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 Análise de perfil do investidor: como fazer da forma correta

Na coluna de hoje, vou falar sobre os diferentes perfis de risco dos investidores pessoas física. Pretendo ir além da análise superficial do perfil de investidor (API), que é realizada pelas corretoras.

Afinal, acredito não ser possível definir um perfil de investidor com apenas sete perguntas de múltipla escolha. Tampouco o resultado deveria ser dividido em apenas três perfis: conservador, moderado e agressivo.

Pretendo mostrar quais são as perguntas corretas para definir o verdadeiro perfil de um investidor, além de falar um pouco sobre cada um dos perfis, especialmente sobre o chamado investidor agressivo. Continue a leitura!

Quais são os estereótipos dos perfis de investidor?

Acabei de responder ao questionário de perfil do investidor (suitability) da corretora de que sou cliente.

Foram 7 perguntas bem simplistas, como: “O que você prioriza na hora de investir?” Mas apenas duas alternativas de resposta: “rentabilidade e diversificação ou segurança e tranquilidade.”

O resultado do meu perfil foi “agressivo”: “O investidor agressivo está associado a clientes que possuem total conhecimento e domínio do mercado. Este investidor busca retornos expressivos, suportando quaisquer riscos.”

Se meu perfil do investidor fosse conservador, esta seria a descrição: “O perfil conservador possui segurança como ponto decisivo para suas aplicações. Em razão de sua baixa tolerância ao risco, busca retorno a longo prazo e produtos que objetivam a preservação do patrimônio.”

Reparem que os perfis de riscos agressivo e conservador parecem estar em dois extremos: o primeiro suporta quaisquer riscos e o segundo não tem nenhuma tolerância ao risco.

Na vida real, os investidores não são tão extremos assim; não são o chamado “Penha-Lapa”, extremos das marginais em São Paulo que ligam as zonas leste e oeste da cidade.

Nos perfis definidos pelas corretoras, o investidor conservador deveria investir somente em renda fixa (juros pós-fixados em CDI). A própria caderneta de poupança é considerada (erradamente) como alternativa de investimento. Enquanto isso, do outro lado, o investidor agressivo deveria investir 100% do seu patrimônio em ativos de alto risco, tais como renda variável (bolsa) e derivativos.

Como definir o seu perfil de risco?

Na teoria moderna de finanças, existe uma lei básica: “Quanto maior o grau de incerteza, maior o risco, e maior o retorno esperado; e vice-versa.” Todo investidor deve escolher suas aplicações entre o menor risco possível e o maior retorno possível.

Na linguagem popular: “não existe almoço de graça” ou “sem esforço, sem benefício” (da expressão em inglês: no pain, no gain).

O primeiro passo para o investidor é definir qual rentabilidade real (acima da inflação) deseja buscar, sempre lembrando: quanto maior for esse retorno, maior costuma ser o risco.

Assim como no caso dos perfis antagônicos definidos pelas corretoras, vou usar dois exemplos extremos de perfis de investidores.

O perfil conservador destina 100% dos recursos para a renda fixa, com investimento em títulos do Tesouro Direto indexados à inflação — o IPCA+ que atualmente está pagando por volta de 3% ao ano acima da inflação.

Por outro lado, o perfil agressivo tem 100% dos recursos aplicados em ações, com retorno esperado de 10% ao ano acima da inflação no longo prazo, desempenho comparável à média de retorno nos últimos 10 anos na bolsa dos EUA.

Aqui, estamos falando de um perfil de investidor no extremo oposto do outro: o conservador, com retorno anual de 3% acima da inflação, e o agressivo, com retorno de 10% ao ano acima da inflação.

A pergunta que o investidor deve responder é: qual o seu objetivo de rentabilidade anual acima da inflação? Quanto maior for essa meta de rentabilidade, maior deverá ser a tolerância ao risco.

Como disse acima, retorno e risco são dois lados da mesma moeda. Portanto, além de entender quanto espera ganhar, também é preciso estabelecer quanto se suporta perder. Para ajudar nessa missão, elaborei as perguntas abaixo.

