Na noite desta segunda-feira (22), o braço de atacarejo do Grupo Pão de Açúcar (PCAR3), Assaí, divulgou seus primeiros resultados de maneira independente de sua antiga controladora. A divulgação ocorre após a aprovação da cisão e listagem do Assaí na B3 e na bolsa de Nova Iorque (NYSE), atuando agora 100 por cento como companhia independente do GPA.
A estreia na B3 da companhia (ASAI3) será no dia 1º de março, com as ações sendo distribuídas aos detentores das ações do GPA (PCAR3) até o dia 26 de fevereiro, data de corte, na mesma proporção da estrutura acionária do Grupo.
Os resultados vieram bons e puxados pelo forte ritmo de expansão da rede de lojas pelo país, com abertura de mais 19 unidades em 10 estados diferentes, chegando a 184 no total.
Os principais destaques positivos foram:
i) Crescimento consistente de receita bruta, com forte expansão de 33,4 por cento no 4T20 em relação ao 4T19, com 20 por cento de crescimento no indicador Vendas em Mesmas Lojas (Same Store Sales – SSS), devido ao rápido ritmo de maturação de lojas inauguradas em trimestres anteriores. No ano de 2020 o crescimento da receita bruta foi de 29,4 por cento em relação a 2019, alcançando 39,4 bilhões de reais.
ii) Manutenção da margem bruta em 17,1 por cento no 4T20 e crescimento menor das despesas operacionais (Vendas e Administrativas) que a receita, contribuindo para um Ebitda recorrente recorde (métrica aproximada de geração de caixa operacional) de 2,696 bilhões de reais em 2020, com margem Ebitda crescente de 7,5 por cento (0,5 ponto percentual superior a 2019).
iii) Forte geração de caixa operacional no ano, de 2,1 bilhões de reais, contribuindo para a redução da alavancagem financeira de 3,77 vezes em 2019 para 1,76 vezes em 2020, medido pela relação dívida líquida/Ebitda.
Além disso, houve expansão do lucro líquido em 25 por cento no ano, alcançando 299 milhões de reais e margem líquida recorde de 2,8 por cento.
E Eu Com Isso?
Acreditamos que os resultados da Atacadista Assaí vieram com desempenho muito forte, sobretudo neste 4T20, puxado pelas promoções de Black Friday e abertura de 9 das 19 lojas no ano. O desempenho forte da métrica vendas mesmas lojas (SSS), indica que mesmo as lojas mais antigas, sobretudo na região Sudeste, ainda vêm expandindo suas receitas por metro quadrado de loja, superando os níveis de inflação de alimentos.
Enxergamos um impacto positivo no preço das ações de PCAR3 no curto prazo, ainda negociada sem a cisão, refletindo o excelente desempenho do Assaí. Com a divulgação dos resultados anuais do restante da operação do GPA na noite desta terça-feira (23), acreditamos que o mercado possa precificar de maneira mais precisa as ações de ambas as empresas, podendo destravar parcialmente o valor de PCAR3 no curto prazo, que ainda enxergamos com desconto em relação ao valor intrínseco (justo).
A expansão da rede de atacarejo do Assaí necessita de baixo investimento por loja e apresenta um tempo de maturação acelerado, com a empresa escolhendo estrategicamente em cidades e regiões no qual o Assaí possa ser referência de compras. Isso permite uma geração de caixa positiva e expansão das métricas de rentabilidade mantendo o ritmo forte de crescimento.
O desempenho da companhia veio superior ao seu principal concorrente, Atacadão, braço de atacarejo do Carrefour Brasil (CRFB3), com expansão maior de receita no período e a métrica de receita líquida por metro quadrado de loja ainda bastante superior em relação à concorrência (4,4 mil reais por metro quadrado contra cerca de 3,5 mil reais do Atacadão e 3,0 mil reais do grupo Mateus – GMAT3).
A gestão da companhia já aponta uma previsão (guidance) de expansão de cerca de 20 lojas por ano, no mesmo ritmo forte de anos anteriores, o que acreditamos ser plausível, com o mercado de varejo alimentar em fase de consolidação forte, no qual os pequenos negócios locais vêm sofrendo com a demanda e o repasse da inflação de alimentos, de modo que a escala de uma rede grande permite praticar preços mais competitivos.
Além disso, há uma mudança que aparenta ser permanente no comportamento do consumidor, que vem buscando maior economia nas compras para a casa, reforçado pela pandemia e crise econômica no país, o que favorece ainda mais o crescimento da companhia, que cresce com recursos para investimentos provenientes da própria geração de caixa operacional.