Uma inflação elevada nunca é uma notícia boa. Isso é verdade tanto no Brasil, onde a inflação tem um histórico tenebroso, quanto nos Estados Unidos, onde o trauma com altas de preços não é tão grande assim. Por isso, a reação dessa entidade chamada mercado durante a quarta-feira (12) requer um momento de explicação.
Aos fatos. Logo durante a manhã, o BLS (Bureau of Labor Statistics) divulgou a inflação ao consumidor americano em dezembro. O CPI (Consumer Price Index) amplo subiu 0,5% no mês passado. Foi um resultado inferior aos 0,8% de novembro, mas que foi o suficiente para fazer a inflação de 2021 ficar em 7,0%, nível mais alto desde para um período de 12 meses desde junho de 1982.
O núcleo da inflação (“core index”), que não considera os preços mais voláteis de alimentos e de combustíveis, subiu 0,6% em dezembro, acima do 0,5% registrado em novembro. No acumulado do ano, o “core index” indica uma inflação de 5,5%, a mais elevada desde o período de 12 meses encerrado em fevereiro de 1991.
No entanto, a reação do mercado a essas notícias foi, na pior das hipóteses, amena. Nos Estados Unidos, os índices S&P 500, Dow Jones e Nasdaq fecharam com pequenas altas. Por aqui, o Ibovespa avançou mais de 1,8% e retornou à faixa de 105 mil pontos. Mais do que isso, o dólar futuro, indicador por excelência das expectativas de curto prazo, recuou 0,7% para R$ 5,556.
Como explicar isso? Com um velho ditado do mercado: “compre no boato e venda no fato”. Simplificando, monte sua estratégia de investimentos antecipadamente, com base em expectativas e em sua capacidade – ou na capacidade das pessoas que lhe assessoram – de antecipar cenários e prever tendências. Uma vez que esses cenários se tornarem realidade, encerre sua posição, embolse os lucros ou contabilize os prejuízos e parta para a estratégia seguinte.
Foi mais ou menos o que ocorreu nos mercados internacionais. A perspectiva de que a inflação ao consumidor nos Estados Unidos seria a mais alta em décadas já estava dada, antecipada e devidamente precificada nos ativos financeiros. Por isso, sua confirmação reduziu a incerteza dos investidores e aliviou a volatilidade. Foi uma notícia ruim, mas que era plenamente esperada, daí seu efeito foi o inverso do que seria de se esperar.
Além disso, voltando ao princípio de tomar decisões de investimento com base no cenário provável de amanhã, em vez de fazer isso olhando para os fatos ocorridos hoje. Em suas declarações mais recentes, Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, vem reiterando que o Fed vai começar a elevar os juros e a reduzir a liquidez da economia ainda neste ano. Isso deverá ajudar a fazer a inflação nos Estados Unidos retornar ao centro das metas previstas. Além disso, com menos dinheiro em circulação, os preços internacionais das commodities podem desacelerar ou mesmo cair, o que também poderia beneficiar os países emergentes, Brasil entre eles.
Assim, a notícia ruim da inflação americana elevada teve um lado positivo: ela confirmou expectativas e clareou o caminho que deve ser seguido pelo Fed. Certezas têm valor. Por isso, os preços sobem.
Indicadores
O setor de serviços cresceu 2,4% em novembro na comparação com outubro, após dois meses de taxas negativas. O resultado fez o setor recuperar-se da perda acumulada de 2,2% do bimestre.
Com o resultado de novembro, o setor ficou 4,5% acima do patamar pré-pandemia, registrado em fevereiro de 2020, mas está 7,3% abaixo do recorde alcançado em novembro de 2014. Os dados são da PMS (Pesquisa Mensal de Serviços), divulgada nesta quinta-feira (13) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
E Eu Com Isso?
Os contratos futuros do Ibovespa iniciam o pregão da quinta-feira com uma leve queda, em função da alta da véspera. Já nos Estados Unidos, os contratos futuros do índice S&P 500 indicam a continuidade do movimento de valorização da quarta-feira, o que pode elevar a volatilidade do mercado brasileiro.
As notícias são negativas para a Bolsa em um cenário de volatilidade.
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