A economia brasileira vive momento dos mais desafiadores. A pandemia acentua várias incertezas, como as condições de retomada do crescimento e de um ajuste mais eficaz das finanças. As necessárias restrições de atividade pesam no desempenho geral da economia, além de afetarem a geração de tributos, fora os gastos adicionais na área de saúde e para minimizar o impacto social.
A PEC emergencial que dá condições de retorno do auxílio emergencial com alguma compensação, posterga demais os gatilhos e sofreu reduções importantes no que se esperava de contenção de despesas. Mais que isso: mostrou a força de lobbies poderosos no sentido de preservação de direitos, que antecipam dificuldades para uma reforma administrativa que possa ter maior eficácia, na diminuição dos custos do Estado e em tempo mais curto.
Paralelamente, há uma preocupação maior com a inflação, ainda rodando acima do teto das projeções, com uma disseminação maior dos aumentos de preços, boa parte relacionada à alta das commodities no exterior e ao dólar. Dólar que, por sua vez, reflete as incertezas econômicas e políticas. Econômicas, por tudo que já citei, mais as intervenções do governo e da Justiça, fragilizando regras de contrato ou de mercado. Destaque recente para a Petrobras e as decorrentes mexidas em tributos.
No que diz respeito à Justiça, teve até a reversão do caso Lula, que nos remete a várias outras incertezas, que vão de uma nociva polarização das eleições de 2022, reduzindo espaço para fortalecimento de outras lideranças; possibilidade de o atual governo assumir posturas mais populistas para ampliar a popularidade, deixando mais de lado a política econômica liberal, prometida desde as eleições anteriores. Na versão mais positiva dos prognósticos, podemos esperar maior responsabilidade com a agenda, de forma a viabilizar mudanças estruturais, que ajudem a consolidar um quadro de maior crescimento e atração de investimentos. Ainda a conferir…
Com relação à inflação, dólar, incertezas do cenário e dificuldades de ajuste das contas fica a provável elevação da Selic na reunião deste mês do Copom, já dada quase como certa a elevação em, pelo menos, meio ponto, com ampliação do ajuste total que poderá ser necessário.
As intervenções do Banco Central no câmbio, com a colocação de swaps e oferta a vista mais que minimizar a pressão, tentam passar maior confiança quanto ao controle da inflação, nos parâmetros das metas, tentando evitar a piora das projeções quanto à elevação da Selic e da própria inflação.
Nesse ambiente, que ainda tem sofrido influência externa, como da recente alta dos juros dos treasuries americanos, difícil contar com estabilidade maior do mercado ou definição de tendência mais favorável. Parece certo apenas que as aplicações atreladas aos juros poderão ter algum reforço no ganho nominal. Nominal, porque o real ainda vai continuar sendo corroído pela inflação mais alta.