Pandemias e medidas de isolamento à parte, os investidores terão uma folga nos próximos dias. O pregão da B3 vai encerrar suas atividades às 17 horas da sexta-feira (12) e só retoma os trabalhos às 13 horas da quarta-feira (17). A folga não se limita ao Brasil. Nesta quinta-feira (11), os pregões já não funcionaram na China e permanecerão fechados por mais uma semana devido ao feriado do Ano Novo Lunar, a maior paralisação das atividades na segunda economia do mundo.
Isso dará tempo para que muita coisa aconteça no País e no mundo, e que só terá reflexo nos mercados brasileiros posteriormente, apesar de os American Depositary Receipts (ADR) de empresas brasileiras continuarem sendo negociados durante o carnaval.
Pausas na azáfama diária são momentos propícios para levantarmos vista para além do dia a dia e tentar colocar as coisas em uma perspectiva de mais longo prazo. E, olhando para isso, é possível ter pelo menos duas razões para otimismo. A primeira são os bons números das aberturas de capital, mostrando que ainda há empresários dispostos a compartilhar o controle e os resultados de suas empresas com os investidores. A segunda é uma mudança legal que veio tarde, mas chegou, a independência do Banco Central (BC), aprovada com ampla maioria na Câmara dos Deputados na quarta-feira (10).
Começando pelos IPOs. Os lançamentos de ações já somam R$ 11,4 bilhões em 2021. Nesta quinta-feira (11), estreiam na Bolsa o grupo educacional Cruzeiro do Sul e a empresa de decoração Westwing. Com elas, o número de estreantes no pregão neste ano chega a nove. São quase 11 bilhões de reais em ações vendidas. Somando-se os 2,75 bilhões de reais da oferta subsequente (follow-on) da empresa de TI LocaWeb, são cerca de 14 bilhões de reais. Não se descarta a hipótese de que, ao fim deste ano, tenha sido quebrado o recorde de 149,2 bilhões captados em 2010. Lembrando que, naquele ano, o total foi inflado pelo follow-on de 120 bilhões de reais da Petrobras.
Além da pujança das cifras, os primeiros lançamentos deste ano mostram outra qualidade: a diversidade dos setores. Em fevereiro, a B3 teve seu momento Vale do Silício, com a chegada de três empresas ligadas à economia digital. Foram elas a Mosaico, dona dos comparadores de preços Buscapé, Bondfaro e Zoom, a Bemobi, que oferece assinatura de aplicativos para celular e a loja online de móveis Mobly. Isso ao lado de companhias do bem menos glamuroso setor industrial, como a Intelbras, e a usina de bioenergia Jalles Machado, primeira companhia goiana a chegar ao pregão.
A autonomia do Banco Central (BC) também é algo a se comemorar. Esse é um daqueles assuntos que parece não ter nenhuma importância na vida prática, mas que é fundamental para a estabilidade da economia no longo prazo. Com a mudança aprovada ontem, o presidente e os diretores do BC passam a ter mandatos fixos. Deliberadamente, a troca de comando da autoridade monetária ocorre o mais longe possível das eleições presidenciais, de modo a blindar o comando do BC de influências políticas.
Nos últimos anos, o BC brasileiro – e o País – tiveram a sorte de contar com dois banqueiros centrais não apenas competentes como também respeitados pelo sistema financeiro, Ilan Goldfajn e Roberto Campos Neto. Isso permitiu a manutenção dos juros baixos sem que houvesse um disparo da inflação. E a atuação recente do BC, instalando e depois cancelando o forward guidance (que pretendia definir uma trajetória de longo prazo para os juros) e advertindo contra os riscos da alta de preços, mostra maturidade e responsabilidade da instituição. Isso é excelente. Porém, algo tão fulcral quanto a política monetária não pode ser deixado ao sabor da sorte. Em uma mudança de governo, o sucessor de Campos Neto não pode ser tolerante com políticas populistas. Por isso, a aprovação da autonomia do BC deve ser comemorada, pois retira do radar um risco frequentemente subavaliado.
Indicadores
O setor de serviços ficou estável em dezembro frente a novembro, com uma leve retração de 0,2 por cento. O resultado interrompeu uma sequência de seis meses consecutivos de alta. Apesar do ganho acumulado de 18,9 por cento nesse período, o volume de serviços ainda se encontra 3,8 por cento abaixo do patamar de fevereiro, quando as medidas de isolamento social para controle da pandemia de Covid-19 ainda não haviam sido adotadas. Com isso, o setor encerrou o ano com uma queda acumulada de 7,8 por cento entre janeiro e dezembro. Os dados constam da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), divulgada nesta quinta-feira (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi a queda mais intensa desse indicador desde o início da PMS, em 2012.
E Eu Com Isso?
Os contratos futuros de Ibovespa e do índice americano S&P 500 iniciam a sessão em alta. No Brasil, o estímulo é pela aprovação da independência do Banco Central. Nos Estados Unidos, o otimismo deve-se às declarações de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de que as políticas de estímulo devem continuar.