Depois de muitas idas e vindas, se conseguiu chegar a um entendimento em torno do orçamento deste ano. Longe de ser a melhor alternativa, acabou sendo o melhor dentro do atual contexto político.
O governo escapa de implicações legais e evita atritos com a base de apoio, que não quis ceder muito em relação às emendas. Gastos relacionados à pandemia, que são importantes para o atual momento social e econômico, ficam fora do teto, há corte parcial de emendas em relação ao texto original, e a equipe econômica ganha margem de manobra para cortar despesas discricionárias e poder bancar as obrigatórias.
Não que isso represente alguma folga. A situação continua apertada para o cumprimento do teto e da meta fiscal. Só não está pior porque houve toda uma contabilidade criativa para ajuste dos interesses políticos, passando a ideia de responsabilidade fiscal.
Mas acabou sendo melhor do que algumas ideias mirabolantes que surgiram nas últimas semanas e foram motivo para muita instabilidade e desconfiança do mercado. Além disso, se voltou a falar em avanço da agenda de reformas e privatizações, como Eletrobrás e Correios.
Paralelamente, ainda temos o governo tentando assumir uma postura mais diplomática e conciliadora em relação à questão climática e o meio ambiente. Foi o que ficou de declarações anteriores e a própria participação do presidente Bolsonaro na Cúpula do Clima.
Isso após a troca de comando do Itamaraty, que também indicou uma possibilidade de melhora nas relações internacionais. Falta, agora, convencer com ações e números mais efetivos. Mas se vê, pelo menos, uma posição de menos confronto, o que deixa subentendida a percepção que é preciso alguma mudança para evitar problemas maiores do ponto de vista externo e interno.
A pandemia e os entraves políticos que vem trazendo para o governo, desde as dificuldades para a obtenção de vacinas e insumos até a instalação da CPI da Covid, junto com a queda de popularidade, talvez, levem a um reposicionamento em várias frentes.
De novo se percebe uma falta de convicção mais consistente. Mas se alguns resultados forem obtidos já será muito positivo para o País. Da mesma forma que o orçamento também parece estabelecer uma certa trégua política e fiscal.
Em meio a tudo isso, o mercado local ainda acompanha com atenção os sinais de melhora do cenário externo, especialmente dos Estados Unidos, apesar das preocupações ainda presentes com novas ondas da pandemia.
Se percebe um direcionamento mais favorável dos ativos, desde a curva de juros até o dólar, com a Bolsa defendendo um nível mais alto para o Ibovespa. E ainda há um “esforço” para adequar as expectativas à sinalização, muito clara e persistente, do Banco Central de que na próxima reunião do Copom virá mesmo uma elevação de 0,75 pp na Selic e não de 1 ponto como muitos ainda acreditam, diante dos números ainda não muito favoráveis da inflação e a própria incerteza fiscal.
O que temos é a resiliência prevalecendo em muitas frentes onde, certamente, poderíamos avançar de forma muito mais satisfatória.
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