Expressão consagrada pelo presidente Bolsonaro para delegar as decisões econômicas para seu ministro, o “Posto Ipiranga” serviu de apelido para Paulo Guedes, lhe dando credibilidade e confiança do mercado – inclusive, frente a um presidente com histórico pouco reformista.
Nesta quinta-feira (27), em transmissão ao vivo via redes sociais, Bolsonaro voltou a cunhar o apelido, reforçando que o ministro é insubstituível e tem total autonomia quando o assunto é economia. A declaração ocorre após um novo mal-estar entre Guedes e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto – situação interpretada pelo mercado, porém, como apenas um ruído.
Por outro lado, a sensação de parte dos investidores é de que Guedes já não tem mais a mesma força que teve nesses dois anos de mandato. Diante de um desgaste crescente com outras áreas do governo e uma indefinição sobre o futuro da questão fiscal brasileira, o mercado tem ficado impaciente com o governo e a equipe econômica, que vem pecando principalmente na comunicação.
Como exemplos, estão na memória recente as recuadas envolvendo o financiamento do novo programa assistencial do Planalto, o Renda Brasil. Em primeiro lugar, Bolsonaro foi quem vetou duas saídas fiscalmente responsáveis para o programa – colocando em xeque a autonomia do ministério da Economia – e, em seguida, o governo teve de lidar com o recuo da ideia esdrúxula de financiar os novos gastos por meio da realocação orçamentária de precatórios.
Impactos na prática
A grande insatisfação do mercado, que inclusive se reflete no aumento do prêmio de risco de juros futuros desde agosto, é sobre a falta de uma resolução sobre o orçamento e a política fiscal de 2021 e 2022, nos dois anos restantes de governo. Diante de um impasse (a trajetória da dívida piorou, o teto de gastos está no limite e não há sinalização de que haverá redução nas despesas obrigatórias) nas contas públicas, a discussão parece ter sido ignorada pelo Planalto, que suspendeu a agenda legislativa em detrimento das eleições municipais, e congressistas, que se voltaram exclusivamente à corrida pelo comando da Câmara e Senado.
Apesar do estresse gerado nos últimos meses, nossas expectativas convergem para uma saída fiscalmente responsável, que deve avançar a partir da semana que vem, com o fim das eleições. O impasse, contudo, deve se estender para 2021, com um calendário apertado até o fim do ano, e ser contaminado pelas eleições legislativas – o que pode trazer mais ruído para o mercado. Enfim, a hora da verdade (“tipping point”) chegou para a questão econômica – podendo significar mudanças na equipe caso o desfecho seja negativo (não configurando, entretanto, nosso cenário-base).