O mercado vem dando bastante atenção ao cenário eleitoral brasileiro para tentar entender quais serão as condições econômicas e de negócios para os próximos anos no Brasil. Naturalmente, a imprevisibilidade desse pleito torna difícil uma análise mais apurada das chances reais de cada candidato e sobre quem vai conquistar os eleitores indecisos.
Por isso, temos visto fortes oscilações no dólar e na Bolsa de Valores, reflexo da precificação dos cenários feita pelos investidores. Notícias positivas sobre candidatos reformistas e alinhados com a visão do mercado acalmam o Ibovespa e seguram o dólar (e vice-versa).
O exemplo americano
Nas eleições dos EUA — bastante diferentes das nossas — o presidente que obtém a maioria dos 50 estados consegue ser eleito. Alguns Estados são declaradamente de maioria republicana, enquanto outros são democratas. Os analistas, então, se debruçam naqueles Estados em que não há um histórico de votação consolidado, nem para um nem para outro partido. Esse grupo é definitivo para a eleição e foi apelidado de “swing states”, em apologia a um pêndulo.
Os “swing states” brasileiros
Nesse artigo, vou traçar um perfil do eleitorado que ainda não decidiu seus votos para que você, investidor, saiba quem serão os “swing states” brasileiros. Vou me basear na pesquisa mais próxima do momento e com a maior amostra feita até agora: do Instituto Datafolha, publicada nesta quarta-feira (22).
O Datafolha entrevistou 8.433 indivíduos maiores de 16 anos, proporcionalmente à totalidade da população brasileira: O perfil mais entrevistado foi feminino (53%), com idade entre 45 e 59 anos (24%), de escolaridade média (43%) e da região Sudeste (44%).
É interessante observar que na resposta espontânea (aquela que não cita nomes), 41% dos entrevistados não sabem em quem votariam e 14% votariam em branco ou nulo. Esse número, já considerado grande, aumenta quando o recorte é feito para as mulheres: são 50% indecisas e 15% votando nulo ou branco. No Datafolha de junho, esse número chegou a 80%, somadas as duas opções.
Com ou sem Lula?
No cenário estimulado sem Lula, perto de 35% das mulheres não decidiram seu voto ou devem votar em branco/nulo, enquanto que a porcentagem no universo dos homens fica somente em 21%. Olhando para outros critérios, o eleitor mais indeciso tem mais de 60 anos, ensino fundamental e ganha até 2 salários mínimos.
A indecisão desse grupo é diretamente ligada à ausência de Lula do páreo. Até pelo perfil de menos escolaridade e baixa renda, muitos desses eleitores têm forte ligação com o petista, até pelos avanços e oportunidades oferecidos em seu primeiro governo.
A verdade é que nenhum político parece encantar como Lulinha paz e amor encantou. Bolsonaro encantaria um país ideologicamente mais à direita, mas o eleitorado brasileiro vota historicamente na centro-esquerda ou centro-direita. Não à toa seus altos índices de rejeição, junto com o petista, que está preso. Uma pesquisa de 2017 do Datafolha mostra que 30% da população se identifica com valores sociais, políticos, culturais e econômicos alinhados com a centro-direita e 31% com a centro-esquerda.
Ademais, parece existir um claro descolamento entre os candidatos e esse eleitorado feminino que ainda não se decidiu. Para além do fato de que a maioria dos candidatos são homens, as eleitoras mulheres definiram que o tema mais importante para tratar é a saúde, praticamente na contramão dos temas mais quentes no momento, como corrupção, reformas econômicas e segurança pública. É tentar convencer seu amigo de dieta a te acompanhar em um rodízio de churrasco.
O espólio de Lula: quem conquistará os eleitores indecisos?
Somente Marina Silva atrai o espólio de Lula: suas intenções de voto dobram (de 10% para 19%) entre as mulheres quando o petista não está entre os candidatos. Mesmo assim, a acreana parece esbarrar nos mesmo desafios que sempre lhe atormentaram. Faltam umas boas pitadas de firmeza e posicionamento político da candidata para conquistar o restante dos eleitores.
Com tantas linhas políticas diferentes, a cruzada coletiva dos candidatos é tentar conquistar uma fatia desse bolo indeciso. O namoro não deve ser fácil para ninguém, mas aquele que der voz e atenção ao grupo pode conquistá-lo. Afinal, é possível que 15% dos votos garanta uma vaga no segundo turno.
Das cruzadas individuais, também me parece tudo bastante definido. Alckmin precisa cortar o queijo com a faca que tem na mão e Bolsonaro torcer para outubro chegar logo; Ciro Gomes deve atirar para todo lado, em busca de um salto nas intenções de voto; Haddad, torcer para a estratégia do PT, que até agora funcionou, resultar na transferência de votos necessários. Já Marina Silva precisa se assumir como terceira via para consolidar posicionamentos mais fortes. O resto já não deve ter muitas aspirações.
Nossos “swing states” não são Estados, mas sim pessoas com um grupo de características semelhantes. O lado bom é que até você, investidor, pode convencer aquela pessoa próxima, mulher de meia idade, a votar em quem confia para governar o país nos próximos 4 anos.
Um abraço,
Felipe Berenguer