Juros baixos manterão a taxa de câmbio no patamar atual
Poucos economistas admitem isso em público, mas é um consenso entre os profissionais do ramo: moeda valorizada é um luxo acessível para poucos países. Por isso, o câmbio a 4,35 reais registrado na quarta-feira (12) não é um número excepcional, mas uma indicação de um novo patamar para os preços da moeda americana.
Vamos voltar ao livro-texto. Para ter uma moeda forte, um país precisa cumprir três pré-requisitos. O primeiro é que a moeda seja confiável internamente (a inflação precisa ser baixa). O segundo é que a moeda seja conversível (o investidor estrangeiro tem de poder entrar e sair quando quiser). E o terceiro é que a moeda esteja isenta dos riscos de ser usada para tapar buracos nas contas do governo. Ou seja, é preciso que a situação fiscal seja estruturalmente sólida para que não haja o risco de a autoridade monetária ter de emitir moeda para pagar as contas.
Desses três requisitos, o Brasil só cumpre bem o primeiro. O segundo e, principalmente, o terceiro, ainda deixam muito a desejar. O real ainda tem muitos entraves em sua conversibilidade (se você estiver com muita, mas muita raiva de uma pessoa, peça a ela para estudar como funcionam as normas cambiais).
A situação fiscal está longe de ser mantida equilibrada. Sempre é bom lembrar que o déficit consolidado do setor público (União, estados, municípios e empresas estatais) foi de 61,87 bilhões de reais em 2019. Apesar de inferior ao rombo de 108,26 bilhões de 2018, o número representou o sexto ano seguido de resultado negativo nas contas públicas.
Dada essa situação, só é possível manter um câmbio valorizado atraindo artificialmente dólares. Por exemplo, mantendo os juros muito acima da média mundial. Como os juros estão caminhando para a “normalidade” dos países emergentes, a atração artificial do dólar acabou. E a taxa de câmbio se ajusta e caminha para um “novo normal”.
A recuperação do setor de serviços e a apreciação sustentada (não inflacionária) do dólar indicam uma melhora nos resultados das empresas, especialmente as exportadoras. Apesar de dificultar o consumo de itens importados e encarecer as viagens internacionais nas férias de julho, o real depreciado é um poderoso incentivo para o setor exportador, que tem de enfrentar a retração da economia chinesa.
Apesar do tom interno positivo, o dia de hoje vai na contramão e será negativo para os mercados financeiros — inclusive no Brasil.
Se tem algo que é necessário observar todos os dias para saber a direção dos investidores (pelo menos por enquanto) são os números de novos casos do coronavírus divulgados pela província de Hubei. Os dados que apontam o aumento de casos do coronavírus assustaram a todos. Aqui, vou deixar um jargão do mercado e peço uma licença poética: “O mercado vai dar aquela panicada”. Mas respire fundo na tempestade.
INDICADORES – O IBGE divulgou a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) de dezembro na manhã desta quinta-feira (13) mostrando um aumento de 1 por cento no faturamento do setor em 2019. Apesar de abaixo da expectativa de 1,6 por cento, o resultado interrompe uma sequência de quatro anos em queda. Em 2018 o crescimento havia sido zero. E em 2015, 2016 e em 2017, o setor havia registrado retrações de, respectivamente, 3,6 por cento, 5 por cento e 2,8 por cento.
Segundo o IBGE, o crescimento de 2019 foi puxado principalmente pelo setor de informação e comunicação, cujo faturamento avançou 3,3 por cento no ano passado. Entre as atividades de informação e comunicação, a que mais influenciou o resultado positivo do ano passado foi a de portais, de provedores de conteúdo e de outros serviços de informação na internet. Segundo o Instituto, essas atividades incluem as receitas com ferramentas de busca e com propaganda nas redes sociais.
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