Política sem Aspas

Economia estagnada, governo paralisado

Não por falta de aviso, o governo se encontra paralisado politicamente e vê as previsões de crescimento econômico para o ano despencando. A estagnação econômica se dá principalmente por falta de confiança da população economicamente ativa. A estagnação política, no entanto, é por pura inexperiência, má vontade – seja o que for – do governo.

Durante essa semana, Paulo Guedes, afirmou que a equipe econômica trabalha com um crescimento do PIB de 1,5%. Segundo o ministro da Economia, a economia do país se encontra no ‘fundo do poço’. A percepção negativa também assola os números antes otimistas do setor privado: no primeiro relatório Focus de 2019, o mercado estimava um PIB de 2,53%. No Focus desta última semana, economistas revisaram a estimativa de crescimento econômico de 1,49% para 1,45% – 11ª queda consecutiva no indicador. 

Economia no fundo do poço

Claro que Guedes usou de uma hipérbole ao classificar a situação atual como fundo do poço. Ainda não chegamos lá, já que o teto de gastos ainda não estourou. Também, o orçamento ainda não é 100% engessado. Mas o governo parece não querer reverter o trágico cenário que vem se concretizando.

O caso do bloqueio de verbas para a universidade pública é sintomático. Segue o raciocínio: está certo que a previsão de crescimento e, por consequência, de arrecadação do governo caiu no primeiro semestre. Desse modo, houve a necessidade de bloquear despesas para não ameaçar o cumprimento da meta de déficit primário para 2019, estimada em R$ 139 bilhões.

O primeiro bloqueio, porém, já havia ocorrido em março. Na época, a equipe econômica contingenciou R$ 30 bilhões de despesas discricionárias (não obrigatórias) do orçamento. Alguns ajustes na previsão de receitas levaram o governo a bloquear gastos em praticamente todas as pastas, incluindo Educação (R$ 5,8 bi), Infraestrutura (R$ 4,3 bi), Minas e Energia (R$ 3,7 bi) e Economia (R$ 3,6 bi). Uma medida drástica em um momento de aperto econômico. Veja no gráfico abaixo, feito pelo G1, que a verba para custeio e investimentos (gastos discricionários) deste ano é a menor desde 2008.

Isso quer dizer que os recursos são bastante limitados para o governo gastar como bem entender. Dentro desses 90 bilhões, inclusive, existem gastos que são obrigatórios ou deveriam ser, na prática, porque seu contingenciamento compromete o funcionamento de importantes órgãos.

Duros cortes

É o caso das universidades federais. Por conta da nova frustração de receitas decorrente do fraco desempenho econômico brasileiro, o MEC anunciou mais um contingenciamento (R$ 1,7 bi) no fim de abril. O corte foi aplicado em gastos como água, luz, terceirizados, equipamentos e realização de pesquisas e representou uma diminuição média de 25% nos gastos não obrigatórios.

Ora, como a universidade funciona sem água, luz e equipamentos? Não há como maquiar: cortar ¼ do orçamento inadvertidamente compromete o funcionamento das instituições de ensino e pode acarretar o fechamento – ainda que temporário – de algumas universidades caso não seja possível arcar com os custos do dia a dia. Claro que a situação do ensino superior brasileiro é problemática, mas isso é tema para outra coluna.

Evidente que o segundo corte na Educação e o foco nas universidades provocaria uma reação dos estudantes, grupo historicamente politizado. Não deu outra: no 15 de maio, Bolsonaro enfrentou sua primeira série de manifestações em âmbito nacional e saiu desgastado.

Para piorar, a derrota do governo se estendeu para dentro do Congresso: na terça-feira, a base aliada foi pega de surpresa ao tomar uma lavada dos 307 votos que convocaram o ministro da Educação, Abraham Weintraub, a comparecer ao plenário e explicar os cortes. Na sessão, o Centrão abriu espaço para a oposição desgastar o governo. 

Sintomas que preocupam

Como já disse, esse caso é sintoma da paralisia política do Planalto. O governo errou na comunicação dos cortes, errou ao rechaçar as manifestações, errou ao expor o ministro. Se ele não teve culpa pela estagnação econômica, é fato que também não vem promovendo a retomada do crescimento. A reforma da Previdência, por exemplo, está atrasada porque Bolsonaro se recusa a fazer política. Talvez a história seria outra se estivéssemos mais próximos da sua aprovação. Para se ter uma ideia, o economista Pedro Fernando Nery comparou o contingenciamento e os gastos previdenciários – os cortes equivalem à 0,2% do gasto previdenciário anual.

Critico o governo porque já faz cinco meses que o diagnóstico político de Bolsonaro e sua equipe está errado. O presidente entende que compactuar ou não com presidencialismo de coalizão seria uma questão de escolha pessoal. Não é. Desde 1988, o presidencialismo de coalizão é o sistema político vigente e – pasmem vocês – todos os presidentes, de FHC a Lula, jogaram o jogo sob essas regras. Dilma caiu porque era centralizadora e não quis jogar o jogo, entre outros fatores.

Chega de inércia

As sucessivas derrotas nestes cinco meses vão para a salgada conta da relação entre Executivo e Legislativo. A diferença é que, agora, a lua de mel acabou. A economia ensaia nova recessão e a aprovação do presidente vai caindo rapidamente. Mudanças drásticas na condução da agenda governamental precisam ser feitas, para ontem. A paralisia do governo precisa acabar, caso Bolsonaro tenha a intenção de afastar qualquer possibilidade de não cumprir os 4 anos de mandato. 

O conteúdo foi útil para você? Compartilhe!

Recomendado para você

O investidor na sala de espera

Salas de espera podem ser muito relaxantes ou extremamente desconfortáveis. Pessoas ansiosas consideram aquele período de inatividade quase uma tortura. Quem precisa de um tempinho

Read More »

Ajudamos você a investir melhor, de forma simples​

Inscreva-se para receber as principais notícias do mercado financeiro pela manhã.