
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) inicia nesta terça-feira, (04) a penúltima reunião deste ano para definir a taxa básica de juros, a Selic. A expectativa majoritária do mercado financeiro, com 96,25 por cento de probabilidade segundo as opções de Copom negociadas na B3, é de manutenção da taxa nos atuais 15 por cento ao ano, patamar que se mantém desde junho e é o mais elevado desde julho de 2006.
A autoridade monetária deve adotar uma postura cautelosa, mantendo o atual nível de juros enquanto monitora a desaceleração da inflação e a evolução do cenário fiscal. As indicações do Relatório Focus e a manutenção da bandeira tarifária vermelha para novembro devem enfraquecer as expectativas de corte nas taxas.
O resultado da reunião será divulgado na quarta-feira (05), após o fechamento dos mercados. A atenção dos investidores está menos na decisão sobre a Selic, que já é esperada, e mais no tom do Comunicado que acompanhará o anúncio. Há expectativa de que o texto possa trazer alguma sinalização sobre o momento em que o BC pode iniciar a redução dos juros.
Há justificativas para isso. Nas últimas semanas, as expectativas de inflação medidas pelo Boletim Focus vêm recuando de forma consistente. O relatório divulgado nesta segunda-feira (3) mostrou que as projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2025 caíram pela sexta semana seguida. No entanto, desta vez a queda foi marginal, passando de 4,56 por cento para 4,55 por cento. E ao contrário do que ocorreu nas três últimas semanas, as estimativas para o IPCA de 2026 não se alteraram, permanecendo em 4,20 por cento.
Além da desaceleração na expectativa de queda, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou na sexta-feira (31) a manutenção da bandeira tarifária de energia elétrica no patamar vermelho 1 em novembro, frustrando as expectativas de recuo para o nível amarelo. Isso impacta as projeções de inflação para os próximos meses, pois as estimativas agora são de que só em 2026 haverá a volta para o patamar verde.
Por isso mesmo não há garantias de que o Copom indique um corte imediato nos juros. A avaliação predominante entre as instituições financeiras é que o Banco Central vai preferir aguardar a consolidação da tendência de queda da inflação e também avaliar a situação fiscal. O comportamento dos preços administrados, como energia e combustíveis, e o impacto das recentes revisões orçamentárias sobre as contas públicas ainda geram cautela entre os formuladores de política.
A taxa Selic em 15 por cento é vista como elevada em termos reais. Com a inflação projetada para os próximos meses pouco acima de 4 por cento, a projeção de juro real supera 9 por cento, um dos mais altos entre as principais economias emergentes. Essa diferença tem contribuído para manter o real valorizado e atrair fluxo de capitais externos, mas também restringe a atividade econômica e pode afetar a qualidade do crédito.
A ata da reunião, prevista para ser publicada na terça-feira (11), deverá detalhar a avaliação do Comitê sobre a trajetória dos preços e as condições para uma futura redução dos juros. Analistas esperam que o documento traga mais clareza sobre o balanço de riscos, especialmente em relação à política fiscal e ao cenário internacional. A recente valorização do dólar e a expectativa de manutenção dos juros elevados nos Estados Unidos por mais tempo são fatores que ainda pesam sobre a estratégia do BC.
E Eu Com Isso?
A partir desta segunda-feira a B3 altera seu horário de negociação devido ao fim do horário de verão nos Estados Unidos. Por aqui, os negócios no mercado a vista passam a começar às 10h00 da manhã em vez das 9h00, e se encerram às 18h00 em vez das 17h00. A semana começa com os mercados em alta na Ásia e na Europa e com um leve avanço nos contratos futuros dos principais índices americanos no pré-mercado. E as cotas do Exchange Traded Fund (ETF) EWZ iShares MSCI Brazil estão em leve alta, indicando uma tendência de valorização das ações. No entanto, o mercado tende a ser volátil devido às incertezas no campo fiscal.
As notícias são positivas para a Bolsa em um cenário de volatilidade
Gerdau (GGBR4) divulga resultados do 3T25 em meio a concorrência chinesa
A Gerdau (GGBR4) divulgou recentemente os resultados do 3T25, mostrando desempenho alinhado com as expectativas do mercado, embora ainda impactado por desafios globais e domésticos. A receita líquida da companhia atingiu cerca de 18 bilhões de reais, um crescimento moderado em relação ao mesmo período do ano anterior, impulsionado principalmente pelo aumento nas vendas.
Esse crescimento, no entanto, foi negativamente compensado pelo aumento nos custos operacionais, que alcançaram 15,8 bilhões de reais. Isso reduziu o lucro bruto, refletindo as pressões que a indústria enfrenta, tanto em termos de custos quanto na concorrência externa.
O EBITDA da Gerdau foi de 2,7 bilhões de reais, com margem de 15,2 por cento, indicando que, apesar do aumento dos custos, a empresa conseguiu manter uma boa geração de caixa. Quando analisamos as divisões da companhia, observamos que a maior parte do resultado operacional foi gerada nas operações nos Estados Unidos, seguida pelas unidades brasileiras e pelo restante da América do Sul. Isso evidencia a importância da diversificação geográfica da companhia, que busca equilibrar mercados mais maduros e oportunidades em expansão.
No Brasil, a companhia enfrenta pressão do aço importado da China, que representa cerca de 30 por cento do mercado doméstico. Segundo a liderança da Gerdau, a empresa já atingiu limites na busca por competitividade frente aos preços mais baixos do aço importado, o que tem levado a ajustes operacionais, cortes de turnos e priorização de investimentos estratégicos.
