Política sem Aspas, por Felipe Berenguer

Eleições legislativas: números e tendências | Política sem Aspas

Na próxima segunda-feira (01/02), deputados e senadores vão se reunir nas suas respectivas Casas Legislativas para eleger os dois próximos presidentes do Legislativo, para comandar a Câmara dos Deputados e o Senado Federal até o fim do mandato de Bolsonaro.

Desde meados de outubro do ano passado, em meio às eleições municipais de 2020, parlamentares começaram a se organizar para o pleito marcado para o início de fevereiro deste ano. Nessa linha, pouco avançou no Congresso em termos de matéria legislativa no último trimestre. Contudo, muito mudou desde outubro e, evidentemente, novas tendências se formaram e alguns números tiveram de ser atualizados.

Lembro vocês que, à época, participei do podcast Fora da Caixa para falar sobre as eleições americanas (tema em alta naquele momento) e aproveitei a abertura para dar meus “pitacos” acerca das eleições legislativas por aqui. Apontei que Baleia Rossi (MDB-SP) sairia vencedor na disputa da Câmara e que Davi Alcolumbre (DEM-AP) se reelegeria. No caso do Senado, o Supremo Tribunal Federal (STF) frustrou minhas (e de muitos outros analistas, já que isso era quase unânime) projeções ao impedir a possibilidade de recondução de Alcolumbre ao cargo. No caso da Câmara, Baleia Rossi nem mesmo era concorrente à cadeira presidencial – nesse caso, tive a felicidade de antecipar sua candidatura contra Arthur Lira (PP-AL).

Para quem quiser entender um pouco mais sobre o processo eleitoral nas Casas Legislativas, escrevi sobre tal e de maneira mais aprofundada em uma coluna no fim de novembro do ano passado. No início de dezembro, com a decisão do STF, revisitei a conjuntura política – para quem interessar, também vale a leitura, com destaque para como o jogo político é fluído e como tudo muda em questão de dias.

Ademais, as tendências de janeiro, às vésperas da eleição, também estão distantes das tendências observadas na virada do ano, e os números corroboram para explicar quem, hoje, é o favorito da Câmara e o do Senado Federal.

Primeiro, vamos à narrativa: com o apoio de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e, supostamente, do bloco MDB/DEM/PSDB (independente), Baleia Rossi (MDB-SP) saiu para negociar com a oposição, considerada essencial para atingir a marca de maioria absoluta na eleição (257 deputados). Ao mesmo tempo, Arthur Lira (PP-AL) construiu sua candidatura em torno do apoio do Executivo e do Centrão, bloco do qual é líder já há algum tempo.

Das duas estratégias, a mais bem-sucedida foi a do candidato do governo, que conseguiu se aproveitar da participação ativa dos articuladores políticos do Planalto para “desidratar” o apoio de siglas como DEM, PSL e PSDB ao seu adversário. Nesse contexto, Baleia Rossi esqueceu de fazer a lição de casa – garantir que todos os deputados, cujos partidos oficialmente declararam apoio a ele, cumprissem com a palavra. Afinal, o grande “X” da questão é que, nas eleições para as Casas Legislativas, o voto é secreto, podendo haver dissidências.

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Inevitavelmente, Lira ganhou espaço. No dia 21 de janeiro, no Diário Oficial da Câmara dos Deputados, o PSL, por meio de nota encabeçada pelo bolsonarista e deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO), reuniu assinaturas suficientes para que a legenda fosse incorporada à bancada formada por Lira. A partir daí, o deputado alagoano já adquiriu vantagem numérica em relação ao seu adversário, Baleia Rossi, e outros parlamentares começaram a repensar seus posicionamentos para a eleição. Importante nota: principalmente na política, ninguém quer estar do lado perdedor.

O processo de “desidratação” é tão intenso e repentino que, hoje, já se discute a possibilidade de Lira vencer o pleito já no primeiro turno (caso o deputado alcance mais de 257 votos). Segundo nossas contas, esse é um cenário possível, mas não configura a possibilidade mais provável. A tendência é de um segundo turno, com Lira perdendo a oportunidade de liquidar a disputa já no primeiro turno por poucos votos.

Com base nessa premissa, e supondo que todos os deputados irão votar – o que é praticamente impossível, porém, torna a análise mais sólida para entender os apoios de cada partido e deputado –, o placar final projetado é de vitória de Arthur Lira, com 295 votos em segundo turno, contra 218 votos para Baleia Rossi. Isso, porque é possível observar grandes chances de dissidência em partidos com alto número de deputados (PSB, PSDB, DEM), que compõem os supostos votos de Baleia Rossi. No gráfico abaixo, é possível entender, em dois eixos, como estão os apoios e quais siglas vêm enfrentando “rachas”:

Siglas e Apoios - PsA

Baseamos nossa projeção, além da análise de apoios e de votos por partidos e deputados, nas seguintes variáveis relevantes: a) “racha” no DEM, partido de Rodrigo Maia, como retaliação pela escolha de Rossi em detrimento do deputado Elmar Nascimento (BA); b) auxílio político do Planalto por meio de liberação de R$ 3 bilhões em recursos extraorçamentários (similar ao mecanismo de emenda parlamentar) para um grupo de 285 deputados e senadores, assim como as negociação de cargos no primeiro e segundo escalão do Executivo Federal; e c) a histórica união de parlamentares do Nordeste para privilegiar políticos da sua região, lembrando que Lira é deputado pelo estado de Alagoas.

Já no Senado, desde a impossibilidade de Alcolumbre concorrer em 2021, a tendência era de que o atual presidente e o governo federal chegassem a um nome consensual para o comando. O nome escolhido foi o de Rodrigo Pacheco (DEM-MG), inicialmente com ressalvas, mas que se consolidou ao longo das últimas semanas e teve até o apoio de partidos de oposição. Os outros candidatos são: Simone Tebet (MDB-MS), Major Olímpio (PSL-SP) e Jorge Kajuru (Cidadania-GO).

Desse grupo, o único nome com chances reais, porém, remotas, é o da emedebista. Ainda assim, o próprio partido abandonou o apoio – mais uma vez, com receio de estar do lado perdedor ao final da disputa. No caso do Senado, não há necessidade de projeções, uma vez que a vitória de Pacheco é praticamente certa. Deve haver uma proporcionalidade de cerca de ¾ dos votos para o candidato do DEM e de ¼ para Simone Tebet, com definição já no primeiro turno de votação.

 Para finalizar, é importante notar que, independentemente do desfecho, o mercado não deve sofrer com grandes realizações, à medida que não há no páreo nenhum candidato “contrarreformista”. Com os novos presidentes definidos, a partir daí, espera-se sinalizações sobre a continuidade e a retomada célere do processo de reformas econômicas.

Quer aprofundar mais seus conhecimentos em assuntos como mercado e política? Então leia minha última coluna: 2021: navegar é preciso | Política sem Aspas.

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