Denise Campos de Toledo EECI

Excesso de incertezas exige mais informações e planejamento para investir

A flexibilização da atividade, com o controle da pandemia, não tem assegurado, como se esperava, uma expansão mais firme da economia. Até tivemos momentos de expansão em V, como tanto fala o ministro Paulo Guedes. Só que uma combinação adversa de fatores, aqui e no exterior, tem colocado entraves nesse processo. Não sem motivo o mercado tem reduzido, já há algum tempo, as projeções de avanço do PIB neste e no próximo ano, sem desconsiderar um avanço inferior a 1% em 2022. E a frustração desta última semana, com a queda da produção industrial e das vendas do comércio, só reforçou a tendência. 

Há problemas do lado da oferta e da demanda para sustentar uma performance mais favorável, mesmo que a atividade, em geral, ainda possa ser beneficiada pela flexibilização maior de áreas importantes do setor de Serviços. Mas do lado da oferta tem o aumento dos custos com as crises hídrica e de energia, que também impactam o poder de compra das famílias e podem persistir por um bom tempo. Embora o início das chuvas diminua o risco de racionamento, as tarifas podem pesar ainda mais diante da persistente utilização das usinas termelétricas, fora as despesas adicionais incluídas da PEC da crise hídrica e no projeto que permite a privatização da Eletrobrás, com a construção de gasodutos e instalações em áreas sem estrutura, os tais jabutis.

O custo a ser repassado para os consumidores pode beirar os R$ 50 bilhões. O setor produtivo ainda encara o desequilíbrio da oferta de insumos provocado pela crise de energia que ocorre, também, na China, com cortes na produção de peças e componentes, o que se repete em outros países asiáticos, mas pelo fechamento de fábricas em função do controle da pandemia, diante da vacinação atrasada. As consequências por aqui vão da maior pressão de custos às pausas na produção, como por exemplo a da indústria automobilística, cuja falta da oferta de veículos já levou a uma queda de 25% nas vendas do varejo em setembro.

Fora isso, no âmbito doméstico, vê-se um movimento inflacionário mais espalhado, com a inflação oficial do IPCA rodando em dois dígitos no acumulado de 12 meses. São choques sucessivos de energia, de alimentos e de combustíveis, além da recomposição de margens e a própria indexação, reforçadas pela persistência do dólar em patamar elevado. Essa situação, é claro, compromete o poder de compra do consumidor, ainda prejudicado pela elevação dos juros, necessária para conter a inflação, e pelo desemprego.

Esse cenário pode nos remeter a mais riscos do lado fiscal. Baixo crescimento com aperto financeiro da população vão na contramão da popularidade. Daí começam as se fortalecer propostas populistas. Sem entrar no mérito ou na importância social, propostas como a ampliação do Bolsa Família, sem fontes de financiamento garantidas, forçando espaço no teto de gastos, mais o vale gás e as tentativas de segurar preços dos combustíveis via mexidas no ICMS revelam toda a preocupação em dar à população a impressão de que tudo está sendo feito para trazer alívio em problemas sobre os quais o governo não teria responsabilidade. Mas não custa lembrar que o dólar, componente importante na formação de vários preços, subiu alguns degraus junto com a fervura dos embates políticos e por ideias como o “calote” dos precatórios.

Por mais que essas medidas tenham apelo popular, elas colaboram para o aumento da percepção de risco e para uma menor confiança dos agentes econômicos quanto à responsabilidade fiscal, afetando decisões que poderiam colaborar para um alívio de cenário, como a ampliação de investimentos e maior atratividade do capital externo.

Mas, nesse sentido, ainda com peso dos fatores externos, especialmente as mudanças dos programas de estímulo dos governos e de bancos centrais, que também estão tendo de lidar com os desafios da inflação em meio às incertezas quanto ao ritmo de retomada das economias. Sendo que um dos movimentos que causam mais apreensão é o esperado ajuste na política do Federal Reserve nos Estados Unidos, que já pode começar em novembro.

Não vivemos uma situação de crise. A economia pode crescer em 2022, mas certamente menos que o esperado e o necessário para corrigir problemas como o desemprego elevado, o forte desequilíbrio da renda e o aumento da pobreza, fatores ainda prejudicados pela inflação, que pode oferecer resistência, apesar da alta dos juros, que também tira fôlego da atividade e de investimentos produtivos. Ciclo bastante complicado, com muitos problemas interligados.

Temos perspectivas melhores com novos marcos regulatórios, privatizações e concessões, só que sem maior impacto no curto prazo, sobre este cenário de desafios que temos daqui para 2022, onde ainda se tem de considerar todo o ambiente relacionado às eleições. 

Em meio a esse emaranhado de incertezas, há espaço para a reação da Bolsa, já que os desempenhos setoriais são diferenciados e o mercado de ações aqui está defasado, tanto em relação à recuperação da economia que houve pós a retração de 2020 como em comparação às bolsas no exterior. Juros em alta, por sua vez, beneficiam o planejamento na renda fixa, e até em ativos ligados ao câmbio e à inflação podem assegurar melhores resultados. Mas os investidores têm de estar atentos a todos esses ruídos no âmbito internacional e doméstico. Análises e informações mais aprofundadas são cada vez mais relevantes para minimizar riscos e aumentar o potencial de ganho.

Leia a última coluna da Denise Campos de Toledo: Mercado mantém foco nas incertezas.

 

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