No mundo dos investimentos, um conceito muito importante é deixado de lado por muitas vezes: a relação entre risco e retorno e como isso influencia e muito na vida dos investidores. Você quer saber como ganhar dinheiro? Então esteja preparado para correr mais risco.
Mas afinal, o que é risco?
Como diria Albert Einstein, “tudo é relativo” e cada investidor possui um perfil ao investir o seu dinheiro. Uns têm pavor de arriscar e perder, outros adoram a adrenalina de sofrer com o sobe e desce dos mercados.
Existem pessoas que gostam de pimenta na comida. Os mexicanos gostam tanto que colocam pimenta até no cafezinho (é brincadeira, mas poderia ser verdade). Por outro lado, há pessoas que não têm pimenta em casa porque não apreciam. Na vida, nem tudo é extremo, “preto ou branco”: existem mais do que 50 tons de cinza.
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O ponto de partida de qualquer análise sobre o desempenho de um portfólio de investimentos sempre foi o retorno do ativo em determinado período. Acreditamos que essa informação isolada é incompleta, pois não considera a volatilidade do retorno. Mas o que é volatilidade? É uma medida de dispersão de retorno, que analisa o grau de risco.
O termo volatilidade pode assustar o investidor no mundo real. Nosso objetivo é deixar o entendimento mais simples ao traduzir os termos técnicos. Antes de explicar mais sobre a relação entre risco, retorno e volatilidade, pretendo contar uma pequena história.
Minha família é do interior de São Paulo e o meu avô criou os seus 14 filhos na “roça”. Lá na fazenda, a vida é muito mais simples e o tempo parece que passa mais devagar. É um lugar excelente para colocar os pensamentos em ordem.
Tem um ditado popular que eu gosto muito que diz o seguinte: “Passarinho que acompanha morcego acorda de cabeça para baixo”. Esse ditado é o início da explicação da relação entre risco e retorno.
O passarinho acordar de cabeça para baixo é um comportamento que não é natural e esperado, mas, ao andar com o morcego, o “desvio” de comportamento do passarinho acaba sendo maior.
É possível ganhar dinheiro correndo pouco risco?
Segundo a moderna teoria de finanças, não existe alto retorno com risco baixo. Assim, para aumentar o nível de retorno de um portfólio, é preciso sempre também aumentar o risco. Em outras palavras, todos sempre buscam o “bom, bonito e barato”, ou seja, alto retorno com baixo risco. Mas isso não existe.
“Não existe almoço de graça”.
E como podemos definir o que é volatilidade? Como eu disse antes, é uma medida de dispersão dos retornos de um ativo financeiro. Quanto mais o preço de uma ação varia em um período curto de tempo, maior o risco de se ganhar ou perder dinheiro negociando esta ação. Quanto mais volatilidade, maior será o nível de risco.
O que é volatilidade e como ela afeta os rendimentos?
Para facilitar o entendimento sobre volatilidade, irei analisar o comportamento das temperaturas médias, máximas e mínimos do inverno no mês de julho de 2017, medidas pelo Instituto de Meteorologia nas cidades brasileiras de Curitiba e Porto Alegre. Pelos gráficos abaixo, podemos perceber que a dispersão das temperaturas é muito maior em Porto Alegre do que em Curitiba.
Na média, a temperatura foi de aproximadamente 13 graus em Porto Alegre em julho, com máximas de até 30 graus e mínimas de abaixo dos 5 graus. Nesse caso, a amplitude (diferença entre a máxima e mínima) chegou a 25 graus de temperatura.
No caso de Curitiba, a dispersão foi muito menor, com temperatura média por volta dos mesmos 13 graus que Porto Alegre, entretanto, com máximas de até 25 graus e mínimas por volta de 7 graus durante o mês. Nesse caso, a amplitude da variação de temperatura observada em Curitiba foi de 18 graus, comparado à 25 graus em Porto Alegre.
Na prática, se um viajante estivesse arrumando as malas para passar um final de semana em Porto Alegre, teria que levar roupas de inverno (como casacos pesados) e roupas de verão, pois a temperatura poderia chegar a 30 ºC!
Isso é o que eu chamo de ter o pé na geladeira e a cabeça no forno.
No mundo dos investimentos, é sempre muito importante saber da volatilidade dos retornos dos ativos financeiros, ou seja, saber qual roupa levar na mala antes de viajar e não ser surpreendido pela variação climática.
Como a volatilidade influencia os ativos?
Voltando ao mundo dos investimentos, irei analisar agora informações reais de retorno e volatilidade de cinco classes de ativos diferentes representados pelos seguintes ativos:
- fundo referenciado DI
- renda fixa pré-fixada
- renda fixa inflação
- fundo multimercado
- ações (Ibovespa)
(Utilizei as informações com a data base 04/04/2018)
Apresento abaixo a média de retorno por ativo e o seu respectivo desvio padrão, bem como a dispersão de cada retorno por classe de ativo. Quanto maior for o desvio padrão do retorno do ativo, maior o risco da aplicação. Assim, para se obter um retorno maior, é preciso correr mais risco.
A falácia do alto retorno com baixo risco e como ganhar dinheiro com isso?
A principal conclusão desse artigo é: desconfie quando um gerente de banco te oferecer uma aplicação financeira com alto retorno e baixo risco. Lembre-se que não existe almoço de graça!
Cada investidor tem um perfil de risco, um momento de vida e um objetivo de longo prazo. Dessa forma, a escolha do investidor por classe de ativo, com sua respectiva relação risco x retorno, tem implicação direta no rendimento esperado da carteira.
Uma carteira muito concentrada no DI implicará em baixo retorno (8,3% ao ano), mas com risco muito baixo (desvio padrão de apenas 0,1%). O que isso significa? No pior cenário, o retorno é de 8,1% e, no melhor cenário, de 8,4%. Naquele exemplo do clima, seria como arrumar a mala para viajar a Curitiba, sem surpresas.
Por outro lado, uma carteira de investimento muito concentrada em ações (Ibovespa) mostrou um alto retorno (33%), mas com alto risco, pois o desvio padrão é de 19%. Ou seja, o pior cenário é de retorno de 14% e o melhor, de 52% ao ano. No nosso exemplo, seria como a temperatura no inverno em Porto Alegre: um calor forte de 30 graus ou um frio de 13 graus.
Como diria o povo lá da roça: o retorno do investimento em ações pode ir de “carne de porco à sorvete”, uma variação um pouco extrema. Por esse motivo, recomendo sempre a diversificação de ativos, mitigando o risco de acordo com o perfil de cada investidor e horizonte de tempo.
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Ao ter tudo isso em mente, é possível arrumar a mala e viajar tranquilo, já que você sabe o que vai encontrar. Agora que você sabe como ganhar dinheiro, tenha sempre em vista que os riscos fazem parte do mundo de investimentos. Gostou do artigo? Compartilhe nas redes sociais e ajude a tirar as dúvidas de outras pessoas.