ambicioso projeto de ser presidente do Brasil. Seu desempenho nas pesquisas no último ano varia de 2 a 5% das intenções de voto, puxado sempre pela região do Sul do país, cuja intenção de votos chega a 12% em algumas enquetes.
O senador tem como principal mote “refundar a República em apenas 100 dias”, reduzindo o Estado, cortando ministérios e cargos comissionados, diminuindo número de partidos, deputados e senadores. Também pretende reformar o sistema federativo e tributário, além da Previdência. Vende-se como o candidato da mudança, da ruptura com a política tradicional da qual estamos todos esgotados. É música para os ouvidos de qualquer cidadão minimamente preocupado com política.
Confie no que o político faz, não no que ele fala
Assisti a algumas entrevistas com o candidato. Ele é coerente em partes de seu discurso e foi bastante ativo como parlamentar – respeitando a máxima de que não se pode confiar no que um político fala, mas sim no que ele faz. Quando incoerências são apontadas, Álvaro Dias sempre tem uma explicação, como o porquê do voto contra à reforma trabalhista, “em protesto ao governo”.
Confesso que ele não me convenceu, pelo contrário. Dias, como político experiente e nato, está surfando na onda do anti-establishment, mas na verdade está longe de ser, em suas palavras, “o mais velho contestador da velha política e desse sistema”. No Ranking dos Políticos, que mede a atuação de senadores e deputados federais, o senador está no 220º lugar. Não dá para criticar os professores se o dever de casa não foi feito.
Suas ideias são interessantes, mas não parecem ter viabilidade. O candidato desfere críticas ao presidencialismo de coalizão, mas carece de propostas detalhadas para combatê-lo, caindo no demagogo discurso de que o povo irá apoiá-lo nas mudanças necessárias, forçando o Congresso a aceitar a revolução política vinda das ruas. É muita ingenuidade (ou oportunismo) para quem já está na política há quase 30 anos e sabe que Brasília é geograficamente e politicamente blindada na maioria dos acontecimentos.
Com relação a temas mais ideológicos, Álvaro é uma mistura de conservadorismo com “em-cima-do-murismo”. É contra a descriminalização das drogas, a favor das leis atuais sobre aborto e também favorável à revogação do Estatuto do Desarmamento.
O velho disfarçado de novo
Em outras palavras, Álvaro é completamente alinhado com o que a maioria da população brasileira quer. Para alguns, isso pode parecer um casamento perfeito. Para mim, só reforça a tese de que o político é o velho disfarçado de novo. Suas 7 mudanças de partido – apesar do candidato negar – cheiram a fisiologismo. Era contrário ao Programa Bolsa Família, agora defende o projeto. Votou a favor da PEC do teto de gastos e, agora que o tiro saiu pela culatra, fala em revisá-lo para 2019.
Por conta da falta de confiança em Dias, a conclusão é de que valeria mais a pena apostar num outsider real, com ideias frescas de verdade. Como nessas eleições não existe tal opção, é mais seguro escolher o reformista tradicional. Pode até ser da política tradicional, mas traz à mesa propostas sólidas e que tenham viabilidade política. Podem me chamar de pragmático, mas é dado: mais vale um pássaro na mão do que dois voando.