Denise Campos de Toledo EECI

Copo meio cheio | Denise Campos de Toledo

Independentemente dos números de fechamento de mês, abril se encerra deixando a impressão de uma disposição do mercado em ficar mais otimista. Claro que não faltaram motivos para muita volatilidade, até nos últimos dias.

No Brasil tivemos as discussões sobre o orçamento, que acabou sancionado, mas deixando muitos pontos em aberto. Desde pressões internas no governo por verbas para áreas essenciais, como o financiamento de moradias populares até o Censo, que pode ter de ser realizado por determinação judicial.

Sem esquecer que, mesmo sem gastos “extras”, ainda ficou implícito o risco de dificuldades para o cumprimento do teto de gastos. Mas a novela da sanção acabou, sem maiores danos e ajudou nesse suposto ânimo.

No âmbito político, a CPI da Covid, que pode produzir muito ruído, tem potencial para deixar o governo mais enfraquecido, mas sem chegar ao risco de impeachment, e, por essa leitura, também não teve maior impacto sobre os ativos.

Ainda houve toda a troca de cadeiras no Ministério da Economia, que gerou uma pressão momentânea, mas acabou sendo vista como uma forma de Guedes se sustentar, ter mais diálogo com o Congresso e evitar pressões da base aliada, por um desmembramento da pasta e ocupação política de algumas áreas.

Falando em Brasil, não podemos deixar de lado toda a gravidade da pandemia, a apreensão com o atraso do cronograma de vacinação e da própria oferta de insumos, mas fica a aposta em uma melhora nos próximos meses até com a oferta de outras vacinas.

E programas importantes, do ponto de vista econômico e social, como o auxílio emergencial, o de preservação do Emprego e da Renda e o Pronampe estão de volta.

Esses são apenas alguns fatores que poderiam ter produzido muito mais pressão sobre o mercado, mas sobre os quais se preferiu ter uma avaliação do “copo meio cheio”.

Os balanços estão vindo bem; a perspectiva de mais alta dos juros pode melhorar o fluxo e conter o câmbio, com menos peso na inflação; a agenda de reformas pode avançar e a economia voltar a crescer, mais para o segundo semestre.

O viés mais otimista, que se percebeu em várias ocasiões, ajudou bastante a Bolsa a defender um patamar mais alto para o Ibovespa, fez o dólar descer alguns degraus em relação ao pico dos R$ 5,80 de março e evitou oscilações mais fortes na curva de juros.

Ainda tem a influência do exterior. Dos Estados Unidos veio um susto com a indicações de um aumento pesado da taxação sobre os mais ricos, especialmente nos ganhos de capital. Ameaça para os investidores.

Mas a vacinação está avançando; programas de estímulo podem garantir um crescimento mais sustentável, além da forte retomada já sinalizada por vários indicadores; o Federal Reserve tende a manter juros baixos por mais um bom tempo, ainda que os treasuries insistam em desafiar essa indicação.

Mesmo com a tributação mais pesada, que ainda pode ser ajustada pelo Congresso, os Estados Unidos têm animado o mercado global, assim como a retomada da China e até a perspectiva de reação da Europa, ainda atrasada com as vacinas. A safra de balanços no exterior também tem trazido boas surpresas.

A Índia é que surgiu como um grande fator de incerteza pela disparada da segunda onda da pandemia. Mas o lockdown com vacinação em massa, até pela colaboração externa, podem facilitar o controle. Enfim, há motivos para se contar com perspectiva melhores também no cenário exterior, aliás, mais do que no doméstico.

Foi essa visão mais favorável que sustentou um desempenho mais positivo do mercado durante a maior parte do mês de abril. Mas é uma questão de leitura e do que se pode esperar de desdobramentos dos vários fatores e condições citados.

Fica uma luz amarela como atenção para riscos potenciais. Ainda caminhamos em terreno irregular, que não nos livra de alguns tombos. Cautela sempre é bem-vinda, até pra driblar os tais riscos e aproveitar as boas oportunidades.

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