Lista de perguntas para definir o seu perfil do investidor (ou de risco)

  • A alegria de ganhar 10% com a alta de uma ação é menor que a tristeza de perder 10%?
  • Você fica olhando o preço das ações no home broker a todo momento?
  • A queda no preço das ações tira o seu sono à noite?
  • O seu horizonte de investimento é definido em dias ou em meses?
  • Você analisa o retorno de seus investimentos mensalmente?
  • Você se incomoda muito se o rendimento mensal da carteira for negativo?
  • Você não sabe o nível de risco do investimento em determinada ação ou fundo de ações?

Se você respondeu sim para quase todas as perguntas acima, você tem pouca tolerância ao risco e deveria investir somente cerca de 5% a 10% em renda variável.

Dessa forma, a sua carteira de investimentos, conforme o exemplo acima (com apenas duas classes de ativos), deveria ser composta por 90% em Tesouro Direto IPCA+ e, no máximo, 10% em Ibovespa, provavelmente investindo em um fundo ETF com baixa taxa de administração.

Com isso, podemos definir com mais precisão os perfis de investidor. Confira!

Quais são as características de cada perfil de investidor?

Não existe problema nenhum em manter a nomenclatura usada no mercado (conservador, moderado e agressivo) para fins didáticos. Isso ajuda o investidor a entender em que ponto do espectro ele está. A questão que defendo é que o conservador não deve alocar 100% do seu patrimônio financeiro em baixo risco, da mesma forma que o investidor agressivo não deve ter apenas ações e derivativos em carteira.

Dessa forma, vamos ver quais são as características de cada um desses perfis.

Investidor conservador

O investidor conservador é aquele que privilegia a segurança. Não gosta de ver retornos negativos, não se sente confortável com o risco e, por isso, não consegue manter o sangue-frio quando vê uma desvalorização em suas aplicações. Por isso, pode tomar decisões que, no fim, o prejudicam.

Isso não quer dizer, porém, que esse perfil de investidor não deva ter nenhuma parcela do seu portfólio em aplicações de risco. Como mencionei acima, com o fim dos ganhos fáceis de baixo risco no CDI, quem quiser ter algum ganho vai precisar ter, pelo menos, uma pequena parcela (cerca de 10%) dos seus investimentos em opções de maior risco.

No caso do investidor conservador, essa parcela não deve ser muito grande. Além disso, vale destacar que, quando falamos em risco, não necessariamente estamos falando de renda variável. Existem opções na renda fixa que oferecem rentabilidade maior do que, por exemplo, Tesouro Selic ou fundos DI, mas ainda são menos arriscadas do que ações.

É o caso, por exemplo, das LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio) e das debêntures, dependendo da nota de risco da empresa emissora do título. Dependendo do caso, também pode ter uma pequena parcela em renda variável.

Vale destacar que a reserva de emergência deve continuar em ativos de alta liquidez e baixo risco. Isso vale não apenas para o perfil conservador, mas para todos os perfis.

Investidor moderado

Se o investidor conservador quer, antes de mais nada, preservar o seu patrimônio, o investidor moderado já mostra alguma tolerância a riscos, especialmente de longo prazo. Ele certamente não é o trader da bolsa, mas a parcela da carteira alocada em investimentos de maior risco pode ser um pouco maior, na faixa dos 20%.

Dá para notar que ele ainda concentra a maior parte da carteira em investimentos conservadores, mas já admite a possibilidade de ter perdas no curto prazo em troca de uma rentabilidade maior no longo prazo.

Assim, além das opções de investimentos que mencionamos acima, a carteira do investidor arrojado também comporta outros produtos, como fundos multimercados, fundos imobiliários e até mesmo ações.

Investidor agressivo

Como o nome sugere, o investidor agressivo é o que aceita correr mais risco. Assim, a parcela da carteira em aplicações mais arriscadas vai ser maior que a dos outros perfis. Isso não significa, porém, não ter nenhum controle sobre o que pode acontecer. Os riscos precisam ser calculados.

O percentual alocado em risco pode variar dependendo não apenas do perfil daquele investidor, mas também das condições de mercado. Ainda assim, a recomendação para a manutenção de uma reserva de emergência permanece.

