Se tem um assunto que ficou em voga nos últimos meses foi o tal do peer-to-peer lending, ou apenas P2P. Já ouviu falar sobre isso?
Caso não tenha ouvido, vou te explicar. A proposta do P2P lending é unir pontos e também pessoas. Em uma ponta, estão empresários que precisam de um empréstimo e, na outra, investidores em busca de bons retornos. Como você já deve supor, o nosso enfoque aqui será pelo lado do investidor, buscando responder se esse tipo de investimento vale a pena ou não.
Tudo isso acontece sem a necessidade de um intermediador, possibilitando mais benefícios aos envolvidos.
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Quer mais exemplos de P2P? Já pediu um carro pelo Uber e percebeu que o aplicativo foi apenas um intermediário entre você e o motorista? Já reservou uma casa via Airbnb, como um acesso ao proprietário?
Então, você já fez uso do P2P. No nosso caso, do P2P lending, trata-se de um empréstimo coletivo.
Até aí o cenário enche os olhos, especialmente por um motivo: é possível reduzir os custos envolvidos, fazendo com que o empréstimo tenha uma taxa de juros menor ao tomador e mais ganho a quem emprestará o valor.
E por que o custo do P2P é reduzido?
As plataformas são 100% online, não têm custo com agências, são startups mais enxutas…
Outra vantagem amplamente disseminada é que essas empresas são mais ágeis e eficientes. E neste ponto eu já não concordo.
Primeiro porque cada vez mais as pessoas estão percebendo que as startups talvez não sejam tão eficientes e lucrativas assim – vide o polêmico IPO da Uber. Startups são empresas assim como quaisquer outras, e não é porque carregam esse nome que necessariamente são disruptivas e estão realizando um ótimo trabalho. Precisam de tempo para maturação e entendimento do novo negócio que estão desenvolvendo, adaptações ao longo da trajetória…Um exemplo: como a startup de P2P pode ter certeza que o método utilizado para identificar a capacidade de pagamento da empresa é o mais eficiente? Não há dúvidas de que esse processo demanda tempo. É uma curva de aprendizado até que todos os processos estejam redondos e funcionando da melhor forma.
Feito este adendo, vamos voltar a questão do P2P lending.
This is Brasil
Outro grande problema é que estamos no Brasil. A maior parte das pequenas e médias empresas que optam por captar recursos via P2P estão em seus primeiros anos de vida. E você já viu que no Brasil, nos últimos três anos, têm mais fechado do que aberto novas empresas? E que uma a cada quatro empresas fecha antes de completar dois anos no mercado?
Então, esse fator é essencial. Isso porque a sua chance de não receber o dinheiro emprestado a uma dessas empresas que poderá fechar as suas portas daqui alguns dias é muito grande.
O cenário atual compreende que a nossa economia ainda está patinando para crescer. Por mais que estejamos otimistas com o que acontecerá daqui para frente, ainda temos um longo caminho para voltar a ter a força suficiente para que empresários, consumidores e famílias gozem de maior estabilidade. Demanda tempo para inversão do ciclo.
Portanto, isso faz com que o nível de inadimplência visto até agora de empresas que pegam recursos emprestados via P2P seja muito alto.
Essa realidade é diferente em outros países, como a Inglaterra, de onde algumas startups buscaram a sua inspiração de modelo.
Diversificação? Neste momento, você pode argumentar que essas startups de P2P costumam formar um portfólio com diversas empresas. Assim com a diversificação, você minimiza os riscos.
Contudo, ainda assim, não é diversificação o suficiente para que você entre neste negócio. Se você investir em um pool com cinco empresas diferentes e uma delas não cumprir com a sua dívida, ou seja, 20% da estratégia, você estaria satisfeito? Eu não.
Não para renda fixa
Com isso, a minha batida de martelo é a seguinte: este ainda não é o momento de investir o seu dinheiro em startups de P2P lending.
Os riscos envolvidos no processo são muito maiores do que os ganhos. A assimetria não vale a pena.
Além do que, a proposta é que seja um investimento em renda fixa. Isso mesmo, você pode perder todo o seu dinheiro em uma aplicação que supostamente seria segura. As startups de P2P contam com instituições financeiras parceiras responsáveis por originar as operações, que são lastreadas por títulos que representam a dívida. São eles o CCB (Cédula de Crédito Bancário) e o RDB (Recibo de Depósito Bancário). Ou seja, são títulos que tem como lastro projetos de diversas pequenas empresas.
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Em minha opinião, se é para correr risco, que seja da melhor maneira. Compensa mais investir em renda variável, ações ou fundos de investimentos do que almejar os mais de 1% ao mês proposto pelas empresas de P2P. Você terá oscilações pelo meio do caminho, mas se você tiver fundamento na hora de escolher, terá rendimentos.