Levante Ideias - Coronavírus

Pandemia testa os limites da eficácia da intervenção estatal

Pandemia testa os limites da eficácia da intervenção estatal

Esta quarta-feira (18) promete ser mais um dia de tensão no mercado. Na madrugada, os pregões internacionais registraram fortes baixas. Os pregões asiáticos caíram cerca na média 1,7 por cento e, na Europa, as baixas superam 4 por cento. O barril de petróleo do tipo Brent está em baixa de 3,2 por cento, a 27,82 dólares. Os contratos futuros de S&P 500 recuam quase 5 por cento. E por aqui, o dólar começou os negócios cotado a 5,16 reais, alta de 3,2 por cento em relação ao fechamento da véspera e os contratos futuros de Índice Bovespa estão abrindo em uma forte queda de 8,1 por cento.

O mercado está tentando estabelecer um preço entre dois movimentos distintos. Do lado positivo, os estímulos econômicos com o aumento de gastos decididos na véspera pelo Ministério da Economia e com a queda dos juros que deve ser anunciada no fim da tarde após a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Do lado negativo, o reconhecimento do governo e da sociedade que as contaminações pelo coronavírus são sérias. Já há duas mortes confirmadas, outras quatro sob suspeita, e uma crescente convicção de que o impacto negativo sobre a economia será mais longo e mais severo do que se imaginava antes. Na manhã desta quarta-feira, o lado pessimista está ganhando essa queda de braços com vantagem.

Brasília tenta agir. Na noite da terça-feira (17), o governo anunciou que vai pedir ao Congresso Nacional o reconhecimento de Estado de Calamidade Pública devido à epidemia do coronavírus (leia mais abaixo). A medida permitirá a compra de equipamentos e insumos médicos sem licitação e possibilitará ao governo elevar as despesas sem descumprir o teto de gastos nem a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). O anúncio vem do reconhecimento, pelo governo, de que a arrecadação deverá cair devido à redução da atividade econômica. A medida não autoriza Estados e municípios a descumprir a LRF. Essa decisão segue-se ao anúncio do Ministério da economia na segunda-feira (16), de que o governo vai injetar 147,3 bilhões de reais na economia para estimular a demanda.

Na parte dos juros, é um consenso de que o Copom deverá reduzir a Taxa Selic nesta quarta-feira. A decisão mais provável é de um corte de meio ponto percentual, com uma nova baixa de 0,25 ponto percentual na reunião de maio. Em sua edição mais recente, a pesquisa Focus, do Banco Central (BC) mostrou que as expectativas do sistema financeiro para a Selic em dezembro deste ano haviam recuado de 4,25 por cento para 3,5 por cento. Na segunda-feira (16), o Conselho Monetário Nacional (CMN) modificou as regras dos depósitos compulsórios para facilitar os empréstimos e não travar a concessão de crédito.

Apesar disso, alguns bancos estão reduzindo suas projeções para a economia brasileira. Na manhã desta quarta-feira, o banco suíço UBS reduziu o prognóstico de crescimento para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2020 para 0,5 por cento. A previsão anterior, da segunda semana de março, já havia reduzido a projeção de 2,1 por cento para 1,3 por cento. E na véspera o também suíço Crédit Suisse havia reduzido a projeção de crescimento do PIB para zero neste ano.

Pacotes de estímulo estão longe de ser uma exclusividade brasileira. Os governos estão se movimentando na Ásia, na Europa, nos Estados Unidos e mesmo na América Latina. O noticiário econômico é fértil em notícias de pacotes de ajuda. As medidas vão da atuação dos bancos centrais comprando títulos para garantir liquidez ao mercado e solvência ao sistema financeiro até a injeção direta de dinheiro nos sistemas econômicos pelos governos. Nos Estados Unidos circula até mesmo a proposta de entregar cheques de mil dólares a cada cidadão dos Estados Unidos. No entanto, a eficácia dessas medidas ainda precisa ser testada e seus resultados não são garantidos. O coronavírus é a maior pandemia registrada em um século, e seu impacto sobre a economia ainda deve ser calculado. Na dúvida, os investidores vendem. É o que está ocorrendo nesta manhã, em mais um dia que promete ser muito volátil.

INDICADORES – O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) variou 0,99 por cento no segundo decêndio de março. No segundo decêndio de fevereiro, este índice não apresentou variação. O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que representa 60 por cento do índice, passou de uma queda de 0,15 por cento para uma alta de 1,41 por cento. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que responde por 30 por cento do índice, variou 0,04 por cento, ante 0,25 por cento em fevereiro. E o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) variou 0,37 por cento, ante n0,44 por cento no mês anterior.

* Esse conteúdo faz parte do nosso boletim diário: ‘E Eu Com Isso?’. Todos os dias, o time de analistas da Levante prepara notícias e análises que impactam seus investimentos. Clique aqui para receber informações sobre o mercado financeiro em primeira mão.

Leia também: Novo coronavírus movimenta Poderes

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