Nesta terça-feira (26) a Cielo (CIEL3), maior adquirente da América Latina, divulgou seus resultados do último trimestre do ano, dando o pontapé inicial na temporada de resultados na Bolsa brasileira. Os números vieram acima das expectativas, em especial o Lucro líquido, em função de uma melhora mais acelerada da economia e um controle maior dos gastos como principais responsáveis.
O volume total transacionado, ou TPV, mostrou uma melhora de 15,1 por cento na comparação com o trimestre anterior, sustentado pela volta do comércio e também pela sazonalidade, porém estável (+ 0,3 por cento) quando comparado ao mesmo trimestre de 2019. O número de clientes ativos teve uma queda de 1,4 por cento em relação ao trimestre anterior e uma queda 10,8 por cento na comparação anual.
A receita líquida apresentou um crescimento de 1,5 por cento, atingindo 3,02 bilhões de reais, apesar da melhora atribuída à volta do volume financeiro, em 2020 a receita líquida caiu 1,5 por cento, atingindo 11,19 bilhões de reais.
No trimestre os custos subiram 0,9 por cento, atingindo 2,04 bilhões de reais e totalizando 8,07 bilhões em 2020, um aumento de 11,0 por cento em relação ao ano passado.
As despesas gerais e administrativas seguiram tendência melhor no final do ano, com queda anual de 15,3 por cento no trimestre, atingindo 510 milhões de reais, somando a uma despesa total de 2,28 bilhões no ano, um aumento de 4,6 por cento em relação a 2019.
Com a queda nos gastos, o Ebitda reverteu a trajetória de 2020, com crescimento anual de 16,0 por cento no trimestre. Porém não foi o suficiente para reverter o desempenho negativo de 31,2 por cento no ano, atingindo 777 milhões de reais em 4T20 e 2,06 bilhões de reais no ano.
O lucro líquido atribuído à companhia fechou em 298,2 milhões de reais no trimestre, um crescimento impressionante de 34,7 por cento em relação ao ano passado, totalizando 490,2 milhões de reais para 2020, 68,3 por cento inferior ao lucro de 2019 atribuído à empresa.
E Eu Com Isso?
O resultado da Cielo veio acima das expectativas, com crescimento de lucro forte e voltando a mostrar um crescimento do Ebitda, algo que não ocorria desde 2016. Esperamos impactos positivos no preço das ações (CIEL3) no curto prazo.
O resultado da Cielo (CIEL3) se mostrou animador, com melhorias claras frente aos outros trimestres do ano, porém a companhia continua com desafios estruturais ao seu modelo de negócios. A adquirente vem apresentando uma trajetória de queda de lucros nos últimos três anos, devido a um aumento na competitividade do setor de pagamentos e a dificuldade da companhia em adaptar seu modelo de negócios.
Apesar de líder, a Cielo vem perdendo participação no mercado consistentemente. Para conseguir se manter competitiva a companhia teve que ajustar seus preços para baixo sucessivamente nos últimos anos, a receita extraída por volume transacionado (revenue-yield) que chegou a 1,17 por cento em 1T17 foi de 0,69 por cento neste trimestre.
O setor de pagamentos é marcado por uma redução das taxas praticadas, tendência vista no mundo inteiro e que é intensificada no Brasil devido a um aumento de concorrência e maior digitalização do mercado. Enquanto concorrentes como a Stone são capazes de se diversificar oferecendo produtos bancários e soluções de software aos lojistas, a Cielo (CIEL3) não consegue seguir a mesma linha pois tem como principais acionistas o Banco do Brasil (BBAS3) e o Bradesco (BBDC4), o que torna essa opção prejudicial aos controladores da companhia.
Enquanto a competição com os bancos e os adquirentes têm problemas estruturais devido à dificuldade em trazer as mesmas ofertas, players não tradicionais também criam soluções de pagamentos, pulverizando ainda mais o mercado, entre eles está o Magazine Luiza (MGLU3) que já oferece serviços de pagamentos e créditos para seus clientes.
Mesmo com um cenário de longo prazo desfavorável, há alguns catalisadores para as ações da companhia, entre eles está uma melhora mais acelerada da economia e mais novidades com relação a parceria com o WhatsApp, que possibilitaria o uso do aplicativo de mensagens para a realização de pagamentos.