Denise Campos de Toledo EECI

Os desafios de gerenciamento no Brasil

Em relação à atual conjuntura brasileira e ao comportamento do mercado, parece que sempre dá pra cavar o poço um pouco mais ao fundo. Quando parece que tudo vai melhorar, que o mercado poderá entrar numa fase menos ruim, até para aparar exageros, as incertezas ganham novo impulso, renovando as quedas da Bolsa, testando novos patamares para o dólar e na curva de juros. É o que tivemos nesta última semana. 

O mercado, como se costuma falar, prefere ter certeza do tamanho do problema do que trabalhar com suposições. E, nas condições atuais, prefere lidar com o certo, mesmo que seja ruim, que é o caso da PEC dos Precatórios, com todas as mudanças fiscais que propõe, do que com o incerto, que seria o Plano B do governo. Se não houver aprovação da PEC, a tempo de viabilizar o Auxílio Brasil em 2022, se estuda a prorrogação do auxílio emergencial, possivelmente com crédito extraordinário, que dependeria da decretação de estado de calamidade, com todas as discussões que isso poderá trazer. Mas é essa a situação de incerteza que ainda prevalece, mesmo com a aprovação da matéria, em primeiro turno, na Câmara.

A reação da oposição, questionamentos quanto à forma como a votação foi conduzida e debates internos de partidos como o PSDB e o PDT, de Ciro Gomes, que até colocou a própria candidatura em stand-by, deixaram incerto o avanço da proposta, que ainda pode enfrentar resistências no Senado, apesar de o presidente Rodrigo Pacheco tratar como pauta prioritária. Não se trata mais de considerar as discussões repetitivas quanto aos impactos do ponto de vista fiscal, a margem para mais gastos e emendas políticas ou os interesses eleitoreiros, o que está pensando é a possibilidade de mais uma rodada de indefinições, quando já se assimilava a ideia de ficar com o bode na sala. 

Uma situação semelhante ocorreu com a mudança na política de estímulos do Federal Reserve. O mercado viveu muitos momentos de volatilidade pelo possível corte na injeção de recursos pelo FED. Quando veio a confirmação da redução de US$ 15 bilhões/mês na compra de ativos (tapering), mas sem relação com discussões quanto à elevação dos juros, o que se viu foi uma onda de alívio, acompanhada até pelo mercado local. É menos liquidez, mas, por enquanto, com menos reflexos sobre fluxo de investimento para outros mercados, a não ser que a economia dos EUA imponha mais alterações na política monetária.

Agora é aguardar o desfecho da novela da PEC e analisar se haverá, ou não, um plano B. Fato é que o Brasil não para de produzir incertezas. E, não sem motivos, além da volatilidade, o mercado tem mostrado muita dispersão das projeções. Nem o aumento da dosagem de elevação da Selic nem a ata da última reunião do Copom conseguiram provocar maior convergência das projeções de inflação, de juros e de expansão do PIB. O relatório Focus tem trazido médias de previsões com grandes aberturas. O mercado anda exagerando em algumas ondas de pessimismo. Mas é fato que estamos tendo de lidar com várias frentes simultâneas de incerteza, que dificultam uma postura de maior equilíbrio. É o risco fiscal envolvido nas discussões em torno da PEC e do Auxílio Brasil, as dificuldades relacionadas à crise de energia, que pesa na inflação e na atividade; são as sucessivas pressões inflacionárias, afetando o potencial de impacto dos juros; há as dificuldades de retomada do crescimento, como mostram os dados da produção industrial, e a proximidade das eleições… 

Difícil dar uma pausa nessas preocupações e focar na safra de balanços ou em fatos positivos, como o 5G e outros avanços. Os desafios do gerenciamento da política econômica e da política, de fato, estão ecoando mais.

Leia a última coluna da Denise Campos de Toledo: Mercado mantém foco nas incertezas.

O conteúdo foi útil para você? Compartilhe!

Recomendado para você

O investidor na sala de espera

Salas de espera podem ser muito relaxantes ou extremamente desconfortáveis. Pessoas ansiosas consideram aquele período de inatividade quase uma tortura. Quem precisa de um tempinho

Read More »

Ajudamos você a investir melhor, de forma simples​

Inscreva-se para receber as principais notícias do mercado financeiro pela manhã.