Pacotes de ajuda se multiplicam
Brasil. Estados Unidos. Alemanha. Coreia do Sul. Ao redor do mundo, governantes e banqueiros centrais se mobilizam para lançar pacotes de estímulo à economia, o que levou os mercados a apresentarem fortes altas na manhã desta terça-feira (24). A grande questão é se a movimentação das autoridades econômicas será capaz de conter a maré descendente das expectativas dos investidores.
Os esforços se multiplicam. Na Coreia do Sul, o governo anunciou um pacote de estímulos de 80 bilhões de dólares para atenuar o efeito da epidemia sobre as pequenas e médias empresas. Na Alemanha, o governo está estruturando um pacote de ajuda que pode variar entre 750 bilhões e 800 bilhões de euros. E nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) anunciou na segunda-feira que vai comprar dívidas corporativas para estimular a economia em um programa sem limite, ao passo que o Congresso tentará votar novamente, nesta terça-feira, um pacote de estímulos econômicos que pode chegar a 2 trilhões de dólares.
No Brasil, o Banco Central (BC) anunciou, na segunda-feira, um pacote que pode chegar a 1,2 trilhão de reais, e que inclui a liberação de empréstimos compulsórios dos bancos e a concessão de empréstimos aos bancos aceitando Letras Financeiras (LF) como garantia. Essas LF poderão ser emitidas tendo as carteiras de crédito dos bancos como lastro. Só aqui, a estimativa do BC é de injetar 670 bilhões de reais na economia, que os bancos poderão usar para financiar pequenas e médias empresas. Como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), o pacote representa quase cinco vezes o que foi implantado na crise financeira de 2008. As medidas representam 16,7 por cento do PIB. Em 2008, a autoridade monetária movimentou o equivalente a 3,5 por cento do PIB.
O grande temor dos investidores ao redor do mundo é o impacto do coronavírus sobre a economia real. O necessário isolamento social levará ao aumento do desemprego e à quebra de pequenas empresas, o que tornará a recuperação econômica mais difícil e demorada. Por isso, as notícias de que os governos estão se movimentando para apoiar os pequenos empresários animam os investidores.
Os mercados apresentam fortes altas. Em Xangai, o índice SSE fechou em alta de +2,34 por cento. Na Coreia do Sul, animado pelo pacote de estímulos, o índice Kospi subiu 8,6 por cento. Em Tóquio, a alta foi de +7,13 por cento.
O movimento também é de alta na Europa. O alemão Dax está em alta de +6 por cento e o britânico FTSE sobe +4 por cento. Os contratos futuros de S&P 500 sobem +4 por cento e os contratos futuros de Índice Bovespa estão iniciando o dia com mais de 6 por cento de alta.
É de se esperar um movimento de alta nesta terça-feira, mas recomenda-se cautela, pois a volatilidade deve continuar.
INDICADORES – A propagação da epidemia já afetou bastante as expectativas. O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) da Fundação Getulio Vargas (FGV) caiu 7,6 pontos em março, para 80,2 pontos. É o menor valor desde os 78,3 pontos de janeiro de 2017. A queda acumulada no primeiro trimestre do ano foi de 11,4 pontos.
Segundo a FGV, apesar de dois terços dos dados para esta edição terem sido coletados antes das medidas de restrição, já é possível notar um impacto expressivo nas expectativas. O aumento de incerteza gerado pela queda dos preços do petróleo, e pelo avanço da contaminação do Covid-19 no Brasil contribuíram para o aumento do pessimismo em relação ao futuro da economia. Num cenário econômico mais difícil nos próximos meses, consumidores também preveem redução da oferta de empregos e uma piora da situação financeira das famílias. A cidade do Rio de Janeiro foi a capital onde ocorreu a maior queda na confiança. A maior piora nas expectativas para a situação atual foi registrada em São Paulo, devido à relevância do setor industrial.
Segundo Viviane Seda Bittencourt, coordenadora das sondagens do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), ligado à FGV, “o cenário para os próximos meses é preocupante, com forte impacto econômico e social e é difícil imaginar alguma recuperação da confiança no horizonte visível”. No entanto, diz Viviane, “esperamos que o sucesso das medidas de isolamento parar reduzir a disseminação do vírus possa ao menos conter parte do desânimo que virá com a queda do PIB e com o aumento do desemprego”.
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