No E Eu Com Isso? de quarta-feira (20), trouxe à tona o debate sobre a volta do auxílio emergencial e como ela afetaria o humor do mercado local. Pois o que vimos nesses últimos três pregões foi o Ibovespa se descolando das bolsas globais, muito em função dos receios quanto ao quadro fiscal brasileiro.
Com razão, investidores temem cada vez mais a volta de um gasto do calibre do auxílio emergencial, que custou, em 2020, cerca de 300 bilhões de reais para as contas públicas e foi distribuído para mais de 55 milhões de brasileiros (56,4 milhões somente no mês de dezembro, o último e mais restrito mês de pagamentos). Caso seja renovado de maneira mais focalizada, projeções apontam que dificilmente o auxílio custará menos de 10 bilhões de reais por mês, colocando em alto risco o cumprimento do teto de gastos – mas com consequências não somente para o fiscal, como também para a inflação do país. A inflação de famílias com rendimentos de 1 a 5 salários mínimos, em 2020, medida pelo INPC, foi de 5,45 por cento, 1 ponto percentual acima da inflação oficial (IPCA).
Se a discussão sobre a volta do auxílio permeava, até então, a disputa presidencial na Câmara dos Deputados, nesta quinta (21) o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) veio a público defender a implementação de um novo auxílio. Segundo Pacheco, o teto de gastos deve ser observado, mas o Congresso não deve ignorar “a excepcionalidade do momento” e, por isso, deve procurar a equipe econômica logo na primeira semana de fevereiro (após sua provável eleição).
Não obstante a fala de Pacheco dizendo que o mercado não precisa se preocupar com seu senso de responsabilidade fiscal, investidores ainda estão bastante desconfiados do senador, que votou em algumas ocasiões contra a orientação da equipe econômica nesses últimos dois anos. Na Câmara dos Deputados, já existe um Projeto de Lei (5650/20) de autoria do deputado Chiquinho Brazão (Avante-RJ) que visa prorrogar o pagamento do auxílio até abril deste ano, no valor de 600 reais.
E Eu Com Isso?
Como já mencionado por aqui algumas vezes, a pressão crescente sobre a volta do auxílio impacta diretamente na percepção de risco sobre os ativos brasileiros. Nesse contexto, a Bolsa fechou no negativo por três dias consecutivos, mas o estrago maior da fala de Pacheco se deu nos contratos de DI futuros, que tiveram forte alta nesta quinta (21), especialmente nas pontas curtas e médias.
Se antes a prorrogação do auxílio era demanda de apenas alguns grupos políticos – e a pandemia parecia muito mais sob controle do que agora, vale ressaltar – hoje ela é uma realidade já disseminada no meio político e já não se vê mais importantes figuras apoiadas pelo governo negando a volta do pagamento. Nesse momento, é provável que haja algum tipo de pagamento nos próximos meses, restando saber apenas como se dará essa conciliação com o delicadíssimo quadro fiscal e orçamentário do País. Obviamente, quanto maior o auxílio e menores as contrapartidas para esse novo gasto, pior será a reação do mercado. No pregão de hoje, o índice não deve ter fôlego para reagir e a semana será majoritariamente negativa.