por Mr. Ramos, correspondente internacional.
“O primeiro passo para solucionar as crises econômicas e financeiras é abolir o Prêmio Nobel de Economia.” Nassim Taleb, lendário ensaista financeiro e analista de risco norte-americano.
Dez anos após a maior crise da história recente, o mercado financeiro internacional chega num ponto de impasse. É importante voltar a fita e colocar os fatos em perspectiva para entendermos a situação e desenharmos o cenário do que está por vir.
Probabilidade baixa: quem diria?
Durante estes dez anos, as maiores economias mundias – EUA, Europa, Japão e China – realizaram a mais extraordinária campanha de estímulo econômico de que se tem notícia na história. De início, derrubaram as taxas de juros e mais tarde ligaram o “dane-se”, injetando trilhões de dólares em seus mercados financeiros. Em vão. O crescimento da economia global continua flácido até hoje, aquém de expectativas e esforços políticos. Assim, colocando em cheque a eficácia das teorias do “imprime que dá” da escola keynesiana.
Com todo aquele dinheiro fácil na praça e taxas de juros a zero, ou mesmo negativas, os agentes financeiros se empanturraram de ações e dívidas de páíses e empresas de mercados emergentes, que por apresentarem maior risco de calote, pagam melhor, e moedas como o real brasileiro e a lira turca conheceram dias de glória. Festa que segue.
No entanto, festas, mesmo as que duram um década inteira, costumam chegar ao fim. As baixas taxas de juros colocaram bancos e fundos de pensões em dificuldades, e o Fed, banco central americano e anfitrião da folia, entendeu que deveria abaixar o som, regular o jorro de champagne e começar a pensar em normalizar as taxas de juros.
Hora de acabar a festa
Essa normalização é o maior terror dos convidados mais pagodeiros. Isto porque taxas mais altas atrairão investidores para títulos americanos e farão subir o dólar, secando as torneiras e minando a capacidade dos emergentes em rolar e pagar suas dívidas feitas em dólares.
O FED então se sente coagido a manter a festa rolando, pois a realidade será fatal para a fanfarronada. O mercado lê que o FED nao tem saída e aposta em maiores cortes nos juros, o que alimenta o ciclo fazendo as bolsas subirem, e o dólar cair. Desde janeiro as bolsas internacionais seguem em franca ascensão, ignorando a falta de qualquer fundamento econômico, e sinal de que crescimento ou robustez econômica mundial. E
No mercado, uma das poucas certezas é que o consenso está sempre equivocado, e a continuidade da festa virou consenso. Devemos, portanto, nos preparar para que o improvável aconteça.
Tudo ao contrário?
Grandes investidores, confusos com os sinais, se protegem comprando títulos da dívida americana de longo prazo, que agora já pagam menos do que os títulos do curto prazo, invertendo a lógica de que tempo é dinheiro. Essa anomalia econômica é tida como um indicador de recessão e de queda nas bolsas. Foi assim em 2007, antes da crise financeira e no final do ano passado, precedendo a queda nos mercados de setembro a dezembro.
No cenário das improbabilidades podemos ver muita volatilidade, movimentos bruscos no mercado, uma alta do dólar. Mesmo com uma queda nas taxas de juros. Ainda, pode haver um contrasenso: ouro o dólar subindo ao mesmo tempo, perdendo sua histórica correlação negativa.
Enquanto a música não para, dancemos perto da saída. E esperemos o inesperado.