O Banco Central (BC) divulgou, nesta terça-feira (22), a Ata da reunião de número 239 do Copom (Comitê de Política Monetária), realizada nos dias 15 e 16 de junho.
A Ata trouxe uma mudança significativa na avaliação do Copom sobre a economia. Se até a reunião anterior o Comitê ainda não tinha uma opinião formada sobre o comportamento da inflação, agora não restam dúvidas.
Na avaliação do Comitê há riscos de inflação e a necessidade de endurecer a política monetária.
A linguagem dos comunicados do BC é neutra e busca ser o mais técnica possível. Por isso, é mais fácil entender as mudanças entre a reunião mais recente (de junho) e a anterior, realizada no início de maio, comparando os textos das duas Atas.
E a edição mais recente é claríssima. A política “estimulativa” que o BC adotou para mitigar o impacto negativo da pandemia está perto do fim.
Isso fica claro logo no terceiro parágrafo. O texto mudou de “[as] medidas de inflação subjacente apresentam-se no topo do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação” para “[as] medidas de inflação subjacente apresentam apresentam-se acima do intervalo compatível.”
E o Copom notou que a expectativa de inflação para 2021, segundo o Relatório Focus, subiu de 5,0% para 5,8%.
No quinto parágrafo, o Copom nota que a inflação está mais persistente do que o esperado, “sobretudo entre os bens industriais”, e que “implicações da deterioração do cenário hídrico sobre as tarifas de energia elétrica contribuem para manter a inflação elevada no curto prazo, a despeito da recente apreciação do Real”.
Com isso, a taxa de juros projetada para 2021 elevou-se para 6,25% ante os 5,50% da reunião anterior.
A seguir, o velho problema do desequilíbrio das contas públicas. “Novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia (…) podem elevar os prêmios de risco do país. Apesar da melhora recente nos indicadores de sustentabilidade da dívida pública, o risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos”.
Sem novidades aqui, exceto que o Copom já não citou “frustrações em relação à continuidade das reformas.”
Mais adiante, a Ata indica preocupação do Copom com o cenário internacional, citando que os índices de inflação em vários países desenvolvidos vieram acima do esperado.
“Para o Comitê, novas discussões sobre o risco de um aumento duradouro da inflação nos Estados Unidos podem tornar o ambiente para as economias emergentes desafiador.”
Depois, a Ata mostra que o aumento do nível de atividade e a redução, ainda que heterogênea, dos níveis de ociosidade da economia brasileira, podem levar a um crescimento acima do esperado.
Adicionados ao risco fiscal, esses fatores justificam “uma trajetória para a política monetária menos estimulativa do que a utilizada no cenário básico.”
A conclusão é inegável. Os juros deverão subir 0,75 ponto percentual podendo subir até mais na próxima reunião do Comitê, caso os indicadores de inflação e de atividade econômica continuem a ficar acima do esperado.
E Eu Com Isso?
A divulgação de uma Ata tão dura – ou, no jargão do mercado, “hawkish” pelo Copom indica uma trajetória ascendente para os juros.
Além disso, a proposta de tributação dos dividendos, que começará a ser discutida acrescenta um componente de instabilidade às cotações.
Com isso, apesar da alta dos contratos futuros do índice americano S&P 500 no início da manhã, os contratos futuros de Ibovespa iniciam o dia em queda.
As notícias são negativas para a Bolsa.
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