No passado, os motores que funcionam à base de gasolina, diesel, gás e etanol eram chamados de motores a explosão. Essa denominação é incorreta, pois o que ocorre dentro deles não é uma explosão, mas uma queima controlada de combustível. Ela gera gás, aumenta a pressão, move os pistões e faz o motor girar. Por isso, o nome mudou. Esses equipamentos agora são denominados motores de combustão interna. Mudanças de nomes à parte, um componente explosivo permanece. No Brasil, país de proporções continentais em que duas a cada três toneladas de carga são transportadas por caminhões, aumentos dos preços dos combustíveis têm consequências explosivas, pois afetam a economia como um todo.
A oscilação das ações da Petrobras (PETR3/PETR4) na segunda-feira (08) é uma prova disso. Ontem, a estatal anunciou o terceiro aumento nos preços dos combustíveis neste ano, devido à alta dos preços do petróleo no mercado internacional. Mesmo assim, as cotações despencaram. Os preços das preferenciais encolheram 3,1 por cento. As ações ordinárias caíram mais ainda, 4,1 por cento. O que derrubou os papéis foi o temor dos investidores de que, dado o potencial explosivo do tema, o governo – que controla a Petrobras – caia na tentação de segurar os reajustes nos preços dos combustíveis. Nesse caso, a explosão trocaria de lugar. Migraria dos pistões dos motores dos caminhões para o bolso dos investidores na estatal, que amargariam mais um prejuízo.
Não é de hoje que a relação entre as cotações internacionais do petróleo e o valor pago pelos motoristas ao abastecer seus veículos é um tema explosivo no Brasil. Aumentos nos preços do diesel, da gasolina e do etanol (que segue as variações da gasolina) são combustível de foguete para os índices de inflação. A alta nos custos do transporte é repassada imediatamente ao longo das cadeias produtivas. Daí a tentação de todo presidente da República. Ao controlar a Petrobras, o governo tem o poder de manipular os preços nas refinarias, contendo a alta nas bombas. Isso foi feito à exaustão durante o confuso primeiro governo de Dilma Rousseff, o que levou a Petrobras a amargar prejuízos imensos e a tornar-se a petroleira mais endividada do mundo. O valor de mercado da estatal, claro, desabou. Dois números mostram bem isso. Em janeiro 2016, ainda antes do processo de impeachment de Dilma, a Petrobras valia 78,7 bilhões de reais na bolsa. Em janeiro de 2021, apesar dos solavancos do mercado, a capitalização da petroleira era de 369,2 bilhões de reais, uma valorização de 370 por cento. Isso prova o quanto a mão pesada do controle estatal pode custar aos investidores.
Nada indica que isso volte a ser feito. Ao contrário, Roberto Castello Branco, presidente da Petrobras, foi a Brasília na segunda-feira e jurou de pés juntos que não há interferência do governo nos preços dos combustíveis. Mesmo assim, em junho do ano passado, a estatal alongou de três para 12 meses o período de análise dos preços internacionais do petróleo para definir seus reajustes. A mudança das regras lançou algumas suspeitas. Durante o fim de semana, a companhia divulgou dois fatos relevantes para explicar o assunto, o que turbinou as quedas da véspera. E esperam-se novos solavancos ao longo dos próximos dias. Em tempos de pandemia e aperto nos ganhos de centenas de milhares de caminhoneiros, uma das principais bases eleitorais do presidente, a tentação do Planalto de tomar decisões políticas com os preços dos combustíveis permanece tendo um enorme potencial explosivo.
Indicadores I
A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) desacelerou para 0,25 por cento em janeiro, registrando a menor variação desde os 0,24 por cento de agosto de 2020. Os prognósticos eram de uma alta de 0,34 por cento. Com isso, a inflação acumulada em 12 meses é de 4,56 por cento, praticamente estável em relação aos 4,52 por cento acumulados nos 12 meses até dezembro. Os reajustes em alimentos e bebidas perderam força, e a mudança na bandeira das tarifas de energia elétrica ajudaram a desacelerar a inflação, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Indicadores II
A primeira prévia do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) de fevereiro indicou uma alta de 1,92 por cento nos preços, ante 1,89 por cento da primeira prévia de janeiro, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV).
E Eu Com Isso?
Em uma sessão em que os mercados internacionais não apresentaram tendência definida e os contratos futuros do índice americano S&P 500 operam com uma leve queda, os contratos futuros do Ibovespa iniciam o dia perto da estabilidade, com uma leve tendência negativa.