Política sem Aspas, por Felipe Berenguer

Renan Calheiros, raposas e galinheiros | Política sem Aspas

Max Weber, um dos fundadores da sociologia moderna, influenciou diversos estudos de diferentes campos de conhecimento. Sua obra tem respaldo na economia, na filosofia, no direito, na administração e na ciência política.

A origem de grande parte das ideias weberianas está no questionamento do autor sobre o  que motiva as pessoas a realizarem determinadas ações – quais valores elas creem, como se dá a relação entre pessoas, etc. Para buscar entender esses comportamentos, Weber criou os típicos ideais, figuras inexistentes do ponto de vista empírico, porém, cujas características podiam formar um grupo, do ponto de vista sociológico, com base em elementos concretos e históricos.

Com base nessa metodologia, Weber publicou algumas importantes conferências, posteriormente consagradas, como “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, “A ciência como vocação” e “A política como vocação”.

Nesta última obra, que é resultado de uma palestra ministrada por Weber em 1919, na Universidade de Munique (Alemanha), e mais nos interessa, Weber argumenta que o político ideal teria três principais características: a paixão, o sentimento de responsabilidade e a acuidade visual. A paixão para viver para a política, e não da política. A responsabilidade para ter consciência dos paradoxos éticos que surgirão quando no poder. E a acuidade visual para manter certa distância dos acontecimentos que se desdobram e equilíbrio interior.

O autor resume nessa passagem da obra as três características citadas: “política é como a perfuração lenta de tábuas duras. Exige tanto paixão como perspectiva. Certamente, toda experiência histórica confirma a verdade – que o homem não teria alcançado o possível se repetidas vezes não tivesse tentado o impossível. Mas, para isso, o homem deve ser um líder, e não apenas um líder, mas também um herói, num sentido muito sóbrio da palavra. E mesmo os que não são líderes nem heróis podem armar-se com a fortaleza de coração que pode enfrentar até mesmo o desmoronar de todas as esperanças.”

 Pode-se transpor toda a teoria de Weber para os dias atuais e dentro do contexto brasileiro, talvez não para identificar exemplos de políticos ideais, mas sim para entender as dinâmicas de poder observadas em Brasília, assim como para personagens que já fincaram suas raízes nos corredores do Congresso Nacional, Esplanada dos Ministérios e Palácio do Planalto. Um desses personagens é o senador da República pelo estado de Alagoas, José Renan Vasconcelos Calheiros.

Presente em Brasília desde 1983 – quando tinha apenas 28 anos – Renan Calheiros é senador desde 1995 e foi presidente da Casa no triênio 2005-2007 e entre 2013 e 2017. Ligado ao MDB, ele é uma das figuras mais controversas, experientes e fisiológicas da política brasileira.

Recentemente, quem acompanha a política mais de perto lembra da tentativa do senador de se eleger novamente presidente do Senado Federal em 2019, contra o então candidato Davi Alcolumbre (DEM-AP), em um pleito marcado por confusão e muita manobra política. Após o episódio, o político alagoano resolveu sair dos holofotes por um período – mas, como bom político profissional, sua decisão teve a sobriedade necessária para se reinventar dentro do rearranjo de forças.

Com a derrota para a presidência do Senado, o cacique do MDB voltou às articulações internas do partido e ajudou a eleger o atual líder partidário no Senado, Eduardo Braga (AM). Enquanto isso, viu o fenômeno Arthur Lira (PP) eclodir, resultando na vitória do alagoano nas eleições para a presidência da Câmara dos Deputados e fortalecimento de seu nome nas bases eleitorais da família Calheiros. Vale lembrar: Renan Calheiros Filho é o atual governador do estado de Alagoas e sua família é tradicionalíssima no estado.

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A literatura especializada conta da força de grandes elites políticas regionais, elemento fundamental para fenômenos como o mandonismo, o filhotismo e o coronelismo no Brasil. Hoje, com o amadurecimento da democracia, esse tipo de movimento é muito mais latente, mas ainda tem seus resquícios Brasil afora – ou melhor, nos inúmeros “Brasis” que existem dentro do Brasil.

Hábil e esguio, Renan teve de reconstruir seu caminho de volta ao centro da política brasileira e o fez com maestria. Estando no partido com a maior bancada do Senado, o alagoano rapidamente se articulou entre seus pares para tomar a vanguarda do diálogo com outros senadores quando percebeu que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 seria, de fato, instalada.

Sem muitas dificuldades – inclusive, como veremos, com uma “ajudinha” do governo, Renan Calheiros voltou a ter papel importantíssimo de destaque, sendo nomeado relator da CPI composta por 11 senadores e que tem como objetivo investigar eventuais irregularidades e omissões do governo federal na gestão da pandemia.

“Ajudinha” porque a deputada bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP) protocolou uma ação popular solicitando que Renan não pudesse ser relator da CPI, às vésperas da instauração dos trabalhos no Senado. Para não entrar em mais detalhes, o que você precisa saber é que a peça se sustentava em argumentos jurídicos extremamente frágeis.

Logo, o que poderia ser, supostamente, uma vitória do governo – adiando a instalação da CPI por meio de um imbróglio jurídico –, ao cabo, gerou efeitos reversos no campo jurídico e político.

A liminar foi derrubada em instâncias superiores e mesmo no Supremo Tribunal Federal, sob justificativa de que não cabe ao Judiciário interferir em assuntos de uma Casa Legislativa. Em segundo, o acordo político entre os integrantes da comissão já estava pacificado, com Omar Aziz (PSD-AM) como presidente e Renan Calheiros como relator.

Sendo assim, a manobra frustrada tornou ainda mais hostil o ambiente da CPI, em que o governo é minoria e depende de bom diálogo com o relator, Renan Calheiros, para aparar as arestas no texto final. Dito e feito: nesta primeira semana, o relator deitou e rolou sobre os governistas ao subir o tom contra a Covid-19 e, indiretamente, contra o governo. “Nossa cruzada será contra a agenda da morte. Contra o caos social, a fome, o descalabro institucional, o morticínio, a ruína econômica, o negacionismo”, proferiu Renan em seu discurso de abertura.

O jogo político é envolvente, cruel e meândrico. Por isso, os mais profissionais o fazem com muita atenção e tato. Renan, gostemos ou não, vive da política – e muito bem, por sinal. O atual mandato do senador alagoano dura até 2027 e, com isso, serão 32 anos atuando no Senado Federal. Não se passa esse tempo na Casa Legislativa mais nobre do país por obra do acaso. O governo que trate de jogar o jogo como gente grande.

Quer aprofundar mais seus conhecimentos em assuntos como mercado e política? Então leia esta minha coluna: As urnas abertas da América Latina | Política sem Aspas.

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