O mercado está bem perto de uma crise de confiança. Chega no limite do estresse, depois se acomoda com alguma notícia mais favorável. Têm sido vários dias de montanha-russa, com sobe e desce do dólar, da Bolsa, da curva de juros. Há muita incerteza quanto ao que esperar da política econômica e da economia. A queda do PIB de 4,1% em 2020, com reação maior que a esperada no último trimestre, passou a ser a grande notícia em semanas.
O estresse vem muito de medidas inesperadas do governo, que jogaram dúvidas quanto à implementação da prometida política econômica liberal. Houve a intervenção na Petrobras, com a mudança na presidência, determinada por Bolsonaro, que não teria gostado da política de preços, de Roberto Castelo Branco estar em home office, de ter ido a uma reunião de máscara ou, apenas, pelo temor de uma greve dos caminhoneiros.
Foram as justificativas cogitadas e todas elas podem ter tido influência, deixando em segundo plano a questão de não interferência, porque interferência houve. Na sequência veio a isenção de PIS/Cofins sobre diesel e gás, proposta de mudança no ICMS, aumento da taxação para instituições financeiras, para compensar a perda de receita, junto com outras medidas, como o corte de benefícios para indústria química e revisão das condições de desconto do IPI na compra de veículos por pessoas com deficiência.
Sem querer compactuar com as possíveis mudanças na estatal, que podem ir contra as boas práticas de mercado, cinco conselheiros já decidiram se afastar da Petrobrás que, aliás, teve um resultado de balanço bem superior ao esperado. Mais um fator de tensão.
Vire a página, tem toda a preocupação com a pandemia, a pouca eficiência na gestão da compra de vacinas, a insegurança quanto à gestão da pior crise sanitária que o País já enfrentou. Crise que neste começo de ano volta a ameaçar o desempenho da economia, com novas e pesadas restrições de atividade, paralelamente ao risco do colapso do sistema de saúde. Mais que a economia, ficam as preocupações do ponto de vista social e humano.
Vire a página, novamente, e temos todas as incertezas quanto à volta do auxílio emergencial e a PEC Emergencial, que deve definir o que se pode esperar de gestão das finanças, com responsabilidade fiscal. O tema agora avança de forma mais favorável. Mas também produziu limites de stress, com a possível exclusão não só do auxílio, mas também de todo o Bolsa Família do teto de gastos. Seria o aval para gastos ilimitados. Desmontado esse esquema, assim como a possibilidade de volta do benefício no valor de 600 reais, a fervura diminuiu.
Ainda que esses temas todos possam ser administrados com maior responsabilidade, revertendo os principais temores, os recados são ruins. Não há segurança quanto ao encaminhamento do que seria a pauta prioritária do governo e dos desvios que pode sofrer. Cada dia uma surpresa. Isso num cenário em que a economia pode passar por uma fase de retração, com inflação pressionada, que, junto com o dólar mais alto e as idas e vindas do ajuste fiscal, pode levar a uma antecipação, até com mais intensidade, da elevação da Selic pelo Banco Central. O mercado já dá quase como certo algum ajuste na reunião deste mês do Copom.
Não vamos esquecer também que do exterior também vêm algumas pressões pontuais. A instabilidade dos juros dos treasuries americanos têm tido forte repercussão também por aqui.
É aproveitar os momentos de trégua do mercado e torcer por menos ruídos. Se com a economia e as pautas mantendo o rumo esperado já não está fácil, medidas inesperadas, sem planejamento e atitudes tempestivas, que flertam com o populismo, tornam tudo muito mais difícil.
Em tempo, dado o atual cenário, em seus vários aspectos, melhor contar com performance efetivamente melhor da economia só mais para o segundo semestre, mesmo com o carregamento do desempenho melhor que o esperado de 2020. Aliás, as projeções para o PIB 2021 ainda se mantêm, na média, acima de 3%, mas com cortes sucessivos.