Novo recorde nos pedidos de seguro-desemprego: entenda o que significam os números americanos
O número de 6,648 milhões de pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos, divulgado na manhã desta quinta-feira (2) pelo Departamento do Trabalho americano, voltou a registrar um recorde e superou largamente as estimativas mais pessimistas dos economistas. A mediana das estimativas era de 3,7 milhões, e os mais conservadores previam 4,1 milhões de pedidos. Na semana passada, os pedidos de auxílio por parte de trabalhadores que haviam ficado sem emprego foram de 3,28 milhões, maior nível da história.
O que significa esse número? O mês de março de 2020 ficará na história como um dos piores da história do mercado, não apenas no Brasil, mas ao redor do mundo. Apesar de relevante, essa notícia não é importante para o traçar das estratégias do investidor. O que interessa mesmo é o que deverá ocorrer de agora em diante. Como todos sabemos, expectativas são o ativo mais negociado em qualquer mercado.
Sob qualquer métrica, o movimento de março foi distorcido. Até mesmo ativos tradicionalmente defensivos, como o ouro, caíram nos mercados internacionais. Os investidores preferiram manter-se líquidos e ficar com dinheiro em casa, mesmo com rendimento zero ou juros negativos, em vez de se arriscar com investimentos.
Neste momento, há um debate acirrado entre os especialistas sobre os preços dos ativos, que pode ser resumido em duas posições. A primeira é que a queda das ações foi provocada por um movimento de pânico exagerado. Assustados, os investidores simplesmente venderam ativos a qualquer preço, independentemente do impacto do coronavírus sobre a economia real. Se esse argumento estiver correto, veremos uma recuperação rápida da economia e dos preços dos ativos.
A segunda posição é que o impacto do coronavírus (e das medidas para sua contenção) sobre a economia será profundo e duradouro, com uma recessão se estendendo por vários meses. Se esse argumento estiver correto, então a queda dos mercados reflete corretamente as perspectivas, e os preços dos ativos vão levar tempo para se recuperar.
As próximas duas semanas serão decisivas para sabermos qual a versão correta. No curtíssimo prazo, dados como o aumento dos pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos serão olhados com lupa. Os 6,645 milhões divulgados nesta quinta-feira pelo Departamento do Trabalho americano são um bom exemplo. O resultado superou os 3,28 milhões da semana passada, que já haviam cravado um recorde histórico. No entanto, mesmo um número tão negativo é preciso ser olhado com um grão de sal. Há um efeito de atraso: muitos pedidos na semana passada não conseguiram ser processados a tempo, devido ao congestionamento dos meios digitais. Lá, como aqui, vários servidores públicos estão trabalhando de casa. E muitas das solicitações podem ter sido preventivas, especialmente dos trabalhadores autônomos. Por isso, o forte aumento dos pedidos tem um componente de ruído, e deve ser considerado com cautela na hora de se estimar uma tendência.
Alguns indicadores sustentam essa tese. Na quarta-feira (1), a empresa de tecnologia ADP divulgou que as empresas americanas demitiram 27 mil pessoas em março, a primeira queda no emprego desde setembro de 2017. Apesar do número negativo, a expectativa dos economistas era de 150 mil demissões. Em fevereiro, o crescimento do emprego havia sido de 179 mil contratações. A ADP é uma das maiores empresas de tecnologia do mundo e possui cerca de 400 mil clientes corporativos nos Estados Unidos. Com acesso a tantos dados, a companhia pesquisa as contratações e demissões. A grande vantagem desse indicador é que ele é divulgado logo após o encerramento do mês, fornecendo uma visão quase em tempo real das movimentações do emprego – uma das variáveis mais fundamentais da economia.
A divulgação de um número de pedidos tão acima do esperado deverá provocar mais um momento de turbulência e volatilidade no mercado, enquanto os agentes econômicos procuram estabelecer preços para o fato. O dia mais uma vez será de volatilidade. Já do lado positivo, o cenário político deve ajudar como pode ver no tópico abaixo.
INDICADORES – O IPC-S de 31 de março de 2020 registrou variação de 0,34 por cento, ficando 0,16 ponto percentual acima da taxa divulgada na última apuração, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV) na manhã desta quinta-feira (2). Todas as sete capitais pesquisadas registraram acréscimo em suas taxas de variação. No Rio de Janeiro, a inflação subiu de 0,47 por cento para 0,61 por cento, e em São Paulo a alta foi de 0,37 por cento, ante os 0,25 por cento do levantamento anterior.
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