Hoje é o dia da verdade para o Federal Reserve (Fed), o banco central americano. Na tarde desta quarta-feira (15), Jerome Powell, presidente do Fed, concederá sua última entrevista coletiva do ano para dizer o que, no fundo, todos os investidores já sabiam, mas vinham evitando admitir. A inflação americana está alta demais, especialmente devido à alta de preços dos combustíveis e das commodities minerais, energéticas e agrícolas.
A economia dos Estados Unidos está muito aquecida e a demanda está desbalanceada, pois as cadeias globais de suprimentos ainda não se ajustaram. E, por isso, o Fed terá de fazer a parte desagradável do trabalho de um banqueiro central: retirar estímulos e, em seguida, elevar juros, para desaquecer a economia e evitar uma alta excessiva nos preços. Porém, ao contrário do que seria de se esperar, isso pode provocar uma alta nos preços das ações.
A princípio, essa ideia parece absurda. Pelo livro texto, juros mais elevados são teoricamente prejudiciais para os preços das ações. O raciocínio parece claro: juros em alta desaquecem a economia, apertam o crédito e reduzem o consumo. Se os consumidores compram menos, por óbvio as empresas vendem menos e têm lucros menores, pagando menos dividendos. Logo, as ações se tornam menos atrativas e há, pelo menos na margem, um movimento dos investidores de vender os papéis menos promissores (ou os que estão mais caros) e aplicar na renda fixa. Em adição, o custo de oportunidade de ficar alocado em renda variável aumenta, de modo que a taxa a que se descontam as ações sobe e, mecanicamente, promove uma realização no valor presente dos papéis. Esse raciocínio está correto. Porém, ele flexibiliza algo importante no mercado, que são as expectativas.
Risco é ruim, mas há uma gradação nessa avaliação. Um risco conhecido é preferível a um risco desconhecido. A melhor comparação é com o aplicativo de navegação Waze, que indica não só o melhor caminho como também o tempo estimado do trajeto.
Suponha que você está viajando durante os feriados de fim de ano. Cenário 1: o Waze informa que há um engarrafamento na estrada e que sua viagem vai demorar duas horas a mais. Cenário 2: o Waze informa que a estrada está interditada (pode ser uma queda de barreira ou um protesto) e não há previsão para o horário de chegada.
Os dois cenários são ruins, mas diferentes. No primeiro caso você aumenta o som do carro e tenta não se estressar. No segundo você começa a avaliar se não é o caso de cancelar tudo, fazer uma manobra arriscada para chegar à outra pista da estrada e voltar para casa. O Cenário 1 é uma situação adversa, mas conhecida, e você segue em frente. No Cenário 2, os riscos são desconhecidos e você pode simplesmente desistir.
Por que essa comparação? Essa entidade chamada mercado prefere uma situação ruim e conhecida a um cenário indefinido e desconhecido. O Fed deve anunciar hoje que vai acelerar a retirada das medidas de estímulo. Provavelmente para US$ 30 bilhões por mês, em vez dos US$ 15 bilhões atuais. Suponhamos que Powell anuncie algo muito mais drástico, por exemplo que a injeção de recursos se encerra ainda neste ano.
É uma notícia ruim, mas que acabará com a incerteza. Os investidores vão refazer suas contas. Alguns vão decidir que é preciso cancelar a viagem e voltar para a renda fixa. Outros vão preferir esperar a turbulência passar e continuar a jornada, ainda que leve mais tempo para chegar ao lucro. No entanto, o fim da indefinição deve sustentar uma alta das ações no longo prazo. Na ponta do lápis, mesmo sem medidas de estímulo, a economia americana está crescendo, as empresas melhoraram seu desempenho e ainda há muita liquidez por aí. E tudo isso indica bons ganhos para quem souber escolher as melhores ações. Com a assessoria dos analistas da Levante Ideias de Investimentos.
Indicadores 1
O BC (Banco Central) divulgou nesta quarta-feira o IBC-Br, seu índice de atividade econômica, que serve como uma prévia do PIB (Produto Interno Bruto). Considerando-se o cálculo com ajustes sazonais, a atividade decresceu 0,4% em outubro em relação a setembro. Sem ajustes sazonais o decréscimo foi um pouco menor, de 0,19%. Em 12 meses, considerando-se a variação sem ajustes sazonais, a atividade cresceu 4,19%.
Indicadores 2
O Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10) caiu 0,14% em dezembro após ter subido 1,19% em novembro. De janeiro a dezembro de 2021, o índice acumulou alta de 17,30%, informou a FGV (Fundação Getulio Vargas). O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) caiu 0,51% em dezembro após ter subido 1,31% em novembro. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) variou 1,08% em dezembro. Em novembro, o índice havia apresentado taxa de 0,79%. O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) variou 0,54% em dezembro. No mês anterior a taxa havia sido de 0,95%.
E Eu Com Isso?
Os contratos futuros de Ibovespa iniciam a quarta-feira com uma leve alta, mas o mercado vai permanecer na expectativa do resultado da reunião do Federal Reserve, o que deve amplificar a volatilidade das ações.
As notícias são positivas para a Bolsa em um cenário de volatilidade.
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