Os pregões já tinham praticamente encerrado suas atividades na quarta-feira (06) quando as cenas de barbárie e vandalismo em Washington começaram a ser transmitidas ao vivo pelas televisões. Insuflados pelo presidente Donald Trump, manifestantes invadiram o Congresso americano em uma tentativa de impedir a sessão parlamentar em curso.
O que seria uma formalidade, a ratificação da eleição presidencial de novembro do ano passado, tornou-se uma batalha campal. Senadores e deputados tiveram de se refugiar em seus gabinetes, jornalistas foram protegidos pela segurança do Congresso e a sessão, interrompida por várias horas, só acabou às 5:40 desta quinta-feira, com a ratificação da eleição de Joe Biden. Em termos humanos, o saldo foi trágico: quatro vítimas fatais. Em termos políticos, ainda vai levar muito tempo para os analistas chegarem a um consenso sobre as causas e as consequências do dia 6 de janeiro. Porém, nos termos econômicos que nos interessam, o saldo da turbulência da quarta-feira foi positivo. Após mais de dois meses de pressão de Trump para alterar o resultado da eleição, a vitória de Joe Biden está confirmada e é hora de colocar na ponta do lápis o que isso significa para os mercados.
A primeira avaliação é positiva. Os contratos futuros do índice americano S&P 500 estão em uma leve alta. Os pregões fecharam com valorizações expressivas na Ásia, com a expectativa dos investidores de uma normalização e distensão das relações comerciais dos Estados Unidos com a China e com os demais países da região.
A alta é menos clara nos pregões europeus, que estão sendo prejudicados pela incerteza com relação à pandemia provocada pelo coronavírus, que ainda permanece. E a percepção é que os investidores estão se concentrando nas boas perspectivas econômicas de uma gestão democrata. Apesar de não se descartar um endurecimento do governo e dos reguladores com relação às empresas de tecnologia, o que se espera de uma gestão Biden são estímulos para o crescimento econômico além da injeção de recursos no mercado pelas autoridades monetárias.
Ao contrário da gestão anterior, a expectativa é de um programa ambicioso de recuperação e de melhoria da infraestrutura americana, melhorando o emprego, a renda e o consumo. A possível política fiscal mais agressiva nos EUA reforça o cenário de analistas de maior otimismo com “setores tradicionais”, como commodities em vez de techs, além do dólar fraco. Resta a incerteza sobre como o Brasil se situará neste contexto em meio às dúvidas do plano nacional de imunização e à lentidão no avanço da agenda de reformas no Congresso.
Indicadores
Os indicadores de emprego da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostraram resultados divergentes. O Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp) subiu 1,2 ponto em dezembro, para 85,7 pontos. Foi o maior nível desde fevereiro de 2020, momento pré-pandemia. O Indicador Coincidente de Desemprego (ICD) avançou 3,0 pontos para 102,6 pontos, maior nível desde janeiro de 2017. O ICD é um indicador com sinal semelhante ao da taxa de desemprego, ou seja, quanto maior o número, pior o resultado. Segundo Rodolpho Tobler, economista da FGV, o resultado de dezembro mostra que a recuperação das perdas sofridas no início da pandemia continua, mas o indicador permanece em um patamar baixo.
E Eu Com Isso?
A elevada tensão política da véspera não se refletiu totalmente nos mercados, e os prognósticos para esta quinta-feira são de uma alta devido ao alívio provocado pela definição da situação. Os contratos futuros do Ibovespa iniciam o dia em leve alta.