Após o forte movimento de correção de preços da segunda-feira (21), provocado pela notícia do surgimento de uma variante do coronavírus 70 por cento mais contagiosa, os preços dos ativos entraram em compasso de espera nesta terça-feira (22). No entanto, essa pausa não é apenas uma parada em busca de novas notícias. É uma mudança na maneira de o mercado analisar o impacto da pandemia sobre a economia e os preços dos ativos financeiros.
Nos últimos dias do ano formou-se um novo consenso entre os investidores. Esse novo consenso é o de que a existência de uma vacina eficaz contra o coronavírus e sua aplicação em larga escala sobre as populações deixou de ser uma questão de “se” e passou a ser uma questão de “quando”. Ou seja, são dados como certos os fatos de que 1) haverá uma vacina, 2) ela funciona e 3) ela será aplicada de modo a permitir que a economia retorne a algo parecido com o que era antes da pandemia.
Essas convicções têm o poder de mudar tudo nos preços dos ativos. Desde o fim do primeiro trimestre, quando a convicção da pandemia se tornou prevalente, as duas grandes incógnitas na cabeça dos investidores ao redor do mundo eram se a economia iria, um dia, voltar ao normal e qual seria esse “novo normal”, para usar uma expressão nova e já um pouco desgastada. Agora, a vacina é dada como líquida e certa. Ou seja, é apenas uma questão de tempo para que as principais restrições à circulação de pessoas sejam levantadas.
A questão é que, quando isso ocorrer, o “novo normal” encontrará o sistema financeiro mundial ainda sob o efeito da maior injeção de liquidez pelos bancos centrais da história da economia, o que poderá sustentar novas altas recordes nos preços dos ativos financeiros, com índices de inflação controlados. Assim, podemos estar no início de mais uma onda de valorização acentuada dos preços dos ativos em escala global. Saber surfar essa onda fará uma diferença estrutural no patrimônio do investidor.
Quais os riscos desse cenário? A de que haja um evento inesperado e imprevisível, como por exemplo o surgimento de uma variante incontrolável do coronavírus que frustre todas as tentativas de normalização. No entanto, isso ainda está distante do radar dos investidores, e por isso não pode ser inserido nos cálculos.
Indicadores I
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) indicou alta de 1,06 por cento em dezembro e fechou 2020 com aumento de 4,23 por cento. O resultado, divulgado nesta terça-feira (22) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é a maior variação anual desde os 6,58 por cento de 2016. Em 2019, o acumulado do IPCA-15 foi de 3,91 por cento.
O índice de dezembro foi 0,25 ponto percentual acima dos 0,81 por cento de novembro, indicado a maior variação mensal desde os 1,11 por cento de junho de 2018. Em dezembro de 2019, o IPCA-15 foi de 1,05 por cento. Em dezembro, a maior variação (2 por cento) e o maior impacto (0,42 ponto percentual) ficaram, novamente, com Alimentação e Bebidas. Este grupo encerrou o ano com alta acumulada de 14,36 por cento, a maior desde os 18,11 por cento de 2002.
Indicadores II
O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) caiu para 78,5 pontos em dezembro, uma baixa de 3,2 pontos em relação a novembro. Foi a terceira queda consecutiva. Medido em médias móveis trimestrais, o ICC cedeu 1,6 ponto, encerrando uma tendência de alta iniciada em julho desse ano, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV) na manhã desta terça-feira. O Índice de Situação Atual (ISA) cedeu 2,1 pontos, para 69,7 pontos, enquanto o Índice de Expectativas (IE) recuou 3,7 pontos, para 85,6 pontos.
E Eu Com Isso?
A aproximação dos feriados do fim do ano reduz a liquidez dos mercados, o que potencialmente amplifica as oscilações. Os contratos futuros do Índice Bovespa e do índice americano S&P 500 iniciam a terça-feira com uma leve alta, ainda repercutindo a aprovação do pacote de ajuda econômica de 900 bilhões de dólares pelo Congresso americano.