Câmbio alto deve permanecer, diz Paulo Guedes
A segunda-feira (25) foi um novo dia de recorde para as taxas de câmbio. Segundo a cotação oficial do Banco Central (BC), a chamada Ptax, a taxa de câmbio encerrou o dia a 4,215 reais, alta de 0,53 por cento, cravando um novo pico nominal. O que catalisou a apreciação da moeda americana na segunda-feira foi a notícia de um déficit de 7,8 bilhões de dólares no saldo de transações correntes de outubro. Foi o pior resultado para este mês desde 2014, e superou até mesmo a expectativa mais pessimista entre os analistas de mercado, que previam um déficit de 6,1 bilhões de dólares. No entanto, há mais fatores para explicar a apreciação da moeda americana em relação ao real.
A lenta recuperação da economia brasileira e a dificuldade de atrair investimentos internacionais têm jogado contra o real. O governo também anunciou dados parciais da balança comercial para novembro, que caminha para fechar no vermelho, o que não acontece desde novembro de 2014.
A melhora da economia brasileira e a redução do ritmo da economia internacional devido à guerra comercial entre China e Estados Unidos (e, no caso brasileiro, devido à crise na Argentina) fez com que o setor externo atuasse como um freio no crescimento econômico. A avaliação dos especialistas do Banco Votorantim é que a contribuição externa líquida sobre o Produto Interno Bruto (PIB) tenha sido negativa em meio ponto percentual sobre o PIB. Esses movimentos também drenaram dólares, pois aumentaram as importações e reduziram tanto as exportações quanto os Investimentos Estrangeiros Diretos (IED), um dos itens mais importantes da conta de transações correntes.
Até há poucos anos, dólar alto representava sinal de problemas. Crise. Fuga de investidores estrangeiros e nacionais, que estavam tentando blindar seu patrimônio contra os solavancos da economia doméstica, reais ou imaginários. E, para piorar as coisas, Paulo Guedes, ministro da Economia, disse na segunda-feira em Washington que “é bom a população e os investidores se acostumarem” com o câmbio valorizado. Este raciocínio vale?
Em termos. Em um regime de câmbio flutuante, como o que vigora há quase 21 anos, o preço do dólar em relação ao real é um excelente amortecedor das diferenças de ritmo entre as economias do Brasil e as de seus principais parceiros comerciais. Claro que um câmbio apreciado quer dizer que há menos dólar na praça.
Isso não é, necessariamente, um mau sinal. A melhora da economia brasileira e a redução do ritmo da economia internacional devido à guerra comercial entre China e Estados Unidos (e, no caso brasileiro, devido à crise na Argentina) fez com que o setor externo atuasse como um freio no crescimento econômico.
Há outros fatores. A queda forte e, ao que tudo indica, sustentável dos juros reduz a diferença entre a rentabilidade dos investimentos no Brasil e em outros países, o que diminui a vinda de capital especulativo. Além disso, também estimula as empresas a quitar suas dívidas em dólar e a captar recursos em reais, para evitar os riscos de mudanças no câmbio e cortar os custos dos mecanismos de hedge. Tudo isso são movimentos naturais da economia, mas eles atuam na mesma direção, de reduzir a oferta de dólar na praça.
E Eu Com Isso?
Os investidores acostumaram-se a pensar que dólar apreciado é, no geral, ruim para a bolsa. Apesar de beneficiar as ações de empresas exportadoras, um real fraco em relação à moeda americana indica menos investidores internacionais, os quais têm sido os compradores finais de ações.
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