Denise Campos de Toledo EECI

Freio de arrumação ameniza reações mais negativas do mercado

A primeira semana do novo governo já exigiu um freio de arrumação, definido na reunião ministerial desta sexta feira, para alinhar os objetivos e propostas mais relevantes do governo, evitando ruídos desnecessários, por declarações, como os que agitaram o mercado nos primeiros dias. Foram ruídos sobre possível revisão da reforma da previdência, da trabalhista, interferência na política de preços da Petrobras. Tudo isso após a percepção ruim que ficou das idas e vindas em relação à manutenção ou não da desoneração dos combustíveis. Se acabou optando pela prorrogação parcial, mais curta, até final de fevereiro, para a gasolina e o etanol, o que pode indicar a adoção de outras estratégias. O problema foi que a palavra final não foi de Haddad, mas de Lula, com interferência do núcleo político, preocupados com a repercussão do aumento imediato dos preços dos combustíveis e do gás de cozinha. Aliás, postos que já aumentaram os preços no embalo das discussões estão sendo investigados, sob suspeita de formação de cartel, em alguns locais.

Mas, deixando de lado as cabeçadas iniciais, há sinalizações muito positivas em várias áreas, como meio ambiente, cultura, educação, esportes, relações internacionais e mesmo na economia. Apesar da demora na definição do tão esperado arcabouço fiscal, de uma nova âncora para as contas públicas, após Lula dizer que o teto não tem importância, vazaram cálculos da equipe de Haddad para tentar garantir um ajuste de R$ 223 bilhões nas contas. O próprio ministro da Fazenda, no discurso de posse salientou a responsabilidade fiscal. Assim como Simone Tebet, do Planejamento, que admite divergências com Haddad na definição orçamentária, mas ressaltando que isso pode ser benéfico e manteve uma posição firme quanto à necessidade de as ações para os mais pobres e a melhoria das várias áreas caberem no orçamento, mas com responsabilidade, busca pelo equilíbrio fiscal e redução da dívida.

Por outro lado, o vice-presidente Geraldo Alckmin, na pasta da indústria, promete políticas de desenvolvimento, com preocupações ambientais e avanço de reformas, como a tributária, que possam alavancar melhor desempenho do setor. Sendo que os dados do IBGE, referentes à novembro de 2022, só reafirmaram, nesta quinta-feira, as dificuldades para a indústria recuperar patamares de produção de antes da pandemia e muito mais para atingir os picos de atividade de muitos anos atrás. 

O freio de arrumação conseguiu conter as reações mais negativas do mercado, mas, por enquanto o que temos, na área econômica mais especificamente, são declarações de intenções, composição ainda parcial das equipes, com sinalizações do que se pretende fazer, mas sem propostas concretas. Propostas que poderão balizar expectativas mais reais em relação aos próximos anos. As incertezas prosseguem, ainda pelo receio de que as ações sociais para melhor distribuição de renda, redução da pobreza, do risco alimentar, da falta de moradias e assistência, muito necessárias é bom ressaltar, dificultem uma gestão mais eficiente dos gastos públicos e do orçamento. Fora posicionamentos que lembram os da esquerda mais antiga por parte de alguns integrantes de equipe de governo, mas que podem ter as iniciativas barradas não só por reações adversas do mercado e da imprensa, como pelo Congresso e a própria experiência de Lula quanto ao desgastes que determinados embates podem produzir. 

A definição das propostas das várias áreas de governo, em especial da Fazenda e do Planejamento, é que poderá trazer mais confiança em relação ao fiscal que, como sabemos, é o que tende a diminuir a volatilidade do mercado e dos preços dos ativos. Sendo que o mercado ainda terá de lidar com pressões que vêm de fora, como a continuidade da elevação dos juros, como confirmou o Federal Reserve nesta semana, e os riscos implícitos de um pior desempenho da economia global.

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