A Uber apresentou nesta quarta-feira (10) os seus resultados do quarto trimestre de 2020. Os números foram mistos, com a mobilidade (caronas) vindo bem abaixo do esperado, algo que foi parcialmente compensado pelo delivery (Uber Eats). Assim, as receitas decepcionaram, enquanto o lucro líquido veio em linha com as expectativas.
As vendas brutas totais (Gross Billings) foram de 17,15 bilhões de dólares, em linha com o esperado. Porém, a receita líquida acabou vindo abaixo: 3,16 bilhões de dólares, queda de 15,1 por cento na comparação anual. Esperava-se algo em torno dos 3,5 a 3,6 bilhões de dólares.
Neste trimestre, o número de consumidores médios mensais ativos ficou em 93 milhões, 19 por cento a mais que no 3T20, mas 16 por cento a menos que no 4T19. O número de viagens foi de 1,44 bilhões: 25,5 por cento a mais que no 3T20, mas 24,3 por cento a menos que no 4T19.
O resultado operacional medido pelo Ebitda foi negativo em 454 milhões de dólares, com margem negativa de 14,3 por cento. No 4T19, a margem Ebitda havia sido negativa em 16,5 por cento.
Por fim, o resultado líquido por ação foi um prejuízo de 0,54 dólares por ação, em linha com o esperado. O resultado foi melhor que no 4T19, quando o resultado líquido por ação foi um prejuízo de 0,64 dólares por ação.
E Eu Com Isso?
O resultado da Uber veio misto. Como as ações subiram 5,9 por cento na véspera e a linha de receitas – fator muito importante para empresas sensíveis à tese de investimento ligada ao crescimento – decepcionou, esperamos um desempenho negativo no preço das ações UBER na sessão desta quinta-feira.
O resultado da Uber é quase todo oriundo das suas operações de mobilidade (caronas) e delivery de comida (Uber Eats). Das vendas brutas totais, que é o que efetivamente pagamos quando pedimos “um Uber” ou alguma refeição através da plataforma Eats, a Uber fica com uma comissão (take rate) em cima do pedido, que no caso das caronas é em torno dos 23-24 por cento e no caso das comidas, na casa dos 13 por cento.
Neste trimestre, as comissões (take rate) não sofreram grandes alterações. Logo, elas não são responsáveis pela decepção na linha de receitas.
O que aconteceu foi uma “piora de mix de canal”. Esperava-se um desempenho melhor da mobilidade. Contudo, as vendas brutas totais deste canal caíram 49,8 por cento na comparação com o mesmo período de 2019, variação quase igual ao 3T20, quando a queda foi de 53 por cento. O delivery até surpreendeu: cresceu 130 por cento, repetindo a taxa apresentada no 3T20, mas não foi o suficiente para compensar o principal segmento.
Além de uma comissão maior, a mobilidade é, do ponto de vista operacional, bem mais madura, com margem Ebitda positiva, na casa dos 15-20 por cento. Já a Uber Eats, ainda apresenta margem negativa, mas com uma melhora trimestre a trimestre. A margem saiu de -100 por cento no 4T19 para margem de -10,7 por cento neste trimestre.
O caso de investimento da Uber é totalmente ligado à estratégia de crescimento/Growth. O resultado operacional ainda é negativo, mas há uma clara tendência de ganhos de escala trimestre a trimestre.
A pandemia adiou o plano da Uber de registrar seu primeiro lucro trimestral. Mesmo assim, o mercado segue otimista com a tese: as ações sobem 49 por cento nos últimos 12 meses, enquanto o S&P 500 registra ganhos de 16,7 por cento.