Os indicadores mais recentes do emprego, tanto americanos quanto brasileiros, mostram uma melhora no mercado de trabalho global. Na sexta-feira (04), o BLS (Bureau of Labor Statistics ), versão americana do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou a criação de empregos não-agrícolas (“non farm payroll”) de janeiro. Esse é o principal indicador de emprego da economia americana.
Os números surpreenderam. Em janeiro foram abertas 467 mil vagas, quase quatro vezes mais do que a expectativa, que era da abertura de 125 mil postos de trabalho. Além disso, como sempre acontece, o número de dezembro foi revisado. A estimativa preliminar havia sido de 199 mil vagas. O número revisado avançou para 510 mil.
Esses dois números mostram uma melhora no mercado de trabalho. Porém, dois dias antes, na quarta-feira (02), a empresa americana de processamento de dados ADP divulgou que o setor privado havia fechado 310 mil vagas em janeiro. Foi a primeira queda desde dezembro de 2020, e uma surpresa para os investidores. Os prognósticos eram de criação de 207 mil vagas.
Qual número está correto? O crescimento divulgado pelo BLS ou a queda divulgada pela ADP? Os dois números estão corretos. Os resultados são diferentes porque os universos de coleta de dados são diferentes. A ADP observa apenas empresas privadas, que processam suas folhas de pagamento em seus sistemas. Já o BLS observa tanto o setor privado quanto o setor público. E nos Estados Unidos, os servidores públicos, especialmente dos setores de educação e segurança, como militares e bombeiros, representam uma fatia significativa da força de trabalho.
Na prática, os dados do emprego nos Estados Unidos mostram um aumento do número de contratações em janeiro e um revisão para cima dos dados de dezembro. O fim do ano é, tradicionalmente, uma época de alta no mercado de trabalho. Muitas empresas do comércio, da indústria e dos serviços fazem contratações temporárias para as festas de fim de ano. Em geral, esse movimento arrefece em janeiro. Porém, a pujança dos números, especialmente com o aumento dos casos de contaminação pela variante Ômicron do coronavírus, mostram uma economia americana mais aquecida.
Sempre é bom lembrar: o nível de emprego é o indicador econômico mais “atrasado”. Os empresários hesitam em dispensar quando a atividade arrefece, para não ter o custo de recrutar e treinar novos colaboradoras na retomada. Da mesma maneira, quem dispensou quer estar seguro antes de recontratar. Por isso, os números indicam que a economia americana vem caminhando para a normalidade. Isso eleva as expectativas de que o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, acelere o aperto de sua política monetária.
Haverá mais certeza na quinta-feira (10), quando será divulgada a inflação para o consumidor nos Estados Unidos. Até dezembro, a alta de preços em 12 meses foi de 7,0%, nível mais elevado desde junho de 1982. A continuidade da inflação nesse patamar sustentará as expectativas de juros americanos mais altos antes do esperado.
Relatório Focus
A edição desta segunda-feira do Relatório Focus divulgada pelo BC (Banco Central) mostra um aumento da inflação esperada para este ano. A projeção para o IPCA subiu para 5,44% ante 5,38% da edição anterior. As demais expectativas seguem estáveis. A taxa Selic esperada para dezembro segue em 11,75% por cento e o crescimento da economia continua em 0,30%.
E Eu Com Isso?
Os contratos futuros do Ibovespa iniciam o dia em queda, devido à perspectiva de mais elevação dos juros nos Estados Unidos. Já os contratos futuros do índice americano S&P começam a semana perto de zero.
As notícias são negativas para a Bolsa em um cenário de volatilidade.
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