Na noite desta quarta-feira (31), após o fechamento do mercado, a M. Dias Branco apresentou resultados do 4T20 e do consolidado do ano de 2020. A empresa líder de mercado em massas, biscoitos, óleos e alimentos relacionados ao trigo obteve um ano bastante promissor até o 3T20, com consumo impulsionado sobretudo pelo programa de auxílio emergencial no país, aumentando o consumo de alimentos em geral da população brasileira.
Porém com a alta cada vez maior dos preços dos insumos (trigo e óleo de palma) e do câmbio continuamente desfavorável (dólar cada vez mais alto), pressionou as margens neste 4T20, que vieram abaixo do esperado e afetaram negativamente o resultado.
O ponto positivo foi o aumento na receita líquida da companhia no 4T20, mesmo com queda forte na demanda, alcançando 1,7 bilhão de reais (aumento de 0,4 por cento em relação ao 4T19). No ano a companhia obteve um crescimento de 18,8 por cento na receita líquida, alcançando 7,25 bilhões de reais.
Já os pontos negativos ficam na produtividade da companhia no 4T20 e nas margens operacionais, como dito, fortemente pressionados pela alta do trigo e do dólar no mercado internacional.
A margem bruta ficou em 28,6 por cento no 4T20, abaixo dos 32 por cento pela primeira vez em mais de 8 trimestres, com tendência de queda desde o 2T20. O lucro bruto no trimestre ficou em 487,2 milhões de reais, 23,7 por cento abaixo do obtido no mesmo trimestre do ano anterior. No consolidado do ano de 2020, a margem bruta ficou em 32,8 por cento, ainda 2,6 pontos percentuais em relação a 2019.
O Ebitda (métrica de geração de caixa operacional), ajustado por efeitos não-recorrentes, sobretudo do ganho obtido na exclusão de ICMS no cálculo do PIS/Cofins, ficou em 59 milhões de reais no 4T20, uma queda expressiva de 79 por cento em relação a 4T19. No ano, o Ebitda recorrente ficou em 706 milhões de reais, cerca de 10 por cento abaixo do apresentado em 2019.
O lucro líquido da companhia sofreu o mesmo efeito em 2020, com o resultado líquido no 4T20, excluindo os efeitos não-recorrentes, foi de 56 milhões de reais, uma queda de 78,8 por cento ante 4T19. No ano, porém, a companhia alcançou um lucro líquido recorrente de 568,4 milhões de reais, um crescimento de 2,1 por cento em relação a 2019.
E Eu Com Isso?
O auxílio emergencial em menor valor, combinados com o reajuste de preços ao consumidor dos produtos da marca no 4T20 para repassar a alta de custos, gerou um movimento de redução no consumo dos produtos vendidos pela empresa (massas, biscoitos e afins), se tornando itens supérfluos no orçamento das famílias.
Esperamos uma reação negativa no preço das ações da companhia (MDIA3) no curto prazo, com a pressão de custos ainda pela frente, o que deve seguir, prejudicando a rentabilidade por mais alguns meses.
A M. Dias Branco se beneficia diretamente de uma economia doméstica saudável e em curso de crescimento, mais do que as demais companhias de alimentos de capital aberto em bolsa, porém também é sensível em cenário negativo da economia em geral, que é o que ocorre atualmente, por alguns fatores:
i) o trigo, principal insumo, além de não ser produzido em grande quantidade no país, é cotado em dólar, o que encarece em caso de economia frágil, com câmbio desfavorável;
ii) A gama de produtos é tido como uma alternativa para uma alimentação mais barata, porém justamente pelos produtos integrarem a cesta básica, uma queda brusca na renda em períodos de crise, a demanda pelos produtos tende a cair.
Olhando pelo lado positivo, a empresa é capaz de direcionar esforços para contornar a alta de custos e possui uma gestão que faz um uso disciplinado de seu capital, mantendo o endividamento em níveis baixíssimos (fechou o ano com relação de 0,4x Dív. Líq/Ebitda)
Além disso, a companhia continuamente executa projetos que permitem um ganho de eficiência, como o Projeto Multiplique, que segundo a companhia, já gerou uma economia recorrente de 184 milhões de reais nos resultados do ano de 2020. Além do mais, por possuir em seu portfólio marcas top of mind, em uma recuperação econômica, a companhia tende a se beneficiar de maneira mais forte que a concorrência.
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