Vale destacar que, além do apetite por risco, esse investidor também precisa contar com duas outras características: conhecimento de mercado e capacidade de tomar risco. O conhecimento é o que vai garantir que ele assuma riscos calculados, com plena ciência de quais são as chances de ganhos e de perdas. Isso vai impedi-lo de tomar decisões emocionais que joguem por terra a sua estratégia.

Já a capacidade de tomar risco tem a ver com o fato de sua vida comportar que ele aja dessa forma com os seus investimentos. Para exemplificar, vamos pensar em duas pessoas. Uma é um jovem de 20 e poucos anos, que mora com os pais, não tem grandes compromissos financeiros nem ninguém que dependa dele.

A outra, por sua vez, tem dois filhos em idade escolar, está pagando um financiamento imobiliário e ainda dá suporte financeiro aos pais idosos. Quem você acha que pode assumir mais risco?

Entre as aplicações que podem fazer parte da carteira de um investidor agressivo estão ações, fundos de ações, fundos cambiais e operações com derivativos. Além de investir em renda variável, a forma de aplicar na bolsa também pode variar, chegando a ser, por exemplo, um trader de operações de curto prazo.

Como construir o seu portfólio de investimentos?

Eu gosto muito do livro The Safe Investor, de Tim McCarthy, que utiliza um modelo de três bolsos para investimentos: reserva de curto prazo (emergência), aposentadoria e negociações de maior risco (trading) com prazos variáveis. Eu utilizo muito esse modelo de bolsos (caixas) para fazer a alocação de uma carteira de investimentos por classe de ativos.

Assim como no futebol, sua carteira de investimentos tem três setores bem definidos: defesa (reserva de emergência), meio de campo (Tesouro Direto, fundos multimercado) e ataque, que utiliza a renda variável (fundos imobiliários e ações na Bolsa).

A reserva de emergência geralmente é definida em termos absolutos (ex: R$ 20 mil), equivalente a 6 meses de salário ou despesas fixas. A reserva de liquidez deve ser investida, preferencialmente, em ativos sem risco e com liquidez (pelo menos D+1) — o ideal é o Tesouro Direto Selic.

No atual nível de taxa de juros (Selic) de 2,25% ao ano (jul/20), ou seja, essa reserva “custa caro” em termos de rendimento a longo prazo.

Uma vez estabelecido o patamar da reserva de emergência, é preciso definir o apetite pelos ativos de maior risco: fundos imobiliários e ações na bolsa, com percentual da carteira total.

Por último, é escalado o meio de campo da carteira de investimentos, composto pelos títulos públicos do Tesouro Direto, tanto atrelados à inflação (IPCA+) quanto prefixados, e os fundos multimercado, que podem investir em diversas classes de ativos.

Perfil moderado de carteira de investimentos

Para finalizar, apresento uma sugestão de carteira de investimentos dividida em seis classes de ativos com os seus respectivos índices de referência (benchmark).

A escalação é a seguinte (em termos de participação do patrimônio total, começando do ativo de menor para o de maior risco): 1) juros pós-fixados (CDI) com 5%; 2) inflação (IPCA) com 30%; 3) prefixado com 10%; 4) fundos multimercado com 15%; 5) fundos imobiliários com 10%; e 6) renda variável (ações) com 30%.

A média ponderada do retorno bruto esperado da carteira é de 11,4%, com rendimento real (acima da inflação) de 6,0% ao ano. O risco medido pela volatilidade anual dos ativos ponderado pela participação é de 8,1% ao ano.

Como aplicar na prática?

O segredo para incluir um portfólio no seu patrimônio é fazer um balanceamento de ativo.

É exatamente este o papel da Carteira Levante. A proposta da série de investimento da Levante é usar ações, fundos imobiliários, títulos públicos, fundos de investimentos e outros produtos financeiros para potencializar ao máximo o poder de multiplicação de seu capital, sem que haja a necessidade de correr riscos desnecessários.

Agora você já sabe como fazer uma análise mais coerente do perfil de investidor. Os perfis de investidor são uma classificação que abarcam uma certa variação. Assim, por exemplo, mesmo dentro do perfil investidor agressivo, é possível haver níveis diferentes de risco.

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