Política sem Aspas, por Felipe Berenguer

O embate tucano | Política sem Aspas

Dando continuidade à temática da terceira via e seus postulantes, hoje o texto traz explicações e análises sobre as eleições prévias do PSDB, que devem definir quem será o candidato à Presidência da República do partido em 2022. Na semana passada, falei um pouco mais sobre as reais chances de um candidato alternativo prosperar no ano que vem – confira aqui.

As prévias tucanas funcionam sob a mesma lógica das prévias presidenciais nos EUA. Aqueles que têm interesse em se candidatar para cargos majoritários se inscrevem até uma data-limite e, assim, concorrem internamente para representar a legenda.

Na atual disputa, três nomes estão concorrendo à vaga de candidato à Presidência: o governador de São Paulo, João Doria, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e o ex-prefeito de Manaus (AM), Arthur Virgílio Neto. O senador cearense Tasso Jereissati também participava das prévias, mas anunciou, nesta semana, sua desistência em prol do apoio ao governador gaúcho. A tendência é que, em algum momento até novembro – quando ocorre o pleito – Virgílio também largue a disputa e apoie o governador paulista.

Nesse cenário, brigam pela vaga presidencial os dois governadores, em uma prévia que promete ser bastante acirrada. Leite é apontado como a “cara jovem” do partido e capacitado para atrair o apoio de outros partidos e setores de fora do PSDB, enquanto Doria tem em mãos a máquina do mais populoso e mais rico estado de toda a federação.

As prévias tucanas estão marcadas para o dia 21 de novembro e, caso nenhum candidato atinja a maioria absoluta dos votos válidos (50%+1) na ocasião, há a possibilidade de um segundo turno no domingo seguinte.

A fim de representar completamente os diferentes quadros políticos do partido – dos filiados aos presidentes – o PSDB adotou um sistema de Colégio Eleitoral, com quatro grupos diferentes de votantes. Estão autorizados a votar todos aqueles que tenham se filiado à legenda até o dia 31 de maio deste ano. Atualmente, a sigla conta com cerca de 1,4 milhão de filiados e a esmagadora maioria desse montante tem direito a voto.

Os grupos de votantes estão divididos entre filiados (grupo I), prefeitos e vice-prefeitos (grupo II), vereadores deputados estaduais e distritais (grupo III), e governadores, vice-governadores, senadores, deputados federais, ex-presidentes e o atual presidente da Executiva Nacional do partido. Cada grupo tem peso unitário de 25% do total de votos válidos e o vencedor será estipulado pela soma dos resultados de cada grupo.

O cálculo dos votos dos grupos é simples: em cada colegiado, os votos de cada candidato são divididos pelo número total de eleitores e o resultado é multiplicado por 0,25. A única exceção é feita no grupo III, em que se optou por dividir em dois subgrupos – um deles apenas com deputados e o outro apenas com vereadores. Nesse caso, a lógica do cálculo é a mesma, mas o resultado é multiplicado por 0,125, para efeitos de coerência com o peso final.

Tendo o modelo em vista, é bom nos atentarmos a alguns números relevantes dos tucanos. Atualmente, o partido conta com 3 governos estaduais, 7 cadeiras no Senado Federal, 33 deputados federais, 72 deputados estaduais e 4.377 vereadores espalhados pelo Brasil. Ainda no âmbito municipal, o PSDB conta com quase 600 prefeituras, além de aproximadamente 400 vice-prefeitos – não necessariamente nessas mesmas cidades.

No grupo II, João Doria parece ter alguma vantagem significativa. Isto porque das quase 600 prefeituras tucanas, cerca de 220 são redutos paulistas e simpatizam com o governador de seu estado. Por outro lado, Leite desponta na grupo IV, que reúne os grandes caciques tucanos e conta com nomes como Aécio Neves (MG), Geraldo Alckmin (SP) e Tasso Jereissati (CE) – os dois primeiros publicamente contrários ao nome de Doria por serem adversários políticos e o último mais alinhado com as ideias do candidato gaúcho.

Se há favoritismos em dois dos quatro grupos, quando o assunto chega aos grupos votantes mais numerosos – filiados e vereadores, deputados – o diagnóstico é completamente inconclusivo. Entre filiados, a opinião popular prevalece dividida ao enxergar Leite como mais carismático e Doria como mais preparado – tornando a dinâmica do voto muito subjetiva.

Já nos diretórios estaduais, há ainda muitos apoios em aberto: sete estados, que tem peso de 33,36% nas prévias, segundo levantamento interno da legenda, anunciaram apoio a Leite (MG, RS, PR, BA, CE, AL e AP) e cinco diretórios estaduais, com peso de 30,89%, fecharam respaldo ao governador paulista (SP, PA, DF, AC e TO). Evidentemente, existirão dissidências em ambos os lados, o que torna a situação virtualmente parelha.

Estão previstos cinco debates entre ambos os candidatos, com início a partir do dia 18 de outubro e provável transmissão aberta. A acareação dos governadores pode ser decisiva para o resultado final, haja vista que está em jogo, também, a simpatia dos eleitores tucanos pelo nome que tenha a maior força para encabeçar a chamada terceira via nas eleições presidenciais de 2022.

De qualquer modo, o PSDB tenta se recuperar do estrago ocorrido em 2018, quando Geraldo Alckmin – candidato com a maior coligação, tempo de TV e rádio e recursos públicos – teve desempenho pífio e ficou aquém dos 5% no resultado final, perdendo o grosso dos votos tucanos para o então candidato à Presidência, Jair Bolsonaro.

Para os mais apegados em números e dados, vale esperar pela definição dos diretórios fluminense, que conta com 84 mil filiados, goiano (71 mil) e do restante dos estados nordestinos (MA, PB, PE, PI, RN e SE – juntos, totalizando cerca de 155 mil filiados).

Alguns modelos preditivos têm sido divulgados por consultorias e analistas políticos, mas ao fim e ao cabo, essa promete ser uma disputa acirradíssima entre os tucanos, com muita água para passar por debaixo da ponte. No cenário de hoje, tanto Eduardo Leite quanto João Doria podem ser a cara do PSDB em 2022.

O conteúdo foi útil para você? Compartilhe!

Recomendado para você

O investidor na sala de espera

Salas de espera podem ser muito relaxantes ou extremamente desconfortáveis. Pessoas ansiosas consideram aquele período de inatividade quase uma tortura. Quem precisa de um tempinho

Read More »

Ajudamos você a investir melhor, de forma simples​

Inscreva-se para receber as principais notícias do mercado financeiro pela manhã.