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Mercado de crédito em alta

Mercado de crédito em alta

Juros em queda, inflação sob controle e uma lenta retomada do emprego. Juntos, estes três fatores estão levando à recuperação do mercado de crédito. Segundo a empresa de informações financeiras Serasa Experian, entre janeiro e agosto deste ano o número de pessoas que buscou empréstimos subiu 10,3 por cento em relação a 2018. Foi o maior aumento desde 2010 em relação a 2009. Naquele ano, a alta foi de 16,4 por cento, mas em um ano em que a economia cresceu 7,5 por cento.

O que puxou a alta dos empréstimos foi o movimento dos endividados de aproveitar a queda dos juros e trocar seus financiamentos por outros, mais baratos. Segundo dados do Banco Central (BC), nos oito primeiros meses do ano a demanda por crédito para renegociar dívidas subiu 32,9 por cento. Em seguida vieram os empréstimos consignados, que cresceram 32,5 por cento.

Mesmo os empréstimos para a compra de bens, que indicam uma recuperação da demanda, voltaram a crescer. Segundo o BC, o financiamento para a compra de veículos aumentou 18,8 por cento e os empréstimos imobiliários avançaram 8,8 por cento, sempre considerando-se o período entre janeiro e agosto deste ano em comparação com 2018.

O principal entrave a um crescimento mais robusto do mercado de crédito é o número elevado de brasileiras e brasileiros inadimplentes. São 63 milhões, segundo a Serasa Experian. No entanto, algumas medidas em estudo no Banco Central podem ajudar a driblar esse obstáculo.

Uma delas é a expansão do microcrédito. O governo deve propor uma Medida Provisória nos próximos dias para facilitar a concessão desses empréstimos, muito adequados aos pequenos empreendedores. Entre as mudanças estão a elevação do faturamento máximo dos tomadores de 200 mil reais para 360 mil reais, a permissão para que os empréstimos sejam concedidos por plataformas digitais e a obrigação de que os intermediários sejam microempreendedores individuais (MEI), o que reduz a probabilidade de reclamações trabalhistas e reduz os custos. A meta é elevar o universo dos tomadores dos atuais 2 milhões de empreendedores para 4 milhões, beneficiando 16 milhões de pessoas.

Outra proposta é a facilitação dos empréstimos com garantia imobiliária, conhecidos como home equity. Entre as mudanças propostas está a possibilidade de o tomador realizar várias operações com o mesmo imóvel até atingir o limite de crédito pré-aprovado pelo banco. Chamada de “operação guarda-chuva”, essa modalidade é comum nos Estados Unidos, mas proibida no Brasil. Outra mudança é na portabilidade, para facilitar a migração de dívidas caras para o home equity, que costuma ter taxas mais baixas. Atualmente, os bancos concedem cerca de 11 bilhões de reais nessas modalidades. Porém, segundo o BC, o potencial é de 500 bilhões de reais.

Nos mercados, a semana começa mais animada. O ânimo de um pequeno acordo entre EUA e China (ufa, que alívio) deve continuar repercutindo bem essa semana – vide as Bolsas asiáticas, que já fecharam com altas expressivas. As tarifas que seriam impostas sobre 250 bilhões de dólares em produtos chineses nessa semana deverão ser adiadas. Porém, a euforia só não é maior porque nada foi assinado ainda e porque as tarifas já impostas não devem ser retiradas. Veja só como a balança chinesa vem sofrendo: as exportações caíram 3,2 por cento (era esperado que caíssem 2,8 por cento) e as importações recuaram 8,5 por cento, ante a expectativa de queda de 6 por cento. As transações e o comércio são afetados e, se a economia real segue sofrendo, o mercado financeiro encontra um limite para ampliar os ganhos.

Por aqui, o investidor fica de olho no ritmo de crescimento fraquíssimo e segue renovando expectativas de cortes na Selic. Será que o novo início de cortes começou tarde demais e mudou a ancoragem? É uma dúvida que seguiremos tendo, já que a inflação não dá sinais de que será um empecilho para que os juros continuem caindo. Agora é esperar que os bancos repassem esses cortes com juros ainda menores para vermos se a economia reage com algum crescimento. Nunca é tarde lembrar que os cincos bancos brasileiros detêm 84,8 por cento do mercado de crédito.

E Eu Com Isso?

Há uma convergência entre melhoras dos indicadores internos e novas distensões no mercado internacional. Embora a recuperação possa ser considerada de curto prazo, a tendência é de um cenário menos anuviado. Nesse cenário, esperamos um dia um pouco negativo para os ativos locais em movimento de realização.

Leia também: CDI é a nova âncora do mercado?, ou ainda: Mercado financeiro vê CDS nas mínimas em cinco anos.

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