Entre eles, destaca-se o ramp-up da linha de bobinas a quente na planta de Ouro Branco, aumentando a capacidade produtiva em 250 mil toneladas por ano, e a construção de uma unidade de downstream nos Estados Unidos voltada ao setor de energia solar.
A companhia manteve disciplina financeira mesmo em um cenário desafiador. A dívida líquida encerrou o trimestre em 8,8 bilhões de reais, com alavancagem controlada, em 0,81 vez sobre o EBITDA. Já o lucro líquido apresentado foi de 1,1 bilhão de reais, com fluxo de caixa livre positivo em 1 bilhão de reais, ainda que inferior ao registrado no ano passado, os números reportados pela companhia demonstram que a empresa tem sido resiliente em um cenário bastante desafiador, em um momento de concorrência intensa no mercado siderúrgico brasileiro.
E Eu Com Isso?
Para 2026, a Gerdau projeta investimentos de aproximadamente 4,7 bilhões de reais, uma redução em relação aos investimentos planejados para 2025. Essa estratégia reflete cautela diante da competitividade no mercado brasileiro e da volatilidade global, mantendo o foco na eficiência operacional e na geração de valor sustentável.
Os resultados da Gerdau continuam resilientes, equilibrando crescimento de receita, investimentos estratégicos e gestão de custos em um ambiente complexo. A empresa mantém uma visão equilibrada para o médio e longo prazo, apoiada em sua sólida operação, histórico de geração de valor e capacidade de adaptação. Com retorno estimado via proventos em torno de 5 por cento e múltiplos de mercado compatíveis com seus fundamentos, a Gerdau segue sendo uma companhia estratégica para quem busca estabilidade e geração de caixa consistente, mesmo diante de pressões competitivas e incertezas econômicas.
Primeiros frutos da migração regulatória impulsionam caixa e reforçam tese de valor da Vivo (VIVT3)
A Telefônica Brasil / Vivo (VIVT3) encerrou o 3T25 reforçando uma narrativa que vai além do desempenho operacional habitual e avança para um capítulo estratégico de liberação de valor: a monetização dos ativos legados da concessão de telefonia fixa. O call de resultados deu ênfase especial ao impacto dessa transição regulatória, que efetivamente abre uma nova frente de geração de caixa para a companhia. A migração para o regime de autorização — fruto de um processo regulatório que vinha sendo construído há anos — já se traduziu nos primeiros ganhos tangíveis, com 232,4 milhões de reais capturados no trimestre apenas com a venda de cabos de cobre e imóveis que estavam vinculados ao antigo modelo de concessão.
Durante a apresentação, a gestão foi objetiva ao destacar o caráter recorrente e previsível dessa nova avenida de valor. Embora os ciclos de alienação de imóveis possam gerar efeitos mais concentrados e de magnitude variável trimestre a trimestre — como apontado pelo CEO Christian Gebara — a monetização do cobre tende a seguir ritmo crescente e mais uniforme ao longo do tempo. O comentário reforça a visão de que a linha de ganhos regulatórios não deve ser interpretada como um evento isolado, mas como componente estável e incremental da geração de valor da empresa nos próximos anos. Ou seja, além do core business — móvel de alta qualidade, fibra com penetração crescente e verticais digitais em expansão — a Vivo passa a contar com um “motor extra” de retorno financeiro.
Outro ponto relevante do call foi a reafirmação da estimativa divulgada anteriormente de que o processo de migração regulatória pode destravar cerca de 4,5 bilhões de reais até 2028, sendo aproximadamente 3 bilhões de reais em cobre e 1,5 bilhão de reais em imóveis. Trata-se de um volume expressivo, sobretudo considerando que esses ativos, por anos, serviram mais como passivo operacional e regulatório do que como fonte de retorno. Nesse sentido, a empresa reforçou que a conversão desses ativos em caixa não apenas otimiza a estrutura de capital, como também reduz custos associados à manutenção e obrigações da concessão — efeitos duplos sobre o balanço e a rentabilidade.
E Eu Com Isso?
Do ponto de vista estratégico, o timing dessa monetização é particularmente favorável. O ciclo de investimentos intensos em fibra está avançando para sua fase madura. Ao mesmo tempo, a expansão em serviços digitais, cloud e IoT segue acelerada e já representa 11,7 por cento da receita, reforçando a diversificação e resiliência do perfil financeiro. A combinação entre geração operacional crescente, capex racionalizado e entrada incremental de recursos provenientes da alienação de ativos cria um contexto extremamente fértil para reforço do retorno ao acionista e captura de valuation potencial. Em síntese, a Vivo está monetizando o legado enquanto escala as plataformas que definem seu futuro.
Em conclusão, o call de resultados de 3T25 deixou claro que a Telefônica Brasil está apenas no início do que promete ser um ciclo expressivo de liberação de valor através da venda de cobre e imóveis ligados à antiga concessão — uma oportunidade de convergência entre mudança regulatória, eficiência de capital e geração de caixa. Ao mostrar previsibilidade no processo de monetização, disciplina operacional e visão de longo prazo, a companhia reforça sua posição como tese sólida e estratégica no universo de telecom, com gatilhos claros para valorização: aceleração da fibra, expansão dos serviços digitais e um pipeline de até 4,5 bilhões de reais a serem capturados até 2028. O cenário descrito no call consolida o racional de que a Vivo segue bem-posicionada para unir estabilidade operacional, crescimento de novos negócios e retorno consistente ao acionista.
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