Texto escrito por João Gabriel Chebante, consultor de marketing
Olá, leitor da Levante!
Após um período de estudos – que incluiu cursos de Venture Capital (VC), Investimento Anjo e Modelagem Financeira -, estou de volta com meus artigos sobre o universo das startups.
Como estamos no final de ano, é normal que economistas e gestores de recursos estejam realizando previsões para 2020, logicamente com base nos resultados atuais e em projeções. Assim, você consegue (tenta?) lidar com a expectativa dos investidores.
O fato é: o mercado de Venture Capital na América Latina nunca viveu tamanha abundância de recursos. Para efeito de comparação, o volume de investimentos aumentou sete vezes em cinco anos, atingindo US$ 3,5 bilhões em 2019.
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Três quartos deste volume foi alocado no Brasil no período.
E, em 2020, veremos ainda mais interesse sobre o tema, pois investidores estão procurando ativos com maior potencial de remuneração e uma boa startup, quando bem-sucedida, pode apresentar ótimos múltiplos (cerca de 25% dos casos pode representar ganhos acima de cinco vezes o que foi investido em um prazo de dez anos). A perspectiva é que Family Offices e gestoras comecem a montar suas áreas para mapeamento e aporte em novos projetos.
Desse modo, as empresas se aproximarão ainda mais, começando a formar áreas de Corporate Venture para investimento direto em novos negócios, oferecendo sua rede e seus profissionais para maximizar valor. A Lei da Informática, que abona Imposto de Renda em prol do desenvolvimento tecnológico do país, será um catalisador neste sentido.
Haverá, portanto, recursos e uma forte demanda de profissionais para trabalhar teses de investimentos, originação e suporte às investidas. Além de aumentar o interesse de investidores pessoa física em atuar como investidores-anjo ou para seguir a estratégia de um fundo. Não ficaria surpreso se a XP e outras corretoras começassem a oferecer chamadas para fundos próprios ou de terceiros dedicados a este segmento. Por exemplo, o BTG já tem produtos e um ecossistema neste sentido – é um benchmark que será assistido pelos demais investidores.
Mas fica uma reflexão que irá virar artigos por aqui, na Levante, mais à frente: o excesso de liquidez somado à falta de critério, não raro, forma bolhas. E o investidor brasileiro não possui o mesmo grau de conhecimento sobre Venture Capital que possuem os investidores de locais como Estados Unidos, Israel e Inglaterra – grandes praças do VC global.
Além de tudo, na minha visão, temos algumas carências estruturais:
- Faltam profissionais de tecnologia para suportar novos negócios, o que torna o “passe” deles mais caros.
- A academia não forma alunos, pelo menos ainda, com o viés de desenvolver novos negócios como perspectiva de carreira.
- O empreendedor novato brasileiro não tem educação para lidar com investimentos de risco, o que pode comprometer sua trajetória em busca de escalar seu projeto e/ou tomar recursos de terceiros.
- Não há cultura de “saída” de negócios, ou seja, uma estratégia de venda do projeto durante o momento de crescimento. Ao mesmo tempo, também, não temos estratégia de compra de empresas por grandes organizações.
- A primeira safra de unicórnios está começando a gerar liquidez aos sócios-fundadores, que serão investidores/empreendedores nos próximos anos.
Portanto, teremos um 2020 muito interessante, mas com pontos de atenção e muito estudo por parte de quem está dentro ou almeja entrar como investidor ou empreendedor no prisma mais arriscado e fascinante do mercado financeiro. Fique atento, pois falaremos mais sobre os gargalos do Venture Capital e sobre diferentes oportunidades de vencê-los nos próximos artigos.