Resumo do Ata do Copom: crise dificulta recuperação da economia
Um pouco mais sintética do que as anteriores, a ata da 228ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada na manhã desta terça-feira (11) confirmou o que muitos economistas já sabiam. A recessão prolongada afetou a oferta de bens e serviços. E, apesar de a inflação estar bem-comportada e dever permanecer assim, o impacto da recessão na economia e as mudanças no mercado de crédito reduziram o espaço para novas quedas de juros.
A linguagem da Ata é, de propósito, o mais neutra possível. Cada palavra é medida em frações de milímetro. Por isso, mesmo menções ligeiras têm de ser interpretadas com atenção. Mas está lá, claramente, no parágrafo 11. Vai entre aspas: “os membros do Copom refletiram sobre o nível de ociosidade da economia. Alguns membros avaliaram que o esgotamento do modelo de alocação centralizada de capital e a longa duração da recessão podem ter produzido restrições de oferta. Nesse sentido, a dicotomia dos últimos dados sugere que pode haver menos espaço de ociosidade do que o mensurado por métodos tradicionais”. Não se deixe enganar pelo “podem ter”, pelo “sugere” e pelo “pode haver”. Essa aparente cautela faz parte do processo. O Copom deixou claro que há menos espaço para errar em manter os juros baixos e estimular a economia por meio da política monetária.
A Ata trouxe mais dois pontos importantes. No parágrafo 14, a Ata discute as mudanças no mercado de crédito, com o aumento da participação do crédito com recursos livres e do mercado de capitais. A redução da importância da “meia entrada” no mercado de crédito, como bem definia Ilan Goldfajn, ex-presidente do Banco Central (BC) aumenta a potência da política monetária. Ou seja, o efeito das reduções ou elevações de juros é maior. E isso deixa o Copom em dúvida: “faltam comparativos na história brasileira para o atual grau de estímulo”, diz a Ata. Tradução: estamos pisando em terreno desconhecido, e é melhor ir com cautela de agora em diante.
A Ata do Copom não trouxe surpresas em relação ao corte de juros, mas chamou a atenção para as mudanças estruturais e de longo prazo na economia brasileira. Com menos entraves no crédito, a política monetária se tornará mais eficiente e ficará mais fácil controlar a inflação, sem ter de recorrer a altas expressivas de juros.
INFLAÇÃO – Os indicadores mostram que até haveria espaço para novas quedas de juros. Na manhã desta terça-feira, a Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgou inflação zero na primeira prévia do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) de fevereiro. Nos primeiros dez dias de janeiro, o IGP-M havia registrado uma inflação de 0,67 por cento.
Na primeira prévia do mês, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) apresentou uma deflação de 0,15 por cento, após ter subido 0,86 na primeira prévia de janeiro.
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu 0,24 por cento, após ter avançado 0,33 por cento em janeiro. No caso do grupo Alimentação, os preços subiram apenas 0,10 por cento, depois de terem avançado 1,03 por cento em janeiro. Segundo a FGV, vale mencionar as carnes bovinas. Nos primeiros dez dias de janeiro, os preços haviam subido 3,29 por cento. No mesmo período de fevereiro, os preços caíram 4,01 por cento.
A única alta ocorreu no Índice Nacional da Construção Civil (INCC), cujos preços avançaram 0,37 por cento, acima dos 0,20 por cento de janeiro.
–
* Esse conteúdo faz parte do nosso boletim diário: ‘E Eu Com Isso?’. Todos os dias, o time de analistas da Levante prepara notícias e análises que impactam seus investimentos. Clique aqui para receber informações sobre o mercado financeiro em primeira mão.
Leia também: Um Copom mais cauteloso: a nova taxa de juros agora é 4,25 por cento