A terça-feira foi um dia turbulento para os investidores. O Ibovespa caiu mais de 3% e o dólar se aproximou de R$ 5,60, alta de 1,3% em relação à véspera.
Como o comportamento dos preços nos mercados internacionais foi relativamente estável, a volatilidade teve causas totalmente internas. A saber, a discussão do governo de alterar, na prática, o teto de gastos para pagar o Auxílio Brasil, programa que vai substituir o Bolsa Família.
Para entender o caso. O auxílio emergencial de R$ 300 por mês se encerra em poucos dias, no fim de outubro. A intenção do governo é transformar esse programa no Auxílio Brasil, que vai substituir o Bolsa Família, e elevar o valor dos atuais R$ 150 a R$ 375 por mês para R$ 400 por mês.
De onde virá o dinheiro?
Durante toda a terça-feira (19), esperava-se um anúncio de que parte desses R$ 400 de gastos seriam contabilizados fora do teto de gastos. Na prática, isso quer dizer que o governo deixará de cumprir o teto de gastos, piorando sua situação fiscal.
Na ponta do lápis, a fatura está estimada em R$ 30 bilhões, mas esse valor pode ser maior. Pode haver algum malabarismo para que o teto de gastos seja contornado, e não rompido formalmente. Mas a mera perspectiva de uma explosão nas despesas, batendo de frente com o pensamento do ministro da Economia, Paulo Guedes, foi o suficiente para piorar as expectativas dos investidores, e essa piora puxou o dólar e derrubou as ações. Tanto que o anúncio do novo valor estava previsto para o fim da tarde de ontem e foi adiado devido à repercussão negativa no mercado.
O que é mais prejudicial para as expectativas dos investidores nessa história toda?
Não é apenas o aumento de gastos. Elevar os gastos públicos é ruim. Ruim para as expectativas, ruim para a solvência da dívida pública e ruim para a manutenção da inflação.
No entanto, o que é mais prejudicial é a percepção, por essa entidade chamada mercado, que o governo está dividido.
Por um lado, a ala “política”, com maior ou menor apoio do próprio presidente, insiste no aumento dos gastos de olho tanto na economia quanto na eleição que ocorrerá daqui a um ano.
De outro lado, a área econômica, que defende a estabilidade fiscal, a manutenção do teto de gastos e o equilíbrio das contas públicas.
Tanto os defensores da estabilidade fiscal quanto os favoráveis à leniência com os gastos públicos para superar a crise vão concordar que, pior do que um governo gastador é um governo que não tem certeza de para onde vai. Ou seja, a nova percepção é de um risco maior para os investidores.
E Eu Com Isso?
Os contratos futuros de Ibovespa iniciam a sessão com uma leve baixa, assim como os contratos futuros do índice americano S&P 500.
A indefinição deve manter os preços pressionados, embora não se descartem mudanças abruptas de direção se houver surpresas no noticiário.
As notícias são negativas para a bolsa em um cenário de volatilidade.
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