Os mercados, inclusive a Bolsa de Valores brasileira, sentiram nesta última semana do ano os reflexos positivos do novo pacote de auxílio nos Estados Unidos, independentemente das discussões de última hora quanto ao valor final. Depois de muitos impasses políticos, agora se estabelece um clima de maior confiança quanto ao potencial de reação da maior economia do planeta. Sendo que os Estados Unidos não estão sozinhos nesse movimento. Europa, Japão e China também são exemplos de esforços dos governos e bancos centrais para melhorar o potencial de reação da atividade econômica diante das dificuldades ainda impostas pela pandemia.
Além das pesadas injeções de recursos, seguimos com o ambiente de juros muito baixos e até negativos que, mais do que estimular a atividade, ajudam a impulsionar os negócios em Bolsa e a diversificação dos investimentos. Isso explica, em parte, os sucessivos recordes dos mercados acionários e até do Bitcoin, fora o aumento dos preços de algumas commodities. A expectativa é de que 2021 seja um ano de menos dificuldades e maior expansão no plano global. Estão aí, por exemplo, os programas de vacinação, espalhando maior otimismo com relação ao controle da pandemia, que foi o maior mal de 2020.
Mas e o Brasil, como fica nisso tudo?
Por enquanto, estamos meio a reboque do que ocorre no exterior. Aproveitando o excesso de liquidez e a menor aversão ao risco, sem maiores méritos para participar da festa. Mesmo que a retração do PIB e o rombo fiscal tenham ficado abaixo das projeções, com o mercado de trabalho também mostrando dados menos ruins do que o esperado, a sinalização ainda é de um longo e desafiador caminho para a retomada sustentável do crescimento e para a execução de um crível programa de ajuste das finanças públicas. Até porque a agenda econômica anda meio perdida em meio aos interesses políticos do Executivo e do Legislativo.
Por outro lado, até pelo imenso rombo das contas, em vez de novos estímulos para alavancar um desempenho melhor da economia, como estamos vendo no exterior, aqui teremos de conferir, no começo do novo ano, o impacto do corte de vários programas, como o auxílio emergencial e o de manutenção do emprego e da renda.
Quanto às vacinas, também estamos acompanhando o que acontece pelo mundo, sem urgência para importações, e, pelo jeito, dependendo muito do que vai acontecer com a Coronavac. Há uma falta preocupante de programas mais bem estruturados que possam trazer maior confiança em relação à confirmação das projeções mais otimistas para 2021.
Temos, sim, projeções mais otimistas de vacinação, que irá acontecer em algum momento, de avanço da agenda no Congresso, de variação positiva do PIB, com inflação na meta, juros básicos ainda negativos, ampliação dos investimentos, continuidade da retomada dos vários setores, ampliação dos investimentos e atração de capital externo. A lista é até bem favorável. São as indicações que temos neste final de ano e é com elas que vamos começar 2021.
O próprio retrato de 2020 pode nos trazer alguma confiança maior. A força da reação da atividade, depois de bater no fundo do poço, a agenda já colocada, inclusive de reformas, privatizações, projetos de infraestrutura, concessões, marcos regulatórios e IPOs, além da resiliência dos empresários e trabalhadores, o voto de confiança dos investidores, mesmo com todos os nossos problemas, estão entre os fatores que nos permitem acreditar em um novo ano melhor.
É de se esperar que todos acordem para a necessidade de procedimentos mais urgentes e responsáveis, nos vários sentidos, e que a agenda mais positiva possa ser implementada. Os desafios estão colocados. O Brasil e o mundo tentam refazer as rotas após esse atípico e terrível 2020. Temos as peças para jogar um bom jogo, embora muitos agentes insistam em atrapalhar e o imponderável ainda possa estar presente. Mas, quem sabe, a reação recente da Bolsa não seja a antecipação de um cenário muito melhor, assim como a retomada vigorosa de alguns setores.
Que venha 2021!