A decisão do Copom de elevar os juros básicos para 10,75% ao ano, deixando de sinalizar qual será o tamanho do ajuste na próxima reunião, teve uma boa repercussão. Na prática, o Comitê deixa de assumir o compromisso com uma elevação mais pesada da Selic, que possa ter impacto mais negativo sobre a atividade, induzindo uma retração da economia agora em 2022, quando se trabalha, de qualquer modo, com uma expansão perto de zero. O Copom deverá definir os próximos passos com base na evolução do cenário, observando o comportamento da inflação e fatores de pressão, como o dólar, petróleo, incertezas fiscais, as mudanças do cenário externo, inclusive com o início do ciclo de alta dos juros nos Estados Unidos e a evolução da atividade, ainda comprometida pela Ômicron.
A sinalização de ajustes menos pesados, no entanto, não quer dizer que o ajuste total não possa levar a Selic para a faixa dos 12%, como ainda prevê parte do mercado. Fato é que as projeções de inflação e os próprios índices persistem acima do desejável. No comunicado que saiu junto com a decisão sobre a Selic, a estimativa para o IPCA de 2022 subiu de 4,7% para 5,4%, acima do teto da meta, de 5%; e para 2023, que passa a ser o principal alvo da política monetária, a projeção permaneceu em 3,2%, encostada no centro da meta do próximo ano, que é 3,25%. Trabalhar com uma inflação ao redor do teto, indicando resposta menos intensa na gestão dos juros, não significa que o BC tenha jogado a toalha. A questão é que juros muito mais altos talvez não consigam derrubar a inflação numa economia que já vem perdendo o fôlego. A questão não tem sido a pressão da demanda e vale lembrar que o fato de, em pouco mais de um ano, a Selic ter avançado de 2% para quase 11% ao ano não alterou muito a trajetória de alta da inflação nem garantiu a convergência das projeções para a meta.
Esse tem sido um dilema para os vários BCs, como vimos com o Europeu, que optou por manter as taxas nesta semana, o da Inglaterra que promoveu leve aumento, o da China que chegou a cortar as taxas e mesmo o Fed, que vem lidando com dados irregularidades de atividade e emprego, ainda influenciados pela nova onda da pandemia. O discurso é mais duro, mas, na prática, ainda se vê uma certa resistência na adoção de aperto mais forte. Por isso, o mercado prevê de quatro a oito aumentos dos juros ao longo deste ano, fora o aperto na liquidez.
Para o Brasil, a médio prazo, os ajustes externos não devem trazer maiores dificuldades em termos de fluxo, se considerarmos apenas a questão dos juros. O diferencial entre os juros domésticos e os praticados no exterior tende a manter a atratividade do país. A Bolsa, por outro lado, também mantém a atratividade com preços ainda baixos. O balanço de janeiro, com a forte recuperação do mercado acionário, queda do dólar e ingresso de R$ 32,5 bilhões confirma o quanto é importante essa atratividade. É ver se outros fatores não terão maior peso, afugentando o smart money, que é o que tem tido maior participação. No exterior temos, além das mudanças nas políticas de juros, os temores geopolíticos, resultados de balanço corporativos e os indicadores de atividade também provocando movimentos pontuais de aversão ao risco. Internamente, persistem as dúvidas quanto ao andamento da economia, o compromisso fiscal do governo, as eleições e as propostas dos principais candidatos à presidência. Condições que tendem a deixar os investidores mais ariscos.
A curva de juros aqui no Brasil, agora sem uma sinalização mais clara do BC quanto aos ajustes da Selic, deve refletir muito as expectativas do mercado e o balanço de riscos. Mas, para os investidores as condições de rentabilidade já melhoraram bastante, após um longo período de ganhos negativos. Já escolher entre as aplicações pré ou pós fixadas depende muito das avaliações quanto a esse balanço de riscos. Em princípio, há possibilidade de a taxa básica de juros ter algum corte ainda neste ano, se houver uma desaceleração mais relevante da inflação. O Focus projeta a Selic em 8% no próximo ano. Mesmo assim, ainda haveria uma margem real importante, considerando a previsão de inflação, para 2023, ao redor do centro da meta, dos 3,25%.
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