Denise Campos de Toledo EECI

O que se pode ter de melhor e de pior | Denise Campos de Toledo

Estamos em um momento do País em que nem mesmo iniciativas positivas estabelecem uma confiança maior em termos de saída da crise. É o caso do comitê que poderá coordenar as ações de combate à pandemia, reunindo os três Poderes, Executivo, Judiciário e Legislativo.

Como acreditar na coordenação que, de início, só incluiu na conversa governadores aliados? E como confiar em uma ação mais coerente se, na sequência, o presidente volta a falar em tratamento preventivo?

Para fechar ainda tivemos o alerta de Arthur Lira, presidente da Câmara, dizendo que alguns remédios do parlamento são fatais, ao se referir à necessidade de focar as discussões em medidas relacionadas à pandemia e o Executivo adotar posturas mais responsáveis. Para bom entendedor…

O que fica é a percepção de uma dificuldade enorme de o presidente Bolsonaro assumir uma postura mais coerente em relação à pandemia, que acabe com a politização do tema, ao questionar procedimentos básicos recomendados com base na ciência. Isso mesmo após o pronunciamento, em rede nacional, em que parecia ser uma outra pessoa em comparação com falas e ações registradas desde um ano atrás. Mudança, talvez, decorrente de uma pressão política maior diante da sensação de descontrole que se tem na área da saúde.

Pode haver, sem dúvida, uma mobilização mais produtiva no combate à pandemia, só que muito mais por cobranças em cima do governo, inclusive por parte da base aliada, do que por um entendimento político, de fato. Mas até que bons resultados comecem a surgir o mercado tende a se manter volátil e sensível ao noticiário, interno e externo.

Nesta semana houve momentos de pressão desde a demissão do presidente do Banco Central da Turquia até a proposta de governadores do auxílio emergencial de 600 reais, passando pelo novo calote da dívida pela Argentina e a piora das ações de tecnologia dos EUA, além das idas e vindas das medidas restritivas na Alemanha.

Tudo isso sem deixar de lado as incertezas fiscais, na definição do orçamento e de novos programas, para minimizar o impacto econômico da pandemia, num ambiente de inflação ainda pressionada que só reforça a previsão de um maior aperto dos juros. Parece confuso, não é mesmo? Mas tem sido o embalo do dia a dia, num novo normal que, de normal, não tem nada.

O certo é que uma gestão mais coerente e eficiente da pandemia já poderia estabelecer perspectivas muito melhores do ponto de vista econômico. Tanto que a carta dos economistas divulgada no último final de semana priorizou medidas de controle da pandemia, defendendo desde procedimentos básicos, como recomendação de uso de máscara, até a aceleração da vacinação. Enquanto não se conseguir reverter a curva de contaminação e mortes não dá para contar com a reação da economia.

Programas sociais, linhas de crédito, adiamento de tributos, antecipação de aposentadorias podem, sem dúvida, minimizar o impacto econômico das medidas de restrição de atividade, necessárias diante do agravamento do ritmo de contágio, mas nada que nos leve a uma recuperação em V. 

Além dos desafios estruturais da nossa economia, mais que conhecidos, temos agora de encarar a pandemia e todas as questões políticas relacionadas. Se é para deixar tudo mais difícil, o Brasil tem dado muitos exemplos. Até do Judiciário tivemos reforços importantes no pacote de incertezas, com revisões de situações que pareciam definidas, como do ex-presidente Lula, processos da Lava Jato e a atuação de Sérgio Moro. Mas, sem desviar das prioridades, o foco tem de ser a pandemia, cujo gerenciamento pode interferir muito no que se pode esperar, de melhor ou de pior, para a economia. Bom senso e responsabilidade ajudariam bastante.

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