Na coluna de hoje vou falar sobre a pergunta mais frequente que recebo dos meus leitores/seguidores aqui na Levante: “Eduardo, até que preço determinada ação vai subir no pregão de hoje?”
Minha resposta como Especialista de Ações, devidamente certificado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e pela Associação dos Analistas e Profissionais do Mercado de Capitais (Apimec), que me concedeu um Certificado Nacional do Profissional de Investimento (CNPI) é a seguinte:
“Se eu soubesse quanto uma ação vai subir em determinado dia, eu não precisaria trabalhar, não é mesmo?”
Diferença entre valor de mercado e valor intrínseco
O valor de mercado de uma empresa de capital aberto oscila diariamente com as flutuações no preço das ações na bolsa de valores, de acordo com o humor dos investidores.
Entretanto, o valor justo ou intrínseco de uma empresa não varia tanto quanto o preço das suas ações. Quem dita as regras é o “senhor mercado”.
Como diria Warren Buffet: “preço é o que você paga, valor é o que você recebe.”
O valor de mercado (ou preço) das ações na bolsa varia conforme dois sentimentos opostos dos investidores: euforia (que provoca a ganância) e pânico (que provoca medo). O resultado são os chamados mercados de alta (touro, ou bull market) e de baixa (urso ou bear market).
O valor de mercado (ou preço) oscila ao redor do valor intrínseco (justo) de uma empresa conforme muda o sentimento do mercado em relação ao setor ou à empresa (ação).
Em um momento de pânico, o preço das ações pode ficar abaixo do valor justo da empresa. Em momentos de euforia, o valor de mercado da empresa na bolsa pode ficar mais alto que o valor intrínseco da empresa.
Esse movimento é parecido com o movimento de um pêndulo, aquele das aulas de física: o valor justo da empresa fica no meio e nos pontos extremos temos o valor de mercado dos sentimentos do medo e da ganância.
As notícias afetam os fundamentos e o valor intrínseco da empresa
Quando a empresa divulga um fato relevante, como uma aquisição, um comunicado ao mercado e mesmo um resultado trimestral, há impacto nos fundamentos econômicos da empresa e, portanto, no seu valor justo no futuro.
Entretanto, esses eventos não acontecem todos os dias. Portanto, o valor intrínseco de uma empresa não apresenta oscilações tão fortes diariamente.
Um exemplo recente de fato relevante que afeta significativamente o valor justo da empresa: a Hypera Pharma (antiga Hypermarcas) anunciou, no dia 18 de dezembro, a aquisição de duas linhas de medicamentos antiespasmódicos (os famosos “remédios para cólicas”) muito conhecidas, o Buscopan e o Buscofem. A transação, fechada por R$ 1,3 bilhão, permitirá à Hypera explorar um medicamento vendido sem prescrição (os chamados medicamentos de balcão, ou OTC) cuja receita líquida é bem relevante e está estimada em R$ 300 milhões por ano. Isso vai mudar o patamar de faturamento consolidado da Hypera.
Os analistas que acompanham os fundamentos econômicos da Hypera precisam estimar o impacto desta aquisição no valor intrínseco da empresa e estima seu efeito no preço justo das ações no longo prazo.
Entretanto, as vezes o preço das ações não se comporta como o esperado no curto prazo. Assim, os preços de mercado caem, apesar de a aquisição provavelmente gerar valor para os acionistas no curto prazo.
Em tempo: as ações da Hypera Pharma (HYPE3) fecharam em alta de 3,84% no dia 18 de dezembro, o que significa que o mercado ficou animado com a notícia de aquisição do Buscopan.
Investir em ações é como uma maratona
O meu trabalho como especialista de ações é fazer a análise dos fundamentos das empresas na bolsa, determinar o valor justo das suas ações através da filosofia de Value Investing, com visão de longo prazo no investimento.
Geralmente utilizo o modelo de fluxo de caixa descontado (DCF) para determinar o valor justo de uma empresa, com projeção de cinco a dez anos no futuro. Assim, não estou falando de uma corrida de cem metros rasos, com horizonte de curto prazo para analisar os eventos relevantes da empresa e; sim uma visão de longo prazo de geração de valor para os acionistas.
Conclusão
Acredito que o movimento no preço das ações no curto prazo tem pouca relação com o valor justo de uma empresa no longo prazo. Eu tenho bastante experiência em análise fundamentalista de empresas para calcular preço justo de uma ação na bolsa de valores, mas não tenho a MENOR ideia do comportamento do preço das ações no curto prazo, não sou trader.
Por último, eu ressalto que não tenho como operar eventos corporativos (ex: qual empresa vai comprar a Oi, quando e por qual preço?), não tenho informações privilegiadas, e não dou muito importância aos boatos e fofocas.