O Banco Central (BC) divulgou nesta terça-feira (11) a Ata da 274ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada nos dias 4 e 5 de novembro. Em um documento mais enxuto – com 1.796 palavras, ante as 2.053 palavras da Ata anterior – o Copom manteve a postura cautelosa, reafirmou seu compromisso com a manutenção das metas de inflação, mas avaliou também que a conjuntura econômica está se comportando como o esperado e, a princípio, descartou novas elevações de juros.
Começando pelo cenário. Na Ata da reunião anterior, o Copom avaliou que “a inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação”. No texto da 274ª reunião, isso mudou para “a inflação cheia e as medidas subjacentes apresentaram algum arrefecimento”, apesar de afirmar que os números seguem acima das metas.
Mais adiante, o texto indica que “As expectativas de inflação (…) seguiram trajetória de declínio, mas permanecem acima da meta de inflação em todos os horizontes e que observou-se um movimento “mas nítido” de queda das expectativas de inflação “em horizontes além do relevante”. Traduzindo, o Comitê avalia que há possibilidade de melhora do cenário da inflação, ainda que não seja para o curto prazo.
E três parágrafos depois, a Ata reforça que “as leituras recentes de inflação seguem indicando uma dinâmica mais benigna em relação ao que se previa no início do ano” e que “a inflação de serviços também apresentou algum arrefecimento”.
Em dois momentos, o Copom manifestou uma postura cautelosa. Há incerteza sobre “as negociações comerciais entre Brasil e EUA e a condução da política monetária norte-americana em ambiente de government shutdown” e sobre o impacto do aumento da faixa isenta do Imposto de Renda para 5 mil reais. “O Comitê considera que tal estimativa é bastante incerta e acompanhará os dados para calibrar seus impactos”, diz o texto.
A principal conclusão, porém, é que apesar de a Ata poder ser considerada dura – pois não dá nenhum sinal de queda dos juros, mesmo reconhecendo um arrefecimento da inflação – o texto tem um lado positivo. Vale citar o trecho: “Na medida em que o cenário tem se delineado conforme esperado, o Comitê (…)opta por manter a taxa inalterada por período bastante prolongado, mas já com maior convicção de que a taxa corrente é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta”. Ou seja, está descartada a hipótese de alta dos juros.
E Eu Com Isso?
A Ata trouxe algumas sinalizações positivas. A mais importante é que o Copom considera que, apesar das dificuldades, a política monetária apertada está fazendo efeito e há quase certeza de que não será necessário elevar mais os juros. Apesar de não dizer que a Selic vai cair, o Comitê confirma que ela não vai subir. O que já é meio caminho andado.
As notícias são positivas para a Bolsa
MBRF reportou 3º trimestre com lucro e margens em queda
A MBRF (MBRF3) divulgou os resultados referentes ao terceiro trimestre de 2025, marcando o primeiro balanço consolidado após a integração entre a Marfrig e a BRF. O período foi de ajustes e desafios operacionais, refletindo tanto o processo de fusão quanto o momento menos favorável do ciclo de negócios.
O lucro líquido da companhia somou 94 milhões de reais, representando uma queda expressiva de 62 por cento em relação ao mesmo trimestre do ano anterior.
Apesar da retração no resultado final, a receita líquida apresentou crescimento. O faturamento total atingiu 41,76 bilhões de reais, o que representa uma elevação de 9,2 por cento em comparação com o 3T24. Esse desempenho mostra que a companhia conseguiu manter o ritmo de vendas, mesmo em um cenário de maior complexidade operacional.
No entanto, as margens foram pressionadas, levando o lucro bruto a 5,1 bilhões de reais, queda de 3 por cento na comparação anual. A combinação entre aumento de custos, mix de produtos e desafios em algumas geografias resultou em compressão das margens, reduzindo a rentabilidade do grupo.
O desempenho mais fraco foi influenciado principalmente pelo cenário das operações na América do Norte, que seguem enfrentando um momento desfavorável dentro do ciclo do setor. O volume vendido nesta região recuou 6,3 por cento frente ao mesmo período do ano anterior, impactando diretamente o resultado consolidado. Essa desaceleração reflete o ambiente competitivo e as condições de mercado mais restritas, com custos de insumos elevados e margens reduzidas nas exportações.
No Brasil, as operações oriundas da BRF também começaram a mostrar sinais de desaceleração após um período de forte crescimento. O ciclo de alta que havia impulsionado os segmentos de suínos e aves nos últimos anos perdeu força, reduzindo as margens. Esse movimento natural do mercado, somado ao ambiente econômico doméstico ainda desafiador, contribuiu para a retração do lucro operacional.
As despesas com vendas, gerais e administrativas totalizaram 3,5 bilhões de reais no trimestre, um avanço de 4,3 por cento em relação ao mesmo período de 2024. Esse aumento reflete, em parte, os custos de integração entre as operações da Marfrig e da BRF, além de gastos pontuais com estrutura e logística.
Como resultado, o EBITDA, indicador que mede o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, alcançou 3,5 bilhões de reais, representando uma queda de 8,6 por cento na comparação anual.
O resultado financeiro foi negativo em 1,4 bilhão de reais, uma piora de 5 por cento em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. O aumento das despesas financeiras decorre, principalmente, do maior nível de endividamento e do impacto das taxas de juros sobre o custo da dívida.
A Dívida Líquida Consolidada encerrou o trimestre em 41,3 bilhões de reais, crescimento de 10 por cento frente ao 2T25. A alavancagem financeira ficou em 3,3 vezes o EBITDA, nível que segue sendo um dos principais pontos de atenção dos investidores e analistas de mercado.
E Eu Com Isso?
Em meio a esse cenário, a empresa tem concentrado esforços na captura de sinergias operacionais advindas da integração. A expectativa é que, ao longo dos próximos trimestres, a MBRF consiga reduzir custos, otimizar processos e melhorar a eficiência produtiva, gerando benefícios progressivos à rentabilidade.
A consolidação das duas operações cria uma estrutura de grande escala, com potencial para ganhos futuros, mas exige disciplina financeira e foco em eficiência. O sucesso da integração será determinante para que a MBRF volte a apresentar expansão sustentável de lucros e criação de valor para seus acionistas nos próximos ciclos de resultado.
Neste momento mantemos uma visão de cautela para os papéis de MBRF3.
Centauro sustenta a expansão da SBF (SBFG3) enquanto a Fisia navega um trimestre desafiadorO Grupo SBF (SBFG3) apresentou no 3T25 uma expansão sólida de receita, sustentada pelo avanço simultâneo das operações Centauro e Fisia. A receita líquida consolidada atingiu 1,9 bilhão de reais (+9 por cento a/a), alinhada às nossas projeções e reforçando o impacto das iniciativas estratégicas implementadas ao longo do ano. O movimento de recuperação foi puxado sobretudo pela Centauro, que apresentou crescimento de dois dígitos em suas vendas — tanto em lojas físicas quanto no canal digital — enquanto a Fisia voltou a mostrar tração no atacado (varejo B2B), mesmo em um trimestre ainda marcado pela volatilidade cambial, que pressionou o custo dos produtos importados.
Ainda que o lucro líquido ajustado tenha recuado 14 por cento a/a, para 103,8 milhões de reais, entendemos que o trimestre reflete mais um ciclo de transição do que uma deterioração estrutural do negócio.
A Centauro permaneceu como principal destaque, com receita líquida de 1,0 bilhão de reais (+15 por cento a/a) e velocidade de vendas robusta, impulsionada por maior sortimento, ganho de escala nas categorias estratégicas e evolução na taxa de conversão das lojas. O desempenho físico (+13 por cento a/a) seguiu beneficiado pela adição de vendedores, principalmente no segmento de calçados (categoria que responde por ~50 por cento das vendas), enquanto o digital acelerou 20 por cento a/a em meio a uma oferta mais ajustada e à ampliação da jornada multicanal (troca em loja, retirada e maior integração com sellers parceiros). Esses fatores se traduziram em ganho de volume (+11 por cento a/a) e reforço de posicionamento, embora o preço médio tenha sofrido leve pressão, coerente com a estratégia comercial e com promoções pontuais visando o 4T.
Na operação Fisia, distribuidora oficial da Nike no Brasil, o trimestre trouxe sinais mais claros de normalização. A receita líquida alcançou 1,1 bilhão de reais (+9 por cento a/a), com o atacado exibindo forte crescimento (+28 por cento a/a) e compensando a performance mais moderada das lojas próprias e do canal digital. O pipeline de lançamentos em categorias prioritárias — como running (corrida) e futebol — também contribuiu para elevar o giro e apoiar a demanda, sobretudo com a chegada de novos modelos da linha Vomero, Structure e camisas licenciadas. Contudo, o impacto cambial ainda pressionou o custo dos produtos importados, levando a uma compressão mais relevante da margem bruta da unidade, que terminou o trimestre em 40 por cento (–5,2 p.p. a/a). Apesar da pressão, entendemos que o ciclo de reorganização comercial da Fisia está sendo bem executado e tende a mostrar resultados mais evidentes a partir de 2026.
Quando avaliamos a evolução das margens consolidadas, o trimestre mostrou algum enfraquecimento em rentabilidade, reflexo direto de dois vetores: (i) maior peso das vendas de produtos importados da Fisia em um ambiente de câmbio desfavorável e (ii) aumento da participação do atacado, que naturalmente tem margens inferiores. A margem bruta consolidada recuou para 47,4 por cento (–2,9 p.p. a/a), enquanto o EBITDA ajustado atingiu 169 milhões de reais (–16 por cento a/a), levemente abaixo do nosso cenário base. O lado positivo é que as despesas operacionais permaneceram sob controle, e a empresa conseguiu amortecer parte do impacto com incentivos fiscais de ICMS tanto no varejo físico quanto no atacado da Fisia — benefícios que ainda serão mais visíveis no 4T25.
O lucro líquido ajustado foi de 103,8 milhões de reais (–14 por cento a/a), com a margem líquida recuando para 5,4 por cento (–1,4 p.p.). O aumento da necessidade de capital de giro — natural em um trimestre que antecede o pico do 4T — elevou a dívida líquida para 674 milhões de reais (+16 por cento a/a), levando a alavancagem financeira para 0,94x EBITDA, ainda em patamar confortável e dentro da política de capital da companhia. Do ponto de vista estrutural, vemos a expansão de lojas reformadas, o lançamento de unidades G6 e a modernização das Nike Stores como investimentos consistentes para o ciclo de 2026/2027, mas reconhecemos que esse movimento adiciona alguma volatilidade de capital no curto prazo.
E Eu Com Isso?De forma geral, o 3T25 mostrou que a SBF segue com boa qualidade de execução e capacidade de crescer acima do setor, tanto via Centauro quanto via Fisia. O crescimento de volumes, a retomada do atacado, o avanço de categorias complementares e a melhoria do sortimento são sinais positivos para o próximo ciclo, reforçando que o core business permanece robusto. Por outro lado, a pressão de margens — especialmente na Fisia — e o impacto cambial sobre o custo das importações exigem atenção, assim como o ritmo de normalização do capital de giro até o fim do ano. Para o curto prazo, os principais gatilhos são: desempenho do 4T25 (Black Friday + Natal), materialização dos ganhos fiscais recém-implementados e aceleração das vendas multicanal.
Mesmo diante do trimestre misto em rentabilidade, mantemos visão construtiva sobre a tese de SBFG3, sustentada pela combinação de escala, portfólio multimarcas, integração com a Nike e capacidade comprovada de execução em varejo esportivo. Com a continuidade da modernização da rede, maior penetração digital, expansão de marcas próprias e normalização da dinâmica cambial, vemos espaço para recuperação gradual das margens e criação de valor no médio prazo, embora reconheçamos que o curto prazo ainda pode apresentar volatilidade